O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, ameaçou neste sábado (19) “partir a cabeça” das forças curdas se não abandonarem a zona de segurança próxima da fronteira com seu país na Síria no prazo fixado por um acordo apoiado pelos Estados Unidos.
Se essa retirada não ocorrer “no próximo minuto” após o prazo na noite de terça-feira”, continuaremos (a operação militar) a partir do ponto que paramos e continuaremos a partir a cabeça dos terroristas curdos”, disse Erdogan num discurso.
Após conversas entre Erdogan e o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, a Turquia concordou na quinta-feira em suspender sua ofensiva no norte da Síria por cinco dias, a partir de 9 de outubro, em troca da retirada das forças curdas nesse período de uma área de segurança ao longo da fronteira entre os dois países.
O governo turco considera como “terroristas” as forças curdas sírias por suas relações estreitas com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), à frente de uma sangrenta guerrilha contra Ancara.
Porém, esta milícia curda foi aliada da coalizão internacional na luta contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI) e agora sente que foi abandonada, especialmente pelos Estados Unidos, que anunciou a retirada de seus militares da região.
A operação de Ancara com seus aliados locais sírios abriu uma nova frente de batalha na Síria, país em guerra desde 2011 onde as forças curdas estabeleceram de fato uma região semiautônoma no norte da Síria.
Na quinta-feira à noite, a Turquia aceitou suspender a ofensiva por cinco dias, mas exigiu a retirada das forças curdas da fronteira para acabar com o ataque.
De acordo com a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), mais de 500 pessoas morreram dos dois lados desde o início da ofensiva, incluindo quase 100 civis, e 300.000 pessoas foram deslocadas.
Ofensiva contra Estado Islâmico
O comandante das Forças Democráticas Síria (FDS), majoritariamente formadas por combatentes curdos, anunciou neste sábado a retomada das operações contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI) no leste da Síria, com a coalizão antijihadista liderada por Washington.
Mazlum Abdi afirmou à AFP por telefone que as FDS reiniciaram as operações em Deir Ezzor “com (as forças da) coalizão”, três dias depois de anunciar a suspensão.
Ele destacou que seus combatentes querem que os “americanos tenham um papel na Síria, para que os russos não monopolizem o terreno”.
Abid também afirmou que a Turquia está sabotando o acordo de cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos ao impedir a retirada das forças curdas da zona de segurança no norte da Síria.
“Os turcos impedem a retirada do setor de Ras al Ain, impedem a saída de nossas forças, de civis e de feridos”, disse Mazlum Abdi, antes de recordar que o acordo negociado por Washington “contém um ponto essencial que estipula a abertura de um corredor com a mediação dos Estados Unidos”.