Magda Robalo acredita que a cooperação entre África e a União Europeia (UE) deve sair da pandemia de covid-19 reformulada e reforçada para que os dois blocos consigam responder melhor a futuras ameaças globais de saúde, defenderam hoje peritos dos dois continentes.
“Quando falamos de laços entre a União Europeia e África, regressar ao normal após a crise de covid-19 simplesmente não é uma opção”, defendeu Magda Robalo, alta-comissária para a Covid-19 na Guiné-Bissau, citando o representante da União Africana para a União Europeia, o economista guineense Carlos Lopes.
Magda Robalo falava durante a conferência sobre saúde global organizada pelo Governo português, no âmbito da presidência do Conselho da União Europeia, num painel sobre a saúde global em África.
“A relação tem de ser repensada e reformulada”, acrescentou a também ex-ministra da Saúde guineense, sustentando que a “receita para uma parceria de sucesso” entre África e a UE tem de “incluir o reconhecimento de que África é o vizinho mais próximo da Europa”. “Os dois vizinhos partilham história, proximidade, interesses e também ameaças de saúde. Esta deve ser a ideia fundadora para uma parceria abrangente com África”, sublinhou.
Manifestando-se convencida que os dois blocos poderão trabalhar juntos para melhorar a resiliência dos sistemas de saúde africanos, Magda Robalo sublinhou que o trabalho a fazer vai muito além da saúde.
“É imperativo que a União Africana e a União Europeia trabalhem em conjunto e melhor em áreas além da saúde porque não há economias fortes sem boa saúde e não há boa saúde sem populações bem educadas e economias fortes”, defendeu.
Intervindo na mesma conferência, a diretora regional para África da Organização Mundial de Saúde (OMS), Matshidiso Moeti, destacou os muitos desafios que ainda se colocam aos sistemas de saúde africanos, apesar dos progressos alcançados, e sublinhou o papel crucial da União Europeia para atingir as metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (Agenda 2030).
“A pandemia demonstrou que as ameaças à saúde podem paralisar vidas e economias e juntos podemos usar esta experiência para conseguir maior financiamento para a ajuda a nível continental e nacional, tanto de recursos internos como na priorização destas necessidades por parte dos países na sua relação com a UE”, disse.
Matshidiso Moeti assinalou que as respostas à covid-19 e aos surtos de Ébola em África revelaram os “benefícios de intervenções preventivas de alto impacto, como a vacinação global”, que combinada com o reforço dos sistemas de saúde é fundamental para promover a resiliência no continente.
Por seu lado, o vice-diretor da União Europeia para as Parcerias Internacionais, Martin Seychell, deixou garantias do compromisso europeu na cooperação com África.
“A UE e a África têm um interesse comum em promover os investimentos nos sistemas de saúde, no desenvolvimento de infraestruturas e na capacidade para lidar com surtos de doenças”, disse, adiantando que a Europa quer “melhorar o seu apoio aos países africanos”.
“A pandemia de covid-19 renovou o interesse comum na segurança sanitária e enfatizou a importância de ter em funcionamento sistemas de saúde sustentáveis e resistentes em ambos os continentes”, disse.
Fazendo um ponto de situação sobre a ajuda europeia ao continente africano, Martin Seychell, adiantou que, entre 2014 e 2020, a União Europeia apoiou o setor da saúde em 17 países de baixo rendimento, principalmente em África, com 1,3 mil milhões de euros, a que se somaram 1,3 mil milhões de euros investidos em organizações globais de saúde como a Gavi, a Covax ou a OMS.
De acordo com o responsável europeu, a UE assumiu em julho um compromisso de destinar 300 milhões de euros para o Fundo Global de Luta contra a SIDA, Malária e Tuberculose, bem como 555 milhões de euros para várias agências das Nações Unidas.
“Estas intervenções financiadas pela UE têm produzido resultados impressionantes. Entre 2013 e 2017, o financiamento da UE garantiu que mais de 19 milhões de nascimentos fossem assistidos por pessoal de saúde qualificado, que mais de 13 milhões de crianças fossem totalmente imunizadas, que 57 milhões de mulheres tivessem acesso a contracetivos e que 11 milhões tivessem tratamento para o VIH”, elencou.
“Claro que estes esforços têm de ser mantidos e intensificados”, disse. Mais de 30 oradores, entre governantes, decisores políticos, peritos e representantes das instituições europeias, participam hoje numa conferência virtual sobre o reforço do papel da União Europeia (UE) na saúde global.
A conferência, que decorre no âmbito da presidência portuguesa do Conselho da UE, abordará temas como “A saúde global em tempo de pandemia, as alianças estratégicas UE-África, nomeadamente no acesso a vacinas, e a promoção da cobertura universal em saúde”.