Entrevista exclusiva com Andrea Dorini, autor do projeto para o regresso daqueles que deixaram a Itália e que querem contribuir para a retoma da economia do nosso país –
Para documentar e colmatar as insuficiências dos programas e planos operacionais de formação profissional dos emigrantes que aspiram a regressar a Itália, julgámos oportuno reunirmo-nos e ouvir uma pessoa, entrevistando-a, uma pessoa, que há anos tem vindo a trabalhar concretamente na formação profissional dos nossos emigrantes com residência permanente no estrangeiro, criando verdadeiras ligações operacionais com as nossas instituições a nível regional e local para concretizar uma emprego para o nosso povo.
É evidente que, até à data, os resultados favoráveis em matéria de emprego alcançados não são grandes e, por conseguinte, não satisfazem grandes massas da nossa população do outro lado da fronteira. Isto está a acontecer e continua a acontecer, infelizmente, devido à vontade política míope ainda desastrosamente existente, mas os procedimentos implementados nos últimos anos já demonstraram a sua real validade e utilidade.
Andrea Dorini (foto) vive permanentemente no Brasil há quase vinte anos. Há algum tempo, ele vem dando vida à sua atividade perspicaz e perspicaz, criando e conectando-se pessoalmente há anos para poder alcançar os resultados práticos favoráveis alcançados (aliás até hoje uma atividade realizada inteiramente às suas custas!), 24 coordenadores e colaboradores na gestão com a comunidade italiana, tanto no Brasil quanto em toda a América do Sul, para cumprir com proveito a sua missão de ajudar os nossos emigrantes e os seus filhos, todos desejosos de um regresso definitivo e construtivo à sua pátria.
Pedimos-lhe que ilustrasse o seu trabalho e nos contasse a sua recente iniciativa clara e significativamente chamada “Regresso às raízes dos nossos emigrantes no estrangeiro”.
P.: Dorini, você nasceu no Brasil?
R.: “Não, nasci na Itália, na cidade de Vicenza e moro no Brasil há mais de 20 anos. Meus primeiros projetos em favor das comunidades de descendentes de italianos começaram no Estado do Espírito Santo onde 70% da população é de origem italiana, veneziana, trentina e lombarda. Uma comunidade que, desde 1875, mantém e valoriza amorosamente a língua, a cultura e as tradições italianas.”
P.: Conte-nos um pouco sobre seu projeto “Retorno às Raízes” que você apresentou recentemente às forças políticas na Itália.
R.: “O Projeto “Retorno às Raízes” nasceu apenas em 2022, dando sequência às contínuas solicitações recebidas há anos de muitos descendentes de italianos, que não conseguiam entender como trabalhar, investir, abrir empresas, filiais, vir estudar, em nossa Itália ou como solicitar e obter legalmente a cidadania italiana”.
P.: Por que só pediram que você passasse esse tipo de informação, quando havia sujeitos institucionais encarregados de fornecer as respostas adequadas?
R.: “Porque nenhuma das centenas de pessoas que me contactaram tinha um ponto de referência político ou institucional a quem confiar esses pedidos e também porque nos sites dos consulados italianos não conseguiam encontrar explicações ou perceber o que se passava em Itália e, sobretudo, respostas sobre como podiam avançar legalmente para o país que lhes era tão caro”.
P.: As pessoas que o contactaram e continuam a solicitar-lhe hoje são cidadãos italianos ou descendentes de italianos?
R.: “Uma percentagem muito elevada já eram cidadãos italianos com passaportes. Mas a maioria deles eram descendentes de italianos que aguardavam para obter a cidadania ou estavam em processo de preparação de toda a documentação legal necessária para poder mostrar a fim de obter o tão almejado resultado favorável do processo que estava sendo apresentado.”
P.: Qual foi o impulso que o levou a apresentar o Projeto “De Volta às Raízes” aos nossos políticos?
R.: “A dificuldade de conseguir fazer com que nossos eminentes políticos italianos entendam o valor que nossas comunidades no exterior têm e, acima de tudo, o quanto nossos ítalo-descendentes, aqueles que vivem principalmente na América do Sul, podem nos enriquecer em todos os sentidos e nos ajudar em quase tudo o que nosso país precisa.
“Além disso, também me senti estimulado pelo facto de todos os dias me deparar com aqueles que continuam a ter problemas, aqui muito complicados de ultrapassar, mas que em casa seriam triviais e facilmente resolvidos. Refiro-me às banalidades da renovação dos passaportes, das cartas de condução e daqueles que tentam, sem sucesso, legalizar o seu casamento. Estou falando de pessoas locais respeitáveis e muito eficientes que se sentem frustradas com a forma como são tratadas e como são consideradas por nossas autoridades no exterior como cidadãos italianos de segunda classe, como se tivessem que pagar a culpa de ter feito a escolha de viver fora da Itália e ser descendente de italianos.”
P.: Fale-nos sobre os descendentes de italianos e seus problemas.
R.: “É muito triste ver e conhecer milhares de famílias de segunda, terceira ou quarta geração de descendentes de italianos, que estão tentando obter seu direito à cidadania italiana, tendo em vista que seus avós eram italianos, nascidos na Itália, onde ainda no longínquo ano de 1884 partiram para um novo mundo, deixando seu país compulsoriamente por causa da grande crise e fome da época ou para fugir com sua família e filhos das guerras e, em muitos outros casos dolorosos, deixando filhos, netos, irmãos, pais, em seus países de origem”.
P.: Conte-nos mais.
R.: “Para ser mais preciso, seus avós haviam sido convidados a deixar a Itália e emigrar para substituir a força de trabalho local no país sul-americano que, naquela época, vivia como escravos nesses países, principalmente no Brasil. Outra solicitação também se devia ao fato de integrar localmente nova população branca, considerando o fato de que, além dos colonizadores portugueses, o país era oitenta por cento formado por escravos negros importados da África.”
P.: Que dificuldades encontram os descendentes de italianos nas suas relações com as autoridades italianas no terreno e com os políticos em Itália?
R.: “Como todos já sabem, há muitos anos milhares de famílias de origem italiana tentam obter seu direito de obter a cidadania italiana, apresentando seus documentos nos Consulados e atualmente também nos tribunais italianos, onde se estima que atualmente mais de 800 mil processos ainda se encontram nas diversas estruturas”.
P.: Concordo, mas você pode nos contar mais sobre por que os descendentes de italianos gostariam de obter a cidadania italiana?
R.: “Hoje, os ítalo-descendentes, acompanhando as grandes dificuldades políticas e econômicas criadas nos países sul-americanos, principalmente no Brasil, Argentina e Venezuela, gostariam de se mudar, viver, trabalhar, investir, se estabelecer e ter filhos no país de origem, sabendo que é seu direito obter a cidadania italiana, já que seus avós eram italianos.”
P.: E como chegariam à Itália?
R.: “Certamente não chegariam à Itália de barco, mas com dinheiro no bolso, com muita vontade de reconstruir suas vidas, arregaçando as mangas, como fizeram seus avós, na América do Sul e em outras partes do mundo.”
P.: Quantos descendentes de italianos vivem fora da Itália?
R.: “De acordo com dados certificados do CGIE-Conselho Geral dos Italianos no Exterior, hoje existem cerca de 80 milhões de descendentes de italianos, incluindo cidadãos italianos de passaporte e origem, que vivem permanentemente fora do país Itália há algum tempo e têm DNA italiano.”
P.: O que eles fizeram até agora e como são conhecidos fora da Itália?
R.: “Deve-se lembrar e valorizar que seus avós e suas famílias, que partiram para as Américas com uma única mala de papelão e muita vontade, fundaram universidades, instituições bancárias, multinacionais, construíram cidades, estradas, pontes e também que por muitos anos se tornaram um dos mais importantes e ricos empresários, principalmente na América do Sul e do Norte.”
P.: Há casos em que descendentes de italianos participaram ou estão participando atualmente do mundo da política externa?
R.: “Sim, durante décadas assumimos formalmente numerosos descendentes de italianos que entraram no mundo da política e de vários governos. Centenas de Deputados, Senadores, Presidentes e Ex-Presidentes da República, Governadores, Magistrados, Juízes e Prefeitos. Eles também, apesar de suas posições políticas de prestígio obtidas no país, como empresários e famílias comuns de origem italiana, estão em extrema dificuldade em apresentar o pedido de cidadania italiana, que não é um presente, mas um direito deles.”
P.: Quais são as suas expectativas após a apresentação deste projeto?
R.: “O projeto apresentado aos dirigentes do nosso novo governo visa poder incentivar todas as diferentes forças políticas atuantes no nosso país a facilitarem e agilizarem e agilizarem os procedimentos de cidadania, a renovação de passaportes, o de cartas de condução, a legalização de casamentos, a equivalência de qualificações, fornecendo-as, finalmente, um endereço, um procedimento prático, seguro e concreto para facilitar o seu regresso a Itália.
“Além disso, com o projeto apresentado, pede-se que concedam aos nossos emigrantes prontos a regressar à sua terra natal benefícios fiscais para aqueles que querem abrir números de IVA, sucursais, comprar casas, terrenos e para todos aqueles que querem encontrar um emprego de funcionário, criar uma área digital dedicada às figuras profissionais que estão em demanda no nosso país”.
P.: O que você quer dizer com a definição do Projeto chamado “De Volta às Raízes”?
R.: “Defini meu projeto como “DE VOLTA ÀS RAÍZES”, pois terá que se tornar o projeto básico em favor de todas as pessoas de origem italiana e italianos que vivem no exterior, através do qual se acredita que será possível resolver a maioria dos problemas que temos na Itália, com a criação de novos empregos para empresas sem trabalhadores especializados, de técnicos, mecânicos, eletricistas, soldadores, almoxarifados, motoristas, para não falar da falta de garçons, bartenders, funcionários em supermercados e finalmente para colmatar a crónica carência de enfermeiros (estima-se que o número de enfermeiros a substituir seja de 40 mil) e centenas de médicos nos nossos hospitais ou lares de idosos.
“E, finalmente, como pretende resolver o problema do despovoamento das cidades e aldeias? Seguindo as diretrizes traçadas pelo Projeto, encontraremos uma forma de resolver também este último problema: resolver nossos problemas, considerando o fato concreto de que nossos descendentes de ítalo-descendentes geram muitos filhos (no Brasil, por exemplo, a taxa média de natalidade é de 4 filhos por família)”.
P.: Em conclusão, o que espera da sua iniciativa?
R.: “Espero que, após uma operação de acolhimento séria e direcionada, muitos dos problemas que afligem o nosso país possam ser resolvidos. E entre elas, com o regresso facilitado a Itália dos nossos emigrantes, uma solução para o problema dos muitos postos de trabalho ainda vazios à espera de funcionários já formados, para a da criação de novos números de IVA para prestar assistência ao Fisco e, finalmente, também para a da falta de nascimentos com novas famílias a chegarem prontas, Uma vez arranjados logisticamente, para ter filhos, providenciando efetivamente o repovoamento das nossas cidades e aldeias. Na minha opinião, a realização do Projeto representaria o movimento vencedor para reiniciar nossa Itália. Um recomeço ajudado pela presença ativa no país dos nossos ítalo-descendentes, todas pessoas com a mesma força e vontade dos seus pais e avós que em 150 anos de emigração, nos vários países do mundo, construíram cidades inteiras, estradas, casas, pontes, escolas, hospitais, afirmando e valorizando cada vez melhor o nosso Made in Italy, o dialeto, a língua, a cultura e as tradições italianas”.
P.: Como você avalia e o que acha dos descendentes de italianos?
R.: Eles são, de fato, e mostram de fato que são nossos verdadeiros Embaixadores, nossos Cônsules, nossos Senadores e Deputados no exterior e não aqueles nomeados eleitoralmente e em virtude de partidos políticos. Senadores e Deputados eleitos, os atuais, que na minha opinião ainda não entenderam a importância dos nossos ítalo-descendentes ou que em muitos casos fingem ter entendido, mas depois pelas poucas habilidades de organização, pelas poucas ideias que têm ou porque não têm peso político dentro do seu partido político, não conseguem exaltar e validar o verdadeiro vínculo que existe entre a Itália e suas comunidades”.
P.: O que o senhor acha dos senadores e deputados eleitos no exterior?
R.: Sinceramente, penso e afirmo que, para prestar o devido e correto respeito aos nossos ítalo-descendentes, que, como já disse, considero os verdadeiros Embaixadores do país, não basta organizar reuniões nos Consulados e Embaixadas para fazer as cenas habituais baseadas em almoço, jantar, apertos de mão, fotos, temperados pelos convidados de sempre, amigos de amigos, mostrar formalmente e atribuir, entre as actividades desenvolvidas a favor das nossas Comunidades, que, na qualidade de deputados eleitos no estrangeiro, se reunistes com o Embaixador ou Cônsul de serviço para o efeito. Isso não é suficiente e agora é completamente desnecessário e insatisfatório, constituindo apenas razões para onerar os já empobrecidos cofres do país com as despesas supérfluas e caras incorridas para eles. Não é preciso muito para ser realmente operacional, concreto, direto e fazer com que nossos líderes entendam as questões reais na mesa e os problemas reais que existem e afligem a todos nós há 20 anos. Infelizmente, são problemas que nenhum dos políticos hoje parece disposto a resolver, talvez sem as competências adequadas.”
Concluímos sugerindo ao brilhante membro do FdI, criador de novas propostas, sempre expressas com o único propósito de se promover mais e tornar mais conhecida a sua imagem, sobretudo além-fronteiras, que intervenha e faça ouvir a sua voz quando os seus insensatos colegas parlamentares, militantes que também por acaso fazem parte do seu próprio partido, apresentarem iniciativas absurdas, como aconteceu recentemente, visando tributar de forma mais consistente as nossas Comunidades no estrangeiro, de modo a permitir-lhes utilizar, mesmo que estejam inscritas na AIRE como emigrantes no estrangeiro, o serviço público de saúde do Estado que já pagaram com a tributação habitual. Apontamos-lhe, em silêncio, que mesmo esta intervenção dissuasiva seria suficiente para criar uma pitada extra de imagem, não permitindo mais que os nossos representantes eméritos no Parlamento considerem os emigrantes italianos no mundo como cidadãos indignos pertencentes à série “D” do futebol!
Fonte: www.romadailynews.it