Antiga colônia francesa, o país do continente africano alcançou independência em 1 de agosto de 1960, como República de Daomé. Em 1975, adotou o atual nome de Benim em razão de o território ser banhado a sul pela Baía de Benim. A equipe da revista Embassy Brasília aproveitou a data especial para revelar um pouco daquela nação. Em entrevista exclusiva, o novo embaixador Boniface Vignon falou da cultura, do comércio bilateral, das reformas e projetos prioritários do governo de Benin. Há apenas dois meses à frente da sede diplomática no Brasil, ele disse trabalhar pelo fortalecimento dos laços entre os dois governos.
Embassy Brasília- O que representa para o senhor a data de 1º de agosto?
Boniface Vignon: É a nossa festa nacional e uma fonte de orgulho. Mas o que nos deixa ainda mais orgulhosos é que somos um dos raros países no continente que preservou sua coesão nacional. Nós nunca vivenciamos conflitos internos nem guerra civil. Certamente, o país vivenciou turbulências políticas, mas nunca nos enfrentamos um ao outro, pegando em armas.
2- O nome de Benim não é muito conhecido da maioria dos brasileiros e, no entanto, é um país com quem o Brasil tem uma história particular. Em que partedo continente se encontra o Benin e o senhor poderia nos apresentá-lo?
Boniface Vignon: Ah! O Benim, esse belo país da África Ocidental, pequeno no tamanho, mas grande no valor de seus homens e de sua cultura. Considerado o “bairro latino da África”, por causa do nível intelectual muito apreciado de seus cidadãos, tem como vizinho a leste, a Nigéria, a oeste o Togo e, ao norte, Burquina Faso e Níger. O oceano Atlântico percorre toda a costa sul de nosso país. No plano político, Benim experimentou diversas ideologias que não corresponderam às expectativas (democracia parlamentar, socialismo científico, marxismo-leninismo com partido único…e assim por diante.Mas, em 1990, numa Conferência Nacional, os beninenses de todas as tendências encontraram, por si mesmos, seu caminho ao optar pelo multipartidarismo integral “à maneira beninense”, com um regime presidencial forte. O que significa que nós não temos Primeiro-Ministro chefe de governo, mas é o Presidente da República que assume a responsabilidade de conduzir a Ação Governamental. É essa Constituição que garante a nosso país sua estabilidade política e que está em vigor hoje.
Embassy Brasília – Desde abril de 2016, o Benin tem um novo Presidente que abriu caminho para grandes reformas. Em que setores essas reformas estão sendo feitas?
Boniface Vignon : Desde a independência, nossa economia está baseada essencialmente na fiscalidade. Certamente, temos um setor agrícola que nos permitiu ser auto-suficientes, embora importemos muito certos produtos, tais como o trigo e o arroz que não produzimos, mas que consumimos em grande quantidade. O porto de Cotonou é, do mesmo modo, um valor agregado à nossa economia, já que nos permite, entre outras coisas, fazer a reexportação. Hoje, o que estamos fazendo é transformar a estrutura de nossa economia. Para que você possa entenda melhor, vou pegar o exemplo de um avião que deve ligar um ponto A a um ponto B. A primeira fase é, de início, fazer a checagem mecânica do avião e, em seguida, embarcar os passageiros. Hoje, a checagem, ou seja, a vistoria mecânica está feita e já estamos taxiando para decolar. Nosso objetivo é decolar, atingir nossa velocidade de cruzeiro, seguir nossa viagem sem turbulência para, por fim, aterrissar suavemente. Essa é a ambição do Presidente Patrice TALON que criou o PAG (Programa de Ação Governamental). Esse Programa se articula em torno de quarenta e cinco (45) projetos modelos e de duzentos e cinqüenta (250) projetos prioritários. Aliás, as empresas brasileiras que têm experiência em todas essas áreas são bem-vindas em Benim. Saiba também que elas têm uma vantagem sobre as outras, pois temos uma ligação especial com seu país.
Embassy Brasília – …Mas hoje o Brasil não desenvolve uma cooperação à altura da ambição ostentada por Benim?
Boniface Vignon : Nossa cooperação é boa e exemplar, mas merece ser ampliada; o que requer de nós muito trabalho.
Embassy Brasília – O senhor afirma que as empresas brasileiras são bem-vindas em Benim. Há facilidades que seu país possa oferecer a essas empresas?
BV: Nosso ambiente de negócios é saudável. Estamos numa zona monetária estável e as empresas podem repatriar seus lucros. Mas o importante, a saber, é que Benim está numa zona de livre-comércio, chamada CEDEAO (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental), que conta com quinze (15) países. É o equivalente no Brasil ao MERCOSUL. Entenda bem que o Benim deve ser considerado como “a porta de entrada” para as empresas brasileiras, e que não devem ver Benim como um mercado de dez milhões de habitantes, mas de preferência como um mercado de trezentos milhões de consumidores.
Embassy Brasília – Quais são as perspectivas de Benim em termos de cooperação com o Brasil?
Boniface Vignon : “O Brasil começa em Benim”…É uma maneira de falar, mas também uma realidade histórica. Meu desejo é que cada brasileiro pise no solo de Benim pelo menos uma vez na vida. Também é desejável que os laços de amizade, de fraternidade e de cooperação vantajosa para os dois países se consolidem para a felicidade dos nossos dois povos.
Tradução: Jackson Mariano Lima