Durante o primeiro dia do Salão Internacional de Avicultura e Suinocultura (SIAVS), o setor produtivo de ovos do Brasil se reuniu para debater o peso da exportação e como ampliá-la. “Como o Brasil já está bem sólido com frango no Oriente Médio, é pegar carona no frango para entrarmos nesse mercado”, declarou Leonardo Guerini, trader da Four Import Export, à ANBA. O consultor participou nesta terça-feira (27) do Simpósio Ovosite, que ocorreu na programação do Congresso do SIAVSs.
O evento ocorre desde ontem (27) e termina no dia 29 de agosto, em São Paulo, e além de ter uma exposição, está discutindo com palestras o futuro do setor produtivo. O painel do qual Guerini participou foi ‘Estratégias para aumentar as exportações brasileiras de ovos’. Além dele, debateram o tema Leandro Pinto, fundador da Granja Mantiqueira, Gustavo Crosara, diretor da Somai Alimentos, Ricardo Faria, fundador da Avícola Catarinense e Redilton Bretas, diretor executivo da Bretas Broker.
O aprendizado que o setor produtor de ovos pode fazer com a cadeia produtiva do frango foi um dos destaques nas falas. Para tal, os palestrantes citaram a união dos produtores em torno de associações como a ABPA primordial. O Brazilian Egg, projeto da ABPA em conjunto com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), também foi lembrado como ferramenta para impulsionar na exportação.
Para Guerini, é preciso aproveitar a oportunidade que o Oriente Médio representa para o setor brasileiro. A região é o principal mercado e atende uma necessidade no Brasil de escoar a produção de ovo branco. “Como temos muito mais oferta de ovo branco e o Oriente Médio quer (ovo branco), junta a fome com a vontade de comer”, sintetiza.
Entre as tendências às quais os brasileiros devem estar atentos estão os chamados ovos especiais. “A questão do ovo orgânico, ômega 3, cage free – aquele em que as galinhas são criadas livres -, isso mais cedo ou mais tarde, o mercado vai exigir seja de quem for. Se o Brasil estiver preparado, vai ser o Brasil quem vai abocanhar esse mercado. Se o Brasil esperar pelos outros, vai ficar para o fim da fila”, definiu Guerini.
O palestrante, no entanto, reconhece que primeiro é preciso que o setor se consolide no ovo in natura. “A gente exporta 0,4% do que produzimos. Então, primeiro nós temos que aprender a exportar o ovo in natura, e aí dar o segundo passo. O mercado não vai esperar o Brasil. Eu acho que com o passar dos anos as coisas vão mudando, as necessidades vão aumentando. E eles acabam pedindo o produto antes do que a gente imagina”, afirmou.
Ovos férteis nos países árabes
Entre os pontos levantados no debate, a necessidade de incluir a exportação no planejamento foi destacada. Para os produtores que já atuam no mercado externo, o investimento no início foi primordial para ganhar mercado. “Esse ano, como o mercado interno de ovo fértil está muito bom, nós deixamos US$3,5 milhões na mesa para manter a exportação. Não é exportação de estoque, é lema da companhia de honrar contratos. E fazer contratos de três, quatro anos”, pontuou Ricardo Faria, defendendo a aposta no mercado externo como estratégia de longo prazo.
A Avícola Catarinense possui 16 unidades granjeiras espalhadas pelo Brasil, sendo que a exportação de ovos férteis é responsável por 40% da receita da empresa hoje. A companhia atua desde 2016 com ovos férteis e os países árabes são um dos principais destinos de seu produto. “Em ovo fértil, ao redor de 50% da nossa exportação é para Omã, Arábia Saudita, Abu Dhabi e Dubai”, destacou Faria à ANBA.
Já o mercado de ovos comerciais – os que não são férteis – começou a ser explorado pela avícola recentemente. “Começamos em geral há um ano, até conseguir as permissões e licenças demorou um tempo e começamos a exportar há cinco meses. Estamos exportando aos Emirados Árabes Unidos – Dubai e Abu Dhabi”, declarou o executivo.
Nas vendas aos árabes, ele explica que por enquanto o foco são ovos brancos. Ricardo também lembrou em sua fala a importância do posicionamento de neutralidade, que o Brasil historicamente apresenta, para fortalecer as relações econômicas do país. Hoje, a empresa embarca para fora do Brasil dez toneladas de ovos férteis por dia. Metade deles tem como destino o Oriente Médio. “Imagina que tenho que sair com um ovo do sul de Santa Catarina e chegar com ele a 300 km de Riad [capital da Arábia Saudita], em cinco dias”, exemplificou Faria sobre as questões do embarque. Para os ovos férteis, a empresa envia suas cargas por via aérea.
Com foco em elevar o volume exportado, Faria explica que vê nos países árabes futuros mercados. “Eu acho que o Iraque é um país que tem bastante possibilidade. E fortalecer nosso volume de exportação para Dubai. Precisamos chegar até o ano que vem em pelo menos 10% da nossa receita para exportação”, concluiu o executivo.