O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, declarou nesta quinta-feira (22/10) que prefere ver a política externa do Brasil sendo condenada por outras nações a se aliar ao “cinismo interesseiro dos globalistas, dos corruptos e semicorruptos”. Além disso, o chanceler afirmou que se a atuação da diplomacia do país “faz de nós um pária internacional, então que sejamos esse pária”.
Araújo fez as declarações ao discursar em uma cerimônia de novos diplomatas do Instituto Rio Branco. Durante a sua fala, que durou aproximadamente 40 minutos, o ministro fez críticas ao globalismo e ao multilateralismo, e também reclamou que o Brasil estava perdendo a sua identidade antes de o presidente Jair Bolsonaro assumir o mandato, em janeiro de 2019, pois ficou “muito tempo dentro de si mesmo, cantando glórias passadas, lustrando troféus antigos e esquecendo-se de jogar o campeonato deste ano”.
Para o chanceler, o atual chefe do Palácio do Planalto tem mudado isso, sobretudo por pregar a soberania do Brasil perante a comunidade internacional. Araújo lembrou que, nos discursos de abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) deste ano, apenas o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e Bolsonaro falaram em liberdade.
Segundo o ministro, a ONU, apesar de ter sido fundada sob o princípio da liberdade, tem se esquecido disso. “Sim, o Brasil hoje fala de liberdade através do mundo. Se isso faz de nós um pária internacional, então que sejamos esse pária”, destacou o chanceler, que acrescentou que “é bom ser pária”.
“Esse pária aqui, esse Brasil, essa política do povo brasileiro, tem conseguido resultados. Talvez seja melhor ser esse pária deixado ao relento, deixado de fora, do que ser um conviva no banquete no cinismo interesseiro dos globalistas, dos corruptos e semicorruptos”, afirmou Araújo.
“Covidismo”
O discurso do chanceler foi recheado de posicionamentos ideológicos. Araújo não poupou reclamações aos movimentos marxistas de esquerda, que segundo ele têm a “utopia de um Brasil sem Deus” e de um povo “arrancado aos braços da sua fé cristã”. “Todo isentão é escravo de algum marxista defunto. Tratar os conservadores de ideológicos é o epítome da prática marxista-leninista: chame-os do que você é, acuse-os do que você faz”, declarou.
O chanceler disse ainda que a “estratégia marxista” é transformar em “ismos” qualquer tipo de assunto e, ainda, querer implementar “a ditadura do politicamente correto e da criação de órgãos de controle da verdade”. A pandemia da covid-19 é um exemplo, de acordo com o ministro, pois ela virou um “covidismo”.
“Tomam uma doença causada por um vírus, a covid, e tentam transformá-la num gigantesco aparato prescritivo, destinado a reformatar e controlar todas as relações sociais e econômicas do planeta, o covidismo.”
Críticas a diplomata
Na cerimônia, o ministro fez críticas à personalidade que foi escolhida pelos formandos para ser o patrono da turma, o poeta e diplomata João Cabral de Melo Neto. Araújo ponderou que apesar de Melo Neto ter tido “grande sensibilidade para o sofrimento do povo brasileiro”, ele acabou se desvirtuando para o “lado errado do marxismo e da esquerda”.
“Sua utopia, esse comunismo brasileiro de que alguns ainda estão falando até hoje, consistia em substituir esse Brasil sofrido, pobre e problemático por um não-Brasil, um Brasil sem patriotismo, sujeito naquela época, anos 50, 60, aos desígnios de Moscou, e hoje, nesse novo conceito de comunismo brasileiro, sujeito ao desígnios sabe-se lá de quem”, disse Araújo.
Em 1952, durante o governo do ex-presidente Getúlio Vargas, Melo Neto e outros quatro diplomatas foram acusados de serem líderes de um movimento comunista dentro do Ministério de Relações Exteriores. Por conta disso, no ano seguinte, todos acabaram afastados da diplomacia brasileira por Vargas. O caso foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF), que em 1954 decidiu absolver Melo Neto e os demais diplomatas. No ano seguinte, eles foram reincorporados ao serviço do Itamaraty.