Súsan Faria
O alimento deve ser bom de sabor, limpo para o meio ambiente e justo para com quem produz. Esse é o conceito de Slow Food, movimento que prega o retorno à tradição alimentar, à vida simples e em harmonia com a natureza. Inspirado nessa tendência, nasceu, há 10 anos, o Slow Filme – Festival Internacional de Cinema, Alimentação e Cultura local. Agora, pela primeira vez, a capital federal sedia o evento de 1º a 4 de agosto, no Cine Brasília. A programação apresenta 20 filmes inéditos e premiados, workshops e degustações. Serão realizadas atividades paralelas no Espaço Cultural Renato Russo e no Jardim Botânico. A entrada é franca.
À frente do projeto, estão as jornalistas Gioconda Caputo e Carmem Moretzshon e a especialista em Comunicação Amanda Ayub, na produção, além do crítico de cinema Sérgio Moriconi, na curadoria.
Serão exibidos filmes de países como Itália, França, Espanha, Alemanha, Austrália, Estados Unidos, Coreia do Sul e Brasil, incluinco coproduções internacionais. A maioria das embaixadas desses países apoia o festival, financiando direitos de exibição das obras e legendagem.
A programação inclui curtas, médias e longas-metragens de ficção, animação e documentários, muitos deles assinados por grandes mestres do cinema mundial. As exibições serão seguidas de debates com realizadores ou especialistas.
O Slow Filme tem, por princípio, usar a linguagem cinematográfica para refletir sobre questões contemporâneas. Em nove edições, o festival propôs reflexões como o desperdício de alimentos, a homogeneização x identidade cultural e a inclusão social. Este ano, o tema é sustentabilidade e identidade alimentar.
Abertura – O evento começa em 1º de agosto, às 17h, no Cine Brasília, com a película Slow food stories (74’); palestras de Thaíssa Aragão (líder do Convivium Slow Food Cerrado) e de Jean Marconi; seguidas de degustação de sucos de frutos do Cerrado. Às 20h, o chef Juan Pratginestos será homenageado, antes do filme Alma d’chef, de Ronaldo Duque. Às 20h30, será apresentado Histórias da comida cubana (82’), dirigido e produzido por Asori Soto, cubano radicado em Nova Iorque (EUA). A película mostra regiões remotas da ilha – aonde só se chega de jangada, a cavalo ou a nado e na qual estão os mais autênticos sabores e histórias da culinária cubana. Na abertura, haverá tradutores de libras.
O Slow Filme completa 10 anos, e os produtores, da empresa Objeto Sim Projetos Culturais, decidiram que o momento é de crescer. Por isso, transferiram o evento para Brasília, cidade com crescente interesse pela gastronomia, pelo cinema e pela sustentabilidade. Nas nove edições, o festival foi realizado em Pirenópolis (GO).
“O Slow Filme é o primeiro festival brasileiro dedicado a aliar gastronomia e cinema em caráter internacional”
Sérgio Moriconi, curador
Entrevista com o curador
Sérgio Moriconi, carioca radicado em Brasília, 63 anos, professor, sociólogo, crítico de cinema, é diretor de Athos, uma homenagem ao artista Athos Bulcão. Foi curador de mostras, como Nação Farkas, Vladimir 70 e Vladimir 80; e de mostras dedicadas a Jim Jarmusch, Seijun Suzuki e Van Der Keuken. Autor do livro Cinema – Apontamentos para uma história, foi programador do Cine Brasília, curador do Festival de Cinema Europeu de Brasília e apresentador das sessões quinzenais de filmes na Embaixada da França. Integrou a comissão de organização e curadora do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Em entrevista para a revista Embassy, ele dá mais detalhes sobre o festival:
Como nasceu a ideia do Slow Filme?
Encontramos numa padaria um luxuoso licor de baru, castanha típica do Cerrado goiano. O produtor, o italiano Giovanni, foi quem primeiro percebeu o potencial comercial do baru em Pirenópolis. Ninguém na cidade dava muita atenção ao produto dessa árvore comum na região. Imaginamos um filme sobre o baru, inserido no contexto alimentar local – incluindo as receitas da mítica Fazenda Babilônia – e conectado às ideias do Slow Food Internacional e ao Slow Food Cerrado. O filme não saiu, mas nossas pesquisas nos fizeram descobrir o festival Slow Food on Film na cidade italiana de Bra. As comidas refletem as identidades locais e essas identidades são fundamentais para contrapor-se ao processo de homogeneização cultural imposto pelo mundo globalizado.
Como é o apoio das embaixadas ao evento?
É fundamental. É o que tem viabilizado as realizações do festival. Este ano, contamos com um pequeno aporte de recursos do Banco de Brasília (BrB), também fundamental.
Qual é a importância do festival?
Tentamos fazer com que o festival desperte uma nova consciência alimentar e uma nova maneira de encarar a vida. Incentivamos uma conexão maior com as culturas e identidades locais. Nos documentários, ficções, animações e obras experimentais que apresentamos, há uma preocupação estética. Procuramos filmes que se afastem de modelos mais convencionais de cinema. Nosso festival valoriza uma cultura alimentar e visões do mundo singulares.
Qual é a expectativa de público?
O Cine Brasília pode acolher 619 pessoas. Nossa expectativa é que tenhamos um público considerável em todas as sessões. Conversamos com professores de gastronomia de várias faculdades (Instituto Federal de Educação, UniCEUB, Iesb e Católica) para apresentar o festival e pedir que estimulem a presença dos alunos nas sessões. Essa parceria é importante.
Como avalia a trajetória do Slow Filme?
Tem sido uma iniciativa de muito sucesso. O evento é inédito no Brasil e único em seu perfil na América do Sul. O Slow Filme serve de vitrine criativa para a abordagem de temas como a sustentabilidade, o valor da gastronomia local, a identidade dos povos, a alimentação saudável, o desperdício, tudo por meio de filmes criativos e premiados. É o primeiro festival brasileiro dedicado a aliar gastronomia e cinema em caráter internacional. Para isso, não há melhor palco que a capital do país. Aqui temos o ambiente ideal para acolher o evento em seu novo formato ampliado.
Agenda de filmes
1º de agosto, quinta-feira, a partir das 17h
Slow food stories (74’), Alma d’chef, Histórias da comida cubana (82’).
2 de agosto, sexta, a partir das 16h
Meridiano do vinho (60’), Na trilha de Gastón (75’), O império do ouro vermelho (54’) e Senhor Maionese (95’).
3 de agosto, sábado, a partir das 11h
Dois tomates e dois destinos + Comer o quê? (75’), Jaén – Virgen & extra (90’), Faça homus, não faça guerra (77’), I Villani (83’), e O chef errante (85’).
4 de agosto, domingo, a partir das 10h30
O sabor do desperdício (88’), Quando a Itália comia em preto e branco (20’) + O retorno (12’), Retrato de um jardim (93’), História da alimentação no Brasil (100’), e A mentira verde (97’).
Programação completa e informações:
https://www.facebook.com/festivalslowfilme/; http://objetosim.com.br/slow-filme/