Segundo o documento divulgado pelo Itamaraty, o governo lamenta profundamente a perda de vidas humanas dos dois lados. “O Brasil conclama as partes a cessarem imediatamente as hostilidades, respeitarem mutuamente sua identidade nacional e religiosa e a retomarem as negociações nos âmbitos apropriados”.
O confronto entre Armênia e Azerbaijão já causou ao menos 60 mortes nos dois primeiros dias de ataque. No domingo (27), os dois países e a região em conflito declararam lei marcial, o que permite a lideranças militares assumirem o posto de autoridades civis. O embate também tem um componente religioso, já que a Armênia tem maioria cristã e os azeris são predominantemente muçulmanos.
A escalada da violência entre as duas ex-repúblicas soviéticas reavivou as preocupações com a estabilidade no Cáucaso, região disputada há séculos e alvo de atenção internacional por sua importância no transporte de gás e petróleo para os principais mercados mundiais. O conflito entre armênios e azeris também opõe duas das principais potências regionais: a Rússia tem uma aliança de defesa com a Armênia, e a Turquia apoia o Azerbaijão.
Turquia – Nesta segunda (28), o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, exigiu que a Armênia se retirasse das terras azeris e afirmou que é hora de acabar com a crise de Nagorno-Karabakh. A região separatista, palco de décadas de confrontos, fica dentro do Azerbaijão, mas é administrada por armênios. “Quando a Armênia deixar o território que ocupa, a região encontrará paz e harmonia novamente”, disse Erdogan. “Qualquer outra demanda ou proposta não seria apenas injusta e ilegal, mas significaria continuar a consentir com a Armênia.” O Kremlin pediu um cessar-fogo imediato e a China instou todos os envolvidos a agirem com moderação.
O parlamento da Armênia, por sua vez, condenou a investida dos azeris e a classificou como um “ataque militar em grande escala” realizado com ajuda da Turquia, que estaria “lutando lado a lado” com os azeris. Para os armênios, o envolvimento de Ancara pode desestabilizar a região. Segundo o embaixador armênio na Rússia, ouvido pela agência de notícias Interfax, o governo turco deslocou mais de 4.000 homens do norte da Síria para apoiar a investida azeri em Nagorno-Karabakh.
O Azerbaijão, entretanto, nega que a Turquia esteja participando da luta. Segundo seu ministério das Relações Exteriores, seis civis azeris foram mortos e 19 ficaram feridos. De acordo com a agência de notícias russa Interfax, um representante do ministério da Defesa da Armênia disse que o número de civis feridos em seu país ultrapassa 200 registros.
Autoridades de Nagorno-Karabakh relataram que mais 28 de seus soldados foram mortos. No domingo, quando o Azerbaijão atacou, foram confirmadas 16 mortes e mais de 100 feridos no território separatista.
A Interfax também citou o ministério da Defesa azeri, segundo o qual seus militares ocuparam várias regiões estrategicamente importantes perto da vila de Talish, em Karabakh. “Mísseis, artilharia e ataques aéreos estão sendo aplicados nas posições do inimigo, o que o força a render as posições mantidas”, disse à agência russa o porta-voz do ministério, Anar Evyazov.
A HISTÓRIA DO CONFLITO
Nagorno-Karabakh (nome que pode ser traduzido como “Alto Karabakh”) é uma região de montanhas e florestas, ocupada por pessoas de ligações étnicas com a Armênia.O território, de 11 mil km² (duas vezes o Distrito Federal), tem cerca de 140 mil habitantes e passou por muitas disputas ao longo da história.
Em 1813, os persas concederam a região para o Império Russo. No século 20, após a Revolução Comunista, o governo soviético determinou que a área ficaria dentro do território do Azerbaijão (parte da União Soviética), mas com certa autonomia, o que acalmou o conflito por várias décadas. Com o colapso da União Soviética, o embate voltou. Armênia e Azerbaijão se tornam países independentes. Nagorno-Karabakh se recusou a fazer parte do Azerbaijão e começou uma guerra em 1991, na qual a região separatista recebeu apoio militar da Armênia.
Em 1992, Nagorno-Karabakh declarou independência, mas o gesto não teve reconhecimento internacional. Apesar disso, uma espécie de governo local se formou, e a região busca a separação até hoje. Após milhares de mortos e centenas de milhares de desalojados, a guerra foi pausada por um cessar-fogo em 1994. Forças de Nagorno-Karabakh controlam partes do território, inclusive uma porção que permite a ligação territorial com a Armênia, mas seguem cercados por forças do Azerbaijão.
De modo geral, o cessar-fogo tem sido respeitado, mas tensões eclodem de tempos em tempos. O último embate grave, em 2016, foi mediado por Moscou, que trata o tema como um assunto doméstico. Em julho, a Rússia fez uma megamobilização militar de surpresa, após enfrentamentos entre Armênia e Azerbaijão deixarem ao menos 15 mortos, incluindo um civil.O exercício militar russo foi um dos maiores do tipo de que se tem notícia no país e envolveu 150 mil soldados.