Liz Elaine Lôbo e Súsan Faria
Produção: Elna Souza
Na Venezuela, com a população atingida pela hiperinflação por três anos, seis anos de recessão e frequentes cortes no fornecimento de água e eletricidade, pagar por máscaras, remédios e alimentos por vários dias em quarentena é um fardo pesado. Oficialmente, são apenas sete mortos, mas falta gasolina para ambulâncias e água nos hospitais. Para minimizar o problema, o país recebeu 300 toneladas de equipamentos da Rússia e, essa semana, outras 90 toneladas em doações da ONU para enfrentar pandemia do novo Coronavírus. Além dessa ajuda material, os venezuelanos ganharam, de organismos internacionais, a esperança de uma estabilidade política.
União Europeia, Estados Unidos, Canadá e o Grupo de Lima se manifestaram a favor de um governo interino para isso. “Nosso norte são eleições presidenciais livres, democráticas e transparentes, com observação internacional qualificada e sem Maduro”, explicou a embaixadora extraordinária da Venezuela no Brasil, Maria Teresa Belandria. Em entrevista exclusiva à revista Embassy, a diplomata fala da complicada situação no seu país onde, segundo ela, cerca de 10% da população deixou a Venezuela em busca de um novo futuro em outros países, inclusive 30 mil médicos. Belandria afirma que Juan Guaidó tem o apoio internacional de 60 países que o reconhecem como presidente. Leia agora a íntegra da entrevista.
Embassy – Como a senhora definiria a atual situação da Venezuela?
A situação é muito difícil porque, enquanto o regime de Nicolás Maduro permanecer no poder, não há como melhorá-lo. À complexa crise humanitária é adicionada a epidemia de COVID-19 em um sistema de saúde (fracassado), onde mais de 30 mil médicos deixaram o país, sem a capacidade de cuidar dos doentes. Mais de 10% da população deixou a Venezuela em busca de um novo futuro em outros países, o Brasil é o sexto destinatário de migrantes venezuelanos. Para que uma mudança ocorra e os venezuelanos retornem, é urgente mudar o regime, caso contrário a crise será ainda maior.
Embassy – Qual a posição da senhora em relação a proposta americana para um governo de transição?
A proposta original é de um governo interino e foi apresentada pelos representantes do presidente Juan Guaidó nas negociações de Barbados em 2019, mas o regime não a aceitou. Agora, os Estados Unidos a recomendam como uma maneira de alcançar uma solução pacífica e democrática para a grave crise de governança na Venezuela.
Embassy – O apoio da União Europeia, do Canadá e do Grupo de Lima para a resolução do problema na Venezuela também é importante?
É muito importante porque o apoio da comunidade internacional foi essencial para criar a pressão necessária que força a ditadura a negociar. Mais de 60 países reconhecem o Presidente Guaidó e, até o momento, mais de 50 endossam a proposta de um governo de emergência.
Embassy – A senhora é a favor de novas eleições no seu país? Houve realmente fraude eleitoral?
Nosso norte são eleições presidenciais livres, democráticas e transparentes, com observação internacional qualificada e sem Maduro. As autoridades eleitorais que hoje estão na vanguarda do processo não são confiáveis porque respondem à lógica do regime. Desde 2004, não há eleições credíveis na Venezuela. Portanto, uma vez nomeadas as novas autoridades, serão realizadas eleições livres, democráticas e transparentes, com a participação de todos os partidos políticos – hoje ilegais – sem presos políticos e com observação internacional.
Embassy – O que tem sido feito para apoiar os brasileiros que estão presos na Venezuela por causa do Coronavírus? Como está o controle da epidemia lá?
Apoiamos venezuelanos que estão presos no Brasil, dependendo de cada caso. Por exemplo, há pessoas que estavam em trânsito com destino final em outro país e as fronteiras foram fechadas. Fornecemos orientações: onde ficar, como acessar os programas de ajuda; Outros estavam de férias e não podem retornar à Venezuela. Nossa embaixada não tem recursos para repatriar ou fretar voos. O espaço aéreo foi fechado pelo regime de Maduro e, neste momento, a única maneira de chegar lá é por terra. Cada caso requer uma resposta e, através do correio e das redes sociais, fornecemos as informações necessárias. Estamos aqui para apoiar e ajudar nossos compatriotas.