No encerramento de sua campanha na quarta-feira, Obrador prometeu uma transformação pacífica e ordenada
Agência France-Presse
Cansados da corrupção e da violência, os mexicanos votam neste domingo (28/6) em eleições históricas, nas quais o Andrés Manuel López Obrador se apresenta como favorito, deixando para trás os candidatos de partidos tradicionais, que governaram durante quase um século.
No encerramento de sua campanha na quarta-feira, Obrador prometeu uma “transformação pacífica e ordenada”. “Estamos a ponto de realizar uma transformação sem derramamento de sangue”, disse López Obrador aos seguidores no emblemático Estádio Azteca.
“O principal problema do México é a corrupção. Esta é a principal causa de desigualdade econômica, a corrupção deflagrou a insegurança”, declarou o candidato sob aplausos. Em um ambiente festivo, a palavra que mais se ouviu foi “mudança”, com um entusiasmo desdobrado dos mexicanos após a classificação de sua seleção para as oitavas de final da Copa da Rússia.
O candidato de 64 anos, conhecido como AMLO, parece capitalizar bem o descontentamento dos eleitores em sua terceira tentativa de alcançar a presidência mexicana com uma coalizão encabeçada por seu Movimento Regeneração Nacional (Morena).
O mandato do atual presidente Enrique Peña Nieto, do Partido Revolucionário Institucional (PRI) que governou ininterruptamente de 1929 a 2000, foi marcado por reformas de grande porte (não isentas de polêmica) e por vários escândalos de corrupção e de violações dos direitos humanos, apesar das promessas de lisura e de transparência.
“Em minha família, quase todos votamos em AMLO. Queremos mudança, não queremos mais ninguém do PRI, nem do PAN”, afirma Wendy Rodríguez, camelô de 24 anos, referindo-se ao conservador Partido Ação Nacional que governou o país de 2000 a 2012.
Segundo as últimas pesquisas, López Obrador tem uma vantagem superior a 20 pontos sobre Ricardo Anaya, da coalizão de direita e esquerda formada pelo PAN, PRD e Movimento Cidadão, enquanto que José Antonio Meade, do governista PRI, aparece em terceiro lugar.
Se as pesquisas acertarem, os desafios de López Obrador serão gigantescos: além de combater a corrupção, deve cumprir sua promessa de “colocar em seu lugar” o presidente americano, Donald Trump, que ameaçou romper com o Tratado de Livre-Comércio com o México, porque o país não é suficientemente duro com a imigração irregular.
“O México tem sido um fracasso econômico nas últimas quatro décadas. O salário real está abaixo do que foi em 1980, a pobreza está pior do que há 25 anos. Então, se AMLO pode fazer avanços nestas frentes, já será uma melhora significativa”, argumentou Mark Weisbrot, codiretor do Centro de Pesquisa em Economia e Política (CEPR) em Washington.
Populismo
Seus adversários e críticos advertem que um governo de AMLO seria “populista como o de Hugo Chávez” na Venezuela. Nas últimas semanas, López Obrador e seus assessores tentaram se descolar de propostas radicais em temas-chave para a economia.
Como prova de suas intenções, o esquerdista prometeu que receberá “a metade do salário” de Peña Nieto e assegurou que não vai morar na residência Los Pinos, nem viajará no avião presidencial. Seu estilo contrasta com o perfil tecnocrático de Meade e Anaya, destacam analistas.
Uma vitória de AMLO promete mudar por completo o tabuleiro político mexicano, que desde 1988 gira em torno de três formações: o PRI, o PAN, como principal opositor do centro direita e o Partido da Revolução Democrática (PRD), que conseguiu aglutinar apoios na centro esquerda.
O México encerra esta semana sua campanha eleitoral “mais violenta” dos últimos anos, segundo um informe da consultoria Etellekt, antes das eleições nas quais o país elege presidente, deputados federais e mais de 18.000 postos locais.
Desde setembro, quando começou a pré-campanha, houve 124 políticos assassinados, entre eles 29 pré-candidatos e 18 candidatos, segundo balanço da empresa e de veículos locais.