Liz Elaine Lôbo
Produção: Elna Souza
A Alemanha conta bem menos mortes que os vizinhos. Isso porque fez muitos testes no começo da crise, detectou e isolou casos, freando o contágio. Embora as medidas restritivas comecem a ser flexibilizadas, a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, já avisou que país não superou a crise. Em discurso, na semana passada, disse que era “como se a Alemanha caminhasse sobre uma fina camada de gelo”. Em entrevista exclusiva à revista Embassy, o embaixador alemão no Brasil, Georg Witschel dá um panorama atual do país que teme uma segunda onda de coronavírus. De acordo com o diplomata, é preciso evitar o clima de já ganhou. A partir da próxima semana, as máscaras também serão obrigatórias em toda a Alemanha, quando algumas escolas começaram a reabrir. Witschel informou que a indústria de exportação tem sido particularmente afetada pela crise a produção alemã com uma queda de 37% em março. Leia agora a entrevista na íntegra
Embassy – A Alemanha tem sido exemplo para o mundo no controle da Covid-19 e acaba de anunciar ter contido a pandemia. Quais as medidas tomadas pelo governo que o senhor considera terem sido mais eficazes?
As medidas mais importantes tomadas pelo governo alemão são certamente a realização de testes em larga escala, as boas informações fornecidas pelo governo para a população, pois isso gera aceitação às normas impostas, incluindo um distanciamento social bem restrito, a coordenação estreita entre os níveis federal e estadual, além da solidariedade entre si. Na semana passada, o ministro da Saúde alemão anunciou sua avaliação de que a crise parece ser controlável no momento atual, já que o número de novas infecções diminuiu. Mas a Alemanha ainda não superou a crise.
Embassy – Segundo últimos dados, 1,7 milhões de cidadãos alemães já foram testados para saber se estão infectados com o coronavírus. Qual a importância dessa medida?
A realização de testes em larga escala, combinada com o isolamento social, é sem dúvida a melhor estratégia para conter a transmissão da Covid-19. Na Alemanha foi possível através dos testes, identificar o maior número de doentes o mais cedo possível e com isso isolá-los, além de testar as pessoas que tiveram contato com eles e colocá-las em quarentena.
Embasy – A Alemanha vai usar um aplicativo para rastrear a proximidade das pessoas e saber se estão expostas a um infectado. O senhor poderia explicar melhor como ele vai funcionar?
O Instituto Heinrich Hertz (IHH), um instituto alemão de pesquisa aplicada da associação de pesquisa Fraunhofer, informou que está trabalhando com outras organizações na Europa para desenvolver um aplicativo que permita que dados sobre a proximidade e a duração do contato entre as pessoas fiquem registrados por duas semanas em celulares. A ideia é manter as informações de forma anônima e sem a localização dos usuários. A utilização desse aplicativo para rastrear celulares com o objetivo de frear a disseminação do novo coronavírus só poderá ser feita de forma voluntária na Alemanha, respeitando as regras de sigilo de dados do país. O IHH deve em breve fornecer mais informações sobre o projeto.
Embassy – Pequenas lojas vão abrir nos próximos dias e também as escolas abrirão no início de maio na Alemanha. Podemos dizer que o pior já passou?
Ainda não estamos no fim da crise. O número de mortes está aumentando na Alemanha, embora, desde o início de abril, o registro de novos casos vem diminuindo lentamente. O governo alemão está agora fazendo de tudo para retardar ainda mais a propagação do coronavírus e dar novamente mais liberdade aos cidadãos, o mais cedo possível, com pequenos passos. Como resultado da dinâmica desacelerada da infecção, houve primeiro pequenos afrouxamentos esta semana, para que mais algumas lojas possam abrir novamente sob o cumprimento de normas especiais de higiene. No entanto, as restrições de contato continuarão a ser mantidas, assim como as restrições de entrada. A partir da próxima semana, as máscaras também serão obrigatórias em todo o país. Mesmo a retomada das aulas na escola só está ocorrendo gradualmente. A Alemanha está longe de uma normalização completa.
Embassy – Um país que já sofreu com guerras, submergiu e se fortaleceu. Quais foram as maiores perdas com essa pandemia?
Sem dúvidas, a humana, a perda de vidas é sempre a maior perda. Por trás de cada uma dessas mortes, há um indivíduo. As restrições atuais exigem muito da população. A grande maioria fica em casa e limita o contato com a família, colegas e amigos a chamadas telefônicas e de vídeo, as crianças não vão à escola. Tivemos perdas econômicas também. A indústria de exportação tem sido particularmente afetada pela crise, que atinge pontos de venda e diminui significativamente o comércio internacional. Segundo a federação de fabricantes alemães, a produção alemã caiu 37% em março, enquanto a demanda doméstica teve uma queda de 30%. Restaurantes, lojas e bares também tiveram que fechar suas portas durante o isolamento social. Para lidar com a crise, o governo lançou um plano de recuperação de bilhões de euros, incluindo medidas de garantia de empréstimos públicos e ajuda direta às empresas. É uma situação difícil que requer muitas decisões árduas, mas na qual se demonstra repetidamente que podemos lidar melhor com ela com solidariedade e humanidade.