Os Estados Unidos anunciaram na noite deste domingo (6) a retirada de suas tropas do nordeste da Síria, território ocupado hoje pelos curdos, e abriram caminho para uma invasão comandada pela Turquia.
Segundo o presidente Donald Trump, a decisão foi tomada para tirar os EUA de “ridículas guerras sem fim, muitas das quais são tribais”. “Vamos lutar onde for em nosso benefício e apenas para vencer”, disse o republicano no Twitter.
A medida, no entanto, deixa os curdos à própria sorte para lidar com a Turquia. Os curdos sírios foram os principais aliados dos EUA na guerra contra o Estado Islâmico (EI) e receberam treinamento e armas das forças americanas.
“Os curdos lutaram conosco, mas receberam grandes quantidades de dinheiro e equipamentos para fazê-lo. Eles lutam contra a Turquia há décadas. Segurei essa briga por quase três anos, mas é hora de nos tirar dessas ridículas guerras sim fim”, disse Trump.
O objetivo da Turquia é tomar os territórios controlados pelos curdos sírios e estabelecer uma “zona de segurança” entre a fronteira dos dois países. Esse corredor teria cerca de 30 quilômetros de largura e 400 quilômetros de extensão e abrigaria os refugiados sírios que o presidente Recep Tayyip Erdogan quer devolver ao país vizinho.
Trump já havia ameaçado retirar suas tropas da Síria em dezembro passado, o que provocou a renúncia do então secretário da Defesa dos EUA, Jim Mattis. Segundo a Casa Branca, a Turquia também assumirá a responsabilidade pelos cerca de 2,5 mil combatentes do EI provenientes de outros países e capturados pelas forças americanas.
De acordo com Erdogan, a invasão turca pode começar “a qualquer momento”. “É absolutamente impossível para nós tolerar novas ameaças desses grupos terroristas”, disse o presidente, em referência à milícia curda Unidades de Proteção Popular (YPG), ligada ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
Reação
As Forças Democráticas da Síria (SDF), coalizão curda que combateu o Estado Islâmico no nordeste do país árabe, disseram que estão prontas a defender a região “a qualquer custo”. “A decisão [dos EUA] foi uma surpresa, e podemos dizer que foi uma facada pelas costas nas SDF”, afirmou um porta-voz do grupo.
Já a Comissão Europeia reiterou sua “preocupação” e defendeu a “soberania e a integridade territorial da Síria”. “Qualquer solução para esse conflito não pode ser militar”, disse o poder Executivo da União Europeia. O coordenador das Nações Unidas (ONU) para operações humanitárias na Síria, Panos Moumtzis, declarou que está “se preparando para o pior”.
A decisão de Trump foi criticada até por aliados, como o senador republicano Lindsay Graham, presidente da Comissão de Justiça do Senado dos EUA. Coronel da Força Aérea americana, o parlamentar pediu explicitamente para o magnata voltar atrás na retirada, definida por ele como “desastre anunciado”.