Rodrigo Craveiro
Correio Braziliense
Há dois anos no posto de embaixador do Equador em Brasília, Diego Ribadeneira falou ao Correio sobre a situação em Guayaquil, onde imagens evídeos de corpos abandonados nas ruas começaram a circular nas agências de notícias e nas redes sociais. De acordo com o diplomata, o medo da população de se aproximar dos cadáveres de familiares e a falta de colaboração de hospitais e de necrotérios provocaram o problema. Ribadeneira acusou “uma campanha política perversa” que teria falsificado vídeos e os espalhado na internet para prejudicar o presidente Lenín Moreno. O embaixador admitiu que o país contabiliza 145 mortos e 3.368 infectados. Ontem, a reportagem do Correio conversou com a aposentada Carmen Márquez, 56 anos, cujo filho, Favio Joel Jaramillo Márquez, 27, morreu, na quinta-feira, em Guayaquil. “O corpo dele ainda está na casa de minha mãe, de 83 anos. Ela está sozinha e não sabe o que fazer. Telefonou para a polícia e ninguém foi buscá-lo”, desabafou. De acordo com Carmen, Joel não tinha nenhuma doença preexistente e morreu depois de sentir dores no corpo e apresentar as pernas inchadas. Ela suspeita de Covid-19. O embaixador equatoriano em Brasília disse que o governo montou uma força-tarefa para proporcionar um enterro digno e humano aos corpos.
O que ocorreu, de fato, com o sistema de saúde e o serviço funerário de Guayaquil, ante a crise envolvendo a Covid-19?
No início desta semana, houve problemas devido ao medo da população de entrar em contato com os falecidos e à falta de colaboração de médicos, hospitais e até necrotérios, devido à proibição de aglomerações.
Várias pessoas afirmaram ao Correio que corpos de familiares estariam à espera de remoção. Que resposta o governo do Equador daria a elas?
O governo formou uma Força-Tarefa Conjunta, composta por várias instituições, encarregada de remover os cadáveres de hospitais e casas e proporcionar-lhes um enterro digno e humano.
Algumas pessoas denunciam subnotificação dos casos de Covid-19 no Equador e, especialmente, em Guayaquil. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Isso nao é verdade. O próprio presidente Lenin Moreno pediu que a verdade dos números fosse transparente, mesmo que doessem. Relatórios diários são fornecidos à população.
Nas redes sociais surgiram vídeos de corpos queimados nas ruas, cadáveres em sacos plásticos e gente morrendo no meio da rua. O que é fato e o que é mentira nisso?
Você pode ver vídeos gravados no início da confusão, no fim da semana passada. Mas há outros vídeos falsificados, enviados por uma campanha política perversa, que tenta desestabilizar o governo. Milhões de notícias falsas foram detectadas, como em um vídeo contendo sacos pretos, o quais correspondiam a um vídeo gravado em Nova York, em um episódio passado. Essa campanha vem de indivíduos na Venezuela ou no México, que enviam centenas de mensagens, acompanhadas de insultos ao presidente Lenin Moreno. É lamentável e totalmente aberrante que os políticos, sem se importarem com a dor da população, tentem pescar em águas turbulentas para beneficiar seus interesses eleitorais ou simplesmente satisfazer seu radicalismo ideológico.
Qual é a real situação da Covid-19 no Equador e em Guayaquil?
No Equador, até hoje, 3 de abril, temos 3.368 infectados, 145 mortos e 65 curados. Mais 205 casos e 25 mortes foram confirmados hoje (ontem). Desses números, cerca de 75% estão na província de Guayas, cuja capital é a cidadae de Guayaquil.