De 26 anos, neta do Imperador visita comunidade nipônica em cinco estados do Brasil
POR Heloísa Traiano
Com a delicadeza que faz lembrar uma das tradicionais bonecas japonesas, a princesa Mako de Akishino fez nesta quarta-feira uma série de simbólicas visitas durante a sua passagem pelo Rio. Na primeira etapa da sua viagem de 12 dias pelo Brasil, a filha do segundo príncipe na fila de sucessão ao trono do Japão plantou uma muda de pau-brasil no Jardim Botânico antes de se dirigir ao Corcovado para encontrar-se com membros da Arquidiocese da cidade. Para a comunidade nipônica instalada no território carioca, estimada em cerca de 10 mil pessoas, a recepção para marcar os 110 anos da imigração japonesa ao Brasil traz prestígio e fortalece o laço com a História da sua terra de origem.
Neta do Imperador Akihito, de 84 anos, que já anunciou que deixará o cargo em 2019 pela sua idade avançada, Mako tem 26 anos. Vestida em traje claro de mangas longas, caminha com serenidade e elegância, com passo quase saltitante, mesmo que no meio da comitiva de mais de 20 pessoas distribuídas em sete carrinhos motorizados que a acompanharam até o jardim japonês dentro do Jardim Botânico. Sorridente, porém silenciosa, lançou um pouco de terra com uma pá e, sob aplausos, regou uma pequena muda de pau-brasil produzida a partir de um clone genético daquela plantada por Akihito em 1967 no então estaleiro Ishikawajima, atualmente o estaleiro Inhaúma, no bairro do Caju.
A princesa de voz baixíssima por pouco não se fazia inaudível enquanto conversava com o presidente da Associação Nikkei do Rio de Janeiro, Minoru Matsuura, na visita de pouco menos de dez minutos ao jardim, em que não fez mais declarações. Mas o clima de leveza se provou perceptível, sobretudo quando Mako cheirou flores indicadas pelo seu anfitrião como muito agradáveis.
— Ela ficou muito interessada no plantio das árvores e disse que vai retornar ao Japão para contar aos familiares que esteve aqui — conta Matsuura sobre a conversa que teve com a princesa durante a visita pelo jardim. — Para a comunidade japonesa, é muito importante este tipo de intercâmbio. Há, do outro lado do mundo, uma alteza que é venerada, inclusive pela nossa colônia daqui, que gosta muito desta tradição. A visita traz à comunidade certo prestígio e muito orgulho, porque não é todo lugar que recebe uma princesa.
Criado em 1935 e depois reinaugurado em 1995 pela Princesa Sayako, filha do Imperador Akihito, o jardim japonês já recebeu diversas visitas ilustres da monarquia mais antiga do mundo — incluindo a do atual monarca e de sua esposa, a Imperatriz Michiko, que estiveram no Brasil em 1997 por 10 dias. O príncipe Fumihito, pai de Mako, em 1988 também plantara uma planta de pau-brasil no mesmo local. As árvores brasileiras do jardim se misturam com bonsais, bambuzais, dois lagos artificiais e plantas importadas do Japão, tais como a cerejeira, azaleias, buquês de noiva e salgueiros chorões, no meio de construções específicas da arte de jardinagem japonesa.
Mais tarde, a princesa foi recebida pelo monsenhor Sergio Costa Couto no Corcovado. E no fim da tarde visitou a Associação Nikkei do Rio de Janeiro, no Cosme Velho.
No Corcovado, princesa Mako foi recebida para conhecer ponto simbólico da cidade em seu primeiro dia de visita ao Brasil – Agência O Globo
PRINCESA VISITA 14 CIDADES PELO BRASIL
Mako chegou na terça-feira ao Brasil e ficará até 28 de julho, passando por 14 cidades dos estados de Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Pará e Amazonas. Os eventos da sua agenda focam em conectar-se com a grande comunidade nipônica do Brasil — que, iniciada em 1908 com o desembarque de 781 pessoas de famílias agricultoras no porto de Santos, hoje é estimada em 1,5 milhão de membros. Na capital paulista, concentram-se cerca de 400 mil nikkeis, designação atribuída a quem tem ascendência japonesa, sendo o bairro da Liberdade o maior reduto japonês fora do Japão. A segunda maior comunidade encontra-se no Paraná e, por isso, a princesa deverá visitar a cidade de Maringá na sexta-feira.
A família imperial do Japão é considerada a mais antiga do mundo, remontando ao século VII a.C.. O imperador Akihito é o 125º de uma dinastia iniciada há 2.600 anos, em que exerce a mais alta autoridade da religião xintoísta. Apesar de não ter poder político, o atual monarca vem desempenhando um papel importante na recuperação japonesa após a Segunda Guerra Mundial e trouxe a família real japonesa ao mundo moderno, sendo conhecido como um imperador humano.
Mas, mesmo assim, a vida da princesa Mako, graduada em Artes e Herança Cultural, continua permeada pelas rígidas restrições de uma tradicional dinastia. Em 2017, ela anunciou que abriria mão da realeza para se casar com o namorado plebeu, Kei Komuro, seu colega de universidade. A cerimônia a forçaria a abdicar do título real, conforme a tradição japonesa, e estava programada para novembro deste ano. Mas em fevereiro, um mês antes da data prevista para o noivado, ela acabou adiando o casamento para 2020, por “preparação insuficiente dos noivos”, segundo a agência imperial japonesa — o que levantou especulações de que o relacionamento estaria estremecido.
Além disso, embora seja a filha mais velho de Fumihito, que é o segundo na linha de sucessão ao Trono de Crisântemo, já que o futuro imperador não tem filhos, ela nunca poderia ocupar o trono simplesmente por ser mulher. O terceiro lugar na fila fica para o irmão mais novo de Mako, príncipe Hisahito, que nasceu em 2006. Legisladores conservadores são contra uma lei que permitisse mulheres sucederem ao posto mais alto da monarquia.