Consulta Popular é realizada dentro e fora do país
Súsan Faria
Venezuelanos – que vivem dentro e fora do país – se pronunciaram contra a decisão do Presidente Nicólas Maduro de convocar uma Assembleia Nacional Constituinte para elaborar e aprovar uma nova Constituição Federal. Além da votação em massa em Caracas e principais cidades venezuelanas, segundo os organizadores, a votação foi realizada em cerca de mil cidades do mundo, das quais 14 no Brasil, neste domingo, 16/07, das 9h às 17h. Em Brasília, a consulta foi feita em uma tenda armada no Parque da Cidade e foram 88 votantes, todos maiores de 18 anos que apresentaram o documento de passaporte com validade em dia e depositaram a cédula na urna lacrada, que será levada a Caracas. O processo foi gravado e fotografado.
A Consulta Soberana do dia 16 de julho foi convocada pela Assembleia Nacional (AN) e a “Mesa de la Unidad Democrática” (MUD) da Venezuela. Em Brasília, foram fixados perto da urna dois cartazes com nomes de parte dos 94 mortos – a maioria jovens – nos últimos 107 dias de conflitos entre manifestantes e o governo de Maduro. Doris Aleida Sayago, professora da Universidade de Brasília, 50 anos, explicou o processo: “estamos buscando votações livres, respeito aos Direitos Humanos”. Doris tem pai, mãe e parentes na Venezuela e disse que a situação pode ficar mais complicada caso se derrube a Constituição, instituída em 1999, ainda no governo de Hugo Chávez. “O poder do Presidente que já é absoluto será oficializado. A situação está complicada. Sofremos pelas nossas famílias, pelas filas, pelas dificuldades”.
Segundo Doris, no Brasil a maioria dos venezuelanos vive em Roraima e em São Paulo e há grande número de clandestinos, porque estão saindo do país pela precariedade de recursos, como falta de alimentos, escolas, remédios e moradia. Ela acredita que só na região de Boa Vista e Manaus cerca de 1.500 venezuelanos, já legalizados no Brasil, votem. “Na Espanha, há grandes filas de votantes”, comentou. A professora Beatriz Grooscors, 38 anos, fez questão de ir ao Parque da Cidade, em Brasília, dar o seu voto: “as mudanças precisam acontecer de verdade. Os venezuelanos não aguentam mais tanto sofrimento”. Já o engenheiro industrial Alberto José Palombo disse que a Consulta Popular é um compromisso de multidões – de diferentes classes sociais – com a democracia. “O povo está cansado dos desacertos”.
A Consulta Popular constou de três perguntas: Desaprova a realização de uma Constituinte proposta por Nicólas Maduro sem aprovação prévia do povo da Venezuela? Cabe à Força Armada Nacional e a todo funcionário público obedecer e defender a Constituição de 1999 e respaldar as decisões da Assembleia Nacional? Aprova que se proceda a renovação dos poderes públicos de acordo com o estabelecido na Constituição e a realização de eleições livres e transparentes, assim como o estabelecimento de um governo de União Nacional para restituir a ordem nacional? O resultado da Consulta Popular, inclusive com o número de votantes dentro e fora da Venezuela deve sair nos próximos dias.