O governo do Chile anunciou nesta quarta-feira (30) que o país não será mais a sede do fórum da Apec (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico) e da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2019 (COP-25) devido à recente onda de protestos contra a desigualdade social que toma as ruas do país há 13 dias.
“Esta foi uma decisão muito difícil, uma decisão que nos causa muita dor, porque entendemos perfeitamente a importância da Apec e da COP-25 para o Chile e para o mundo”, disse o presidente Sebastián Piñera em um breve discurso.
Já a final da Copa Libertadores, entre Flamengo e River Plate, segue marcada para o dia 23 de novembro na capital chilena. A ministra do Esporte do país, Cecilia Pérez, disse que a “vontade e o compromisso” do governo é que o jogo seja realizado em Santiago.
A Conmebol disse que um de seus representantes se encontrará com o presidente chileno na semana que vem para acertar detalhes.
A cúpula da Apec estava programada para reunir 20 líderes mundiais, incluindo o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o dirigente da China, Xi Jinping, em 16 e 17 de novembro. Havia a expectativa de que as duas economias assinassem um acordo aliviando as tensões comerciais entre os lados.
A COP-25 previa atividades entre 2 e 13 de dezembro, e esta é a primeira vez que um país desiste de ser sede com menos de um mês para a realização do evento —o encontro é organizado anualmente desde 1995. As conversas deste ano devem girar em torno da implantação do Acordo de Paris, negociado na COP-21, em Paris, em 2015.
O cancelamento dos eventos pegou os países participantes desprevenidos, pois não há locais alternativos alinhados. O cancelamento da cúpula da Apec é simbólico, já que o Chile exporta 73% do que produz para os 21 países do grupo, segundo comunicado divulgado pela presidência.
“Este é um fórum que interessa a todos os chilenos”, diz Piñera, acrescentando que o país segue comprometido com a organização. Há 40 mil empresas exportadoras no Chile, que geram 2,8 milhões de empregos.
No mesmo documento, Piñera afirma que os chilenos têm vivido situações difíceis nos últimos dias e que a preocupação número um do governo neste momento é restabelecer a ordem pública e impulsionar uma série de reformas anunciadas na semana passada.
O mandatário prometeu aumentar o salário mínimo e as aposentadorias, diminuir os preços dos remédios e do transporte público, além de estabelecer um sistema de saúde adequado.
Os chilenos estão nas ruas há quase duas semanas contra a desigualdade social, em movimentos que começaram a partir do aumento da passagem de metrô e abarcaram outras questões nos dias seguintes.
Mais de 1 milhão de chilenos marcharam pacificamente contra a desigualdade em Santiago na última sexta-feira (25), no maior protesto desde o retorno do Chile à democracia em 1990.
Em relação à COP-25, o documento reafirma a disposição do país de enfrentar as mudanças climáticas e o aquecimento global, destacando que o país tem procurado descarbonizar sua matriz energética, passando a utilizar fontes renováveis.
O porta-voz da ONU, Farhan Haq, disse que a organização está procurando um novo local para a conferência. Cabe às Nações Unidas a organização do evento.