Embaixador Ali Kaya Savut fala dos atrativos turístico do país, dos refugiados, do comércio bilateral e da entrada na União Europeia.
Súsan Faria*
Ali Kaya Savut, 63 anos, nasceu em Istambul, teve sua formação secundária concluída na St. Joseph French High School e formou-se em Economia na Universidade de Bordeaux. Iniciou sua carreira no Ministério das Relações Exteriores e assumiu postos na Argélia, Nova York, Portugal, Ottawa, Paris, Chipre e em organismos como a ONU e OTAN. Foi designado Embaixador da República da Turquia para o Brasil em novembro de 2016. É casado e tem dois filhos.
Ali kaya Savut chegou em Brasília em novembro de 2016. Em entrevista exclusiva à Revista Embassy Brasília, o diplomata fala também sobre suas impressões de Brasília, do Brasil e a respeito da tradicional culinária turca. Veja sua entrevista na íntegra:
Revista Embassy Brasília – Como o senhor descreveria seu país?
Ali KayaSavut– A Turquia é uma democracia secular no crossroads (encruzilhada) das civilizações.
Quais são os setores hoje em destaque hoje na Turquia?
Eu destacaria o dinamismo da economia turca, que cresceu 5% no primeiro semestre deste ano e tem acordos de livre comércio com 19 países. A Turquia também é um importante destino turístico. Recebemos 41 milhões de visitantes em 2015.
A crise internacional afetou muitos países na Europa, entre eles a Turquia. Como o governo turco está lidando com essa situação?
Obviamente, a recessão global teve um efeito negativo nas exportações turcas e no turismo. No entanto, os números do comércio já são muito melhores no primeiro semestre de 2017. A Turquia também conseguiu atrair 12,3 bilhões de dólares em investimentos estrangeiros diretos em 2016.
Como vem sendo tratada a questão dos refugiados?
Estamos acomodando três milhões de refugiados. A maioria de sírios que fugiram da guerra civil em seu país. Oferecemos serviços de alojamento, alimentação, assistência médica e educação. Cooperamos estreitamente com a União Europeia para controlar a migração irregular para a Europa. Já gastamos cerca de 25 bilhões de dólares para resolver essa situação. Infelizmente, o nível de compartilhamento internacional dessa responsabilidade não atende às nossas expectativas.
A Turquia tem intenção de fazer parte da União Europeia? Por que o país ainda não faz parte do grupo?
O primeiro pedido de entrada na UE da Turquia foi em 1959. Em 1963, assinamos o Acordo de Ancara e as negociações de adesão começaram em 2004. Eu acredito firmemente que tanto o meu país como a União Europeia teriam se beneficiado com adesão turca. Mas alguns líderes europeus, com pouca visão, bloquearam nossa associação por razões políticas. Hoje, a Turquia perdeu muito de seu entusiasmo é a visão de que não precisamos nos juntar à União Europeia já prevalece na opinião pública turca.
A Turquia ocupou, há poucos anos, a posição de 16ª maior economia do mundo. Essa posição continua? A que se atribui essa forte economia?
A Turquia é a 17ª maior economia mundial e a 6ª maior economia da Europa (2016). Os seus pontos fortes são a localização geográfica favorável, a população bem qualificada em idade ativa, automotiva dinâmica e indústrias petroquímicas, eletrônicas e têxteis.
O governo turco já concedeu mais de cinco mil bolsas de estudo para estudantes de pós-graduação de 150 países. A última seleção foi em março deste ano. Quantos brasileiros foram selecionados?
Este ano, os pedidos de programas de pós-graduação começaram em janeiro e programas de graduação em março. Distribuímos esta informação através das autoridades brasileiras e das universidades federais brasileiras e compartilhamos em nossas redes sociais. Lamentamos que este ano nenhum estudante brasileiro tenha sido selecionado. Por outro lado, sob um programa diferente, dois doutorandos brasileiros fizeram uma visita de estudo à Turquia.
A Turquia tem raras belezas. Como está o turismo no país? Quais os locais o senhor indicaria para quem quiser visitar o país?
Em 2015, a Turquia recebeu 41,6 milhões de visitantes. Em 2016, esse número diminuiu 25% devido à recessão global. Os destinos favoritos dos turistas brasileiros são Istambul, que se localiza na Europa e na Ásia; Éfeso – uma antiga cidade greco-romana na costa do mar Egeu; e a Capadócia, que se acredita ser o lugar de nascimento de São Jorge.
A Turquia estará comemorando a data nacional em breve, como foi essa declaração de independência?
Em 29 de outubro de 1923, o Parlamento turco aprovou a nova Constituição que substituiu a Constituição do Império Otomano. No mesmo dia, Mustafa Kemal Atatürk tornou-se o primeiro presidente do país. Nos anos seguintes, Atatürk introduziu uma série de reformas políticas, jurídicas e sociais. Entre outras importantes mudanças políticas adotadas, as reformas que empoderaram as mulheres turcas que lá receberam direitos de voto, quando ainda não possuíam este mesmo direito em muitos outros países europeus.
Como estão as relações bilaterais da Turquia com o Brasil?
Nossas relações bilaterais com o Brasil são excelentes. Assinamos um Plano de Ação de Parceria Estratégica em 2010 e visitas de alto nível ocorreram em 2010 e 2011. Neste período, nosso volume comercial era de três bilhões de dólares. Em 2014, quando a novela brasileira Salve Jorge foi exibida, recebemos cerca de cem mil turistas brasileiros. Hoje trabalhamos para identificar o real potencial de nossos laços econômicos.
Existem muitos acordos bilaterais? O senhor poderia citar alguns?
Com base em uma pesquisa recente em arquivos otomanos, o primeiro acordo entre o Império Otomano e o Brasil foi assinado em 1858. Foi chamado de “Acordo sobre Amizade, Residência, Comércio e Navegação”. O primeiro acordo com a República turca, o “Acordo de Amizade”, foi assinado em 1927. Hoje, existem mais de 20 acordos bilaterais em vigor. Recentemente, trabalhamos para finalizar um acordo em “Facilitação de Investimentos”.
Quais as prioridades na área comercial?
Em 2016, os principais itens exportados para o Brasil eram fibra artificial e peças de automóveis. Nós importamos do Brasil ferro, tabaco, algodão, soja, entre outros. Nosso volume comercial bilateral é hoje de 2,5 bilhões de dólares. Pretendemos aumentá-lo para 10 bilhões de dólares e equilibrar a balança comercial, que hoje é adversa para a Turquia.
Qual a impressão do senhor em relação ao Brasil, à Brasília e ao povo brasileiro?
O povo brasileiro é cordial, tranquilo e está sempre pronto para ajudar especialmente quando percebe a dificuldade com a língua portuguesa. Brasília é uma cidade verde e espaçosa, muito fácil e agradável de viver; e que conta com vários restaurantes que não são baratos, mas são muito bons. É um país de tamanho continental, com um soft power**eficiente e que projeta uma forte imagem positiva.
Na culinária, o que o senhor tem algum prato brasileiro de preferência?
Um bom churrasco é de longe o meu prato favorito.
Além do tradicional charuto e dos doces turcos o que predomina na culinária turca?
A culinária turca baseia-se na cozinha otomana que foi influenciada pelas cozinhas árabe, grega e caucasiana. Kebabs (pratos de carne grelhada); Mant (ravioli turco); Dolma (carne enrolada em folhas de videira ou recheada com pimentas, abobrinha ou outros vegetais); Pide (pizza turca) e a famosa sobremesa Baklava são apenas alguns dos pratos da riquíssima cozinha turca.
**Soft power – poder suave, termo usado na diplomacia define a competência de um país para conseguir o que deseja sem tiros e canhões, mas com um jeito especial de ser através de sua cultura e imagem.