Governo, entidades e comerciantes comemoram os números, que tiveram 26,7% de aumento em relação a 2023
Por Arthur de Souza/ Correio Braziliense
A capital do país tem se consolidado quando o assunto é turismo internacional. De acordo com dados da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), no ano passado, o Distrito Federal recebeu 68.469 pessoas vindas de outros países, um crescimento de 26,7% em relação a 2023, quando 54.006 estrangeiros desembarcaram no aeroporto internacional de Brasília.
Comparando os primeiros bimestres de 2024 (com 12.534) e 2025 (com 19.203), o aumento de turistas estrangeiros desembarcando na capital do país é ainda maior: 53,2%. Ao Correio, o secretário de Turismo (Setur-DF), Cristiano Araújo, disse que a participação do GDF em feiras e eventos de turismo é fundamental para garantir a visibilidade de Brasília no mercado. “Principalmente na América Sul, em que temos voos diretos. Esse é um projeto anual e contínuo para consolidar a divulgação junto às operadoras de turismo e atrair mais turistas”, pontuou.
De acordo com o gestor, a ampliação da malha aérea internacional também é um dos vetores para o aumento do número de turistas internacionais, pois, segundo ele, isso fortalece a divulgação do destino Brasília, tanto no Brasil quanto no exterior. “Atualmente, Brasília tem voos diretos para nove destinos internacionais: Lisboa, Lima, Santiago, Buenos Aires, Orlando, Miami, Panamá, Bogotá e Cancun”, listou. “A cidade vem se destacando com a realização de eventos de grande porte como shows, festas, feiras, congressos e ações esportivas, que mobilizam o turismo e impulsionam a economia”, avaliou Cristiano Araújo.
Os franceses Gabin Ogé, de 23 anos, e Lorrete Hulin, 23, vieram visitar o amigo Adrien Bourguignon, 23, que veio morar no Brasil a trabalho. Amigos de infância, os dois sempre tiveram curiosidade de conhecer o Brasil. “Chegamos ontem e já visitamos a Torre de TV e a Catedral Metropolitana. Daqui vamos visitar também o Rio de Janeiro”, contou Gabin. Lorette diz que o Brasil não é como imaginava e que se difere da França pelos espaços de convivência entre as pessoas. “Aqui tem muitos locais para se reunir, sentar e comer. É um cenário muito diferente. Estamos gostando muito”, disse a francesa, que contou que ainda quer conhecer mais da capital.
Vendedor de uma loja que está no Mané Mercado há oito meses, Wermesson Santana, 30, disse que percebeu esse aumento de pessoas vindas de outros países desde que o estabelecimento abriu. “Na verdade, a gente sente que o público predominante é o de turistas estrangeiros, muito pelo fato de estar localizado na parte central de Brasília e estar rodeado de outros locais que também recebem pessoas de outras localidades, como o estádio, o centro de convenções, o ginásio e a Torre de TV”, observou.
Potencial
Presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), José Aparecido Freire afirmou que os números divulgados pela Embratur comprovam o grande potencial turístico de Brasília e indicam que a cidade está no caminho certo. “Esse crescimento de 26% no número de turistas estrangeiros desembarcando na cidade é reflexo de um esforço conjunto entre o setor produtivo e o poder público em promover a capital no Brasil e no exterior”, ressaltou.
Segundo ele, na prática, foi possível perceber esse movimento de turistas estrangeiros na Casa de Chá, inaugurada em junho de 2024. “Localizado no coração de Brasília, o espaço tem recebido uma média de cinco turistas estrangeiros por dia”, explicou.
Henrique Severien, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no DF (ABIH-DF), comentou que alguns fatores contribuíram para esse crescimento efetivo. “No ano passado, tivemos o G20, que colaborou para que esse público estrangeiro transitasse por Brasília”, pontuou. “Esses números da Embratur precisam ser comemorados. São cerca de 14 mil turistas internacionais a mais do que em 2023”, enfatizou Severien.
O presidente da ABIH-DF torce para que as coisas sigam nesse rumo. “Particularmente, o setor hoteleiro comemorou muito os números, que tiveram empate técnico na taxa de ocupação, ficando na casa dos 60%, o que é muito elevado. O ano de 2025 promete ainda, pois o primeiro trimestre teve um crescimento relevante, comparado ao do ano passado”, comentou.
Localização
Gerente de um hostel na Asa Norte, Alex Costa disse que percebeu esse aumento de turistas internacionais. “Em 2023, teve uma quantidade excelente de estrangeiros em Brasília, só que, estatisticamente, o ano passado teve números ainda melhores. Na comparação entre os dois anos, houve um aumento de 9,13%”, revelou. Segundo ele, em 2024, os franceses foram os que mais se hospedaram no hostel, seguidos pelos americanos, alemães, peruanos, canadenses e britânicos.
De acordo com Alex, o fato de Brasília estar muito centralizada colabora para isso. “Conversando com alguns hóspedes estrangeiros, eles dizem ter percebido que a cidade é um ponto parecido com uma rodoviária e fica mais fácil de se locomover para outros locais daqui”, observou. “Além disso, a própria cidade tem riquezas que contribuem para a entrada de mais turistas, sejam internacionais, como de outros estados brasileiros”, acrescentou.
O gestor disse que o hostel oferece vários cursos de capacitação para os profissionais. “Temos funcionários que falam inglês, espanhol, francês e até a língua nativa do Congo. Além disso, estamos adotando o modelo de lixo zero, o que atrai ainda mais turistas internacionais, pois muitos deles prezam pela questão da sustentabilidade, na hora de escolher uma hospedagem”, argumentou.
Impactos
De acordo com o coordenador de graduação em economia, gestão pública e financeira do Centro Universitário Iesb, Riezo Almeida, o crescimento do turismo internacional tem efeitos diretos na economia do Distrito Federal. “Gera mais empregos, impulsiona o comércio local e fortalece setores como hotelaria, gastronomia, transporte e serviços”, destacou. “Além disso, o impacto positivo se reflete no recolhimento de tributos como o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e o Imposto sobre Serviços (ISS), fundamentais para os cofres públicos”, detalhou.
Segundo o economista, com o aumento do fluxo de visitantes, cresce também o consumo de produtos e serviços na capital. “Estimativas apontam que cada turista estrangeiro gasta, em média, R$ 450 por dia na capital federal”, calculou. “Considerando uma estadia média de cinco dias, o impacto financeiro é significativo. Apenas em 2024, o turismo internacional pode ter movimentado mais de R$ 150 milhões na economia local”, acrescentou.
O especialista destacou o papel das embaixadas nos números. “O DF abriga mais de 100 embaixadas, além de outros organismos internacionais. Esse alto número de estrangeiros traz, também, um impacto nas transações comerciais, ampliando a diversidade cultural e populacional”, opinou. Riezo Almeida ressaltou que, para um número crescente de turistas estrangeiros, algumas ações estratégicas são essenciais. “Destaque para a arquitetura, cultura, natureza e na gratuidade dos principais atrativos locais”, pontuou.