Abalado por casos de corrupção em seu partido, Mariano Rajoy reconheceu mesmo antes da votação que seria derrotado.
Por G1
A Câmara dos Deputados da Espanha aprovou nesta sexta-feira (1º) a moção de censura contra o governo de Mariano Rajoy, do Partido Popular, e o líder socialista, Pedro Sánchez, tornou o novo chefe de governo espanhol. O rei Felipe VI já assinou a nomeação de Sánchez para o cargo, mas data da posse ainda não foi definida.
A moção de censura recebeu 180 votos a favor, 169 contra e apenas uma abstenção. Trata-se da 1ª moção de censura na fase democrática atual do país, depois das três apresentadas nos últimos 40 anos. Abalado por casos de corrupção do seu partido, Mariano Rajoy reconheceu antes mesmo antes da votação que seria derrotado.
“Podemos presumir que a moção de censura seguirá adiante. Em consequência, Sánchez será o novo chefe de governo. Serei o primeiro a felicitá-lo”, declarou. “Foi uma honra ser o chefe de governo e deixar uma Espanha melhor do que encontrei. Sorte a todos vocês pelo bem da Espanha”, afirmou.
Militante socialista desde os 21 anos, Sánchez começou a carreira política como vereador na Câmara Municipal de Madri (2003-2009) e depois chegou ao Congresso dos Deputados, onde já em 2015 se tornou líder da oposição ao governo de Rajoy.
“A Democracia na Espanha abre uma nova página. Uma etapa para recuperar a dignidade das instituições. De responsabilidade, diálogo e consenso, é o momento de trabalhar pela igualdade, construir um país que não deixa ninguém no caminho”, afirmou Sánchez no Twitter.
Para derrubar Rajoy, Sánchez organizou uma heteróclita coalizão com a esquerda radical do partido Podemos, os separatistas catalães e os nacionalistas bascos.
Desgaste conservador
Rajoy é um veterano de 63 anos, que estava havia 11 anos no poder. Nesta época, o Partido Popular ganhou as eleições e tirou o poder das mãos do Partido Socialista, que estava no poder com José Luis Rodríguez Zapatero.
O conservador ocupou vários cargos na política espanhola. Recentemente, sobreviveu à pior crise política em quatro décadas – o desafio separatista catalão. Porém, vinha pressionado pelos escândalos de corrupção envolvendo o seu partido, embora não tenha sido condenado diretamente.
O principal processo foi o chamado caso Gurtel, conhecido como a Lava-Jato espanhola, que desde 2009 investigava um esquema de caixa dois dentro do Partido Popular. Na semana passada, a Audiência Nacional, a mais alta corte da Justiça espanhola, encerrou a primeira fase do caso, condenando a sigla por corrupção ativa a pagar uma multa de € 250 milhões, de acordo com a Rádio França Internacional (RFI).
A decisão da Câmara desta sexta surpreende, porque até semana passada Rajoy tinha apoio da maioria. Porém, aos poucos, os apoiadores de Rajoy foram ficando isolados e também constrangidos por sustentar o governo de um partido que foi formalmente acusado de corrupção pela Justiça.
Na tarde de quinta (31), foi confirmado que a maioria dos deputados da Câmara Baixa – 180 de um total de 350 pertencentes a oito forças políticas – apoiavam a moção de censura, apresentada por Pedro Sánchez.
Desafio socialista
Sánchez já reconheceu que terá dificuldades em sua ação de governo, segundo a France Presse. Mas, com um tom otimista, reiterou o “compromisso com a Europa” e prometeu “estabilizar socialmente este país”, priorizando políticas a favor do meio ambiente e de igualdade entre homens e mulheres.
Também reiterou a oferta de diálogo ao governo separatista da Catalunha, que assume oficialmente nesta sexta-feira. O gesto permite prever a retirada da tutela imposta à região desde outubro, em consequência da tentativa frustrada de secessão.
“Este governo quer que a Catalunha esteja na Espanha e escutará a Catalunha”, declarou o líder socialista.
Processo de sucessão
Com a aprovação da moção de censura, Sánchez foi aclamado pelo parlamento sucessor de Rajoy. O governo de Rajoy foi obrigado a apresentar sua renúncia ao rei Felipe VI, como estabelece a Constituição.
A presidente do Congresso, Ana Pastor, comunicou o resultado oficialmente ao monarca, que indicou Sánchez como novo chefe de governo. A mudança precisa ser publicada no Boletim Oficial do Estado para que Sánchez tome posse. A data ainda não está definida, mas poderia acontecer já no sábado (2).