Nossos governos respeitam as pessoas e honram os trabalhadores. Portanto, juntos, temos a esperança de construir o futuro
BUI VAN NGHI*
O Vietnã e o Brasil celebram, neste mês, 35 anos de relações diplomáticas. Esse evento, da mais alta importância, coincide também com dois outros marcos comemorativos: o 70º aniversário da Vitória de Dien Bien Phu e o 134º aniversário do grande líder vietnamita Ho Chi Min.
A batalha de Dien Bien Phu constituiu uma vitória extraordinária do Vietnã contra os colonizadores franceses, tendo repercutido em todo o mundo por seu significado de restauração da paz na Indochina e por ter inspirado nações colonizadas na África a buscar a independência.
A vitória de Dien Bien Phu se deu em 7 de maio de 1954, há 70 anos. Na cultura vietnamita, 70 anos é uma marca simbólica, porque equivale a uma vida, o tempo para uma criança nascer e envelhecer. Existe o seguinte ditado em nosso país que remete aos tempos antigos: “thât thâp cô lai hy”. A expressão significa “Pessoas com 70 anos são raras”.
Por isso, passados 70 anos da batalha de Dien Bien Phu, talvez seja relevante observar que, do ponto de vista da história, mais importante do que falar em guerra seja celebrar a paz e a prosperidade na região. A campanha de Dien Bien Phu não foi a vitória na guerra, e, sim, o triunfo da aspiração pela paz e do amor pela vida.
Já o aniversário do grande líder vietnamita Ho Chi Min tem uma particularidade que chama a atenção dos historiadores: quando tinha 22 anos, Ho Chi Min desembarcou no Rio de Janeiro em um navio mercante. Ele viveu seis meses na cidade brasileira. Ho Chi Min trabalhou nesse período e conviveu com trabalhadores e marinheiros do porto do Rio de Janeiro. Pode-se dizer que foi nesse período que começou a relação profunda entre o Vietnã e o Brasil.
Para entender a relevância da celebração dos 35 anos de relações Brasil-Vietnã, é preciso situar o contexto do início da amizade entre os dois países. Naquele 8 de maio de 1989, o Vietnã havia acabado de superar 30 anos de guerra contra invasores estrangeiros pela libertação nacional e conduzia uma política de abertura enquanto suportava o duro embargo comercial dos Estados Unidos.
Envolto em dificuldades, que fez o Vietnã? À beira do Mar do Leste, o Vietnã olhou para o Hemisfério Sul. E, aí, começou uma amizade calorosa com uma nação poderosa da América do Sul: a República Federativa do Brasil.
Nossa amizade é muito próxima e presente, apesar dos 20 mil quilômetros e 26 horas de voo que separam os dois países. Nossos governos respeitam as pessoas e honram os trabalhadores. Portanto, juntos, temos a esperança de construir o futuro.
O Brasil é a maior economia da região e principal parceiro comercial do Vietnã na América do Sul. Embora distante geograficamente, o Brasil está próximo do Vietnã no espírito. Todos no Vietnã sabemos que o Brasil é uma superpotência no futebol, com quase 220 milhões de apaixonados. Também é o país do samba.
A maioria dos vietnamitas também sabe que o Brasil tem a maior floresta do mundo, o mais longo rio, o Amazonas, muitos portos e uma vida ativa, otimista e colorida. Nós, do Vietnã, sabemos que o Brasil é um “mundo atraente”, parece uma enorme pintura de grafite, cujo tamanho não se pode medir.
Como embaixador, realizo viagens de negócios pelo Brasil em busca de oportunidades que possam aproximar ainda mais os dois países. Estive em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. Nessas cidades, tive impressões fortes. No Rio de Janeiro, estive de 19 a 20 de março deste ano, onde pude visitar o lugar onde Ho Chi Min costumava viver e trabalhar. Visitei a Rua Joaquim Silva e a Praça Lapa, onde Ho Chi Min costumava trabalhar e observar a vida e a luta do dia a dia dos trabalhadores brasileiros.
Meu trabalho é contribuir para elevar as relações diplomáticas de meu país com o Brasil para um nível superior, envolvendo não só a política e a economia, mas todos os aspectos que possam ser dinamizados. Chamo a atenção para a troca cultural e a literatura entre os dois países, particularmente a literatura, que também devem ser valorizadas. Em resumo, esse é o nosso trabalho, que tem como objetivo principal fortalecer a maravilhosa amizade entre o Brasil e o Vietnã.
*Embaixador do Vietnã no Brasil / Publicado no Correio Braziliense