Uma revolta militar para exigir a saída das chefias do Exército no Burkina Faso e uma resposta aos ataques jihadistas no país, neste domingo (23), já levou a amotinações nas casernas e à destruição da sede do partido no poder, incendiada.
Segundo a AFP, o incêndio na sede do Movimento do Povo pelo Progresso (MPP) foi provocado por manifestantes que apoiam os militares revoltosos, tendo o rés-do-chão do edifício sido destruído, assim como a fachada. A polícia dispersou os manifestantes com recurso a gás lacrimogéneo.
Também segundo a AFP, esta manhã registaram-se vários motins em casernas para exigir a saída das chefias do Exército e “meios mais adaptados” a combater os ataques jihadistas que assolam o Burkina Faso desde 2015 e que o Governo não tem conseguido conter.O executivo reagiu rapidamente aos motins, admitindo que houve disparos, mas desmentiu qualquer tentativa de “tomada de poder pelo Exército”.
Segundo a Associated Press (AP), o ministro da Defesa Aime Barthelemy Simpore, em declarações à televisão estatal RTB, reconheceu os motins em algumas casernas do país, mas desmentiu que o presidente Roch Marc Christian Kabore tenha sido detido pelos soldados revoltosos, ainda que o seu paradeiro permanecesse desconhecido.
Um militar ouvido pela AFP relatou que pela 01:00 local foram ouvidos disparos provenientes da base militar Sangoulé Lamizana, na capital Ouagadougou, algo confirmado pelos residentes, que descreveram disparos cada vez mais intensos. Noutro campo militar da capital, o de Baba Sy, na zona sul, e na base aérea próxima do aeroporto foram também ouvidos disparos, segundo fontes militares citadas pela AFP.
Em casernas de Kaya e Ouahigouya, no norte do país, também foram registados tiros de armas de fogo, segundo residentes. Na capital, os residentes relataram à AFP que os soldados revoltosos do campo de Sangoulé Laminaza saíram da caserna e dispararam para o ar, tendo também isolado o perímetro à volta da caserna.
Ao início da tarde, cerca de quarenta soldados encontravam-se no exterior da caserna, disparando para o ar junto de centenas de pessoas que exibiam bandeiras do Burkina Faso e faziam soar vuvuzelas demonstrando o seu apoio aos revoltosos, constatou um jornalista da AFP no local.
Em contacto telefónico com a AP, um soldado descreveu as reivindicações por trás dos motins, exigindo melhores condições de trabalho para os militares num contexto de crescente violência contra os extremistas islâmicos.
Entre as reivindicações estão um maior número de soldados afetos ao combate aos extremistas, melhores cuidados para os feridos em combate e para as famílias dos que morrem. Também exigem substituições na hierarquia militar e serviços secretos.
Os motins surgem um dia depois de protestos a exigir a demissão do presidente Kabore, reeleito em novembro de 2020, que no mês passado demitiu o seu primeiro-ministro e promoveu uma remodelação da maioria do executivo.
A violência no país da África ocidental tem crescido associada a ataques ligados à Al-Qaeda e ao grupo extremista Estado Islâmico. Milhares de pessoas morreram nos últimos anos e os ataques já provocaram cerca de 1,5 milhões de deslocados.