“É hora de colocar o Peru acima de todas as ideologias e posições partidárias isoladas” Pedro Castillo (de chapéu branco), presidente peruano. Na foto, de 26 de agosto, acompanhado do gabinete, agora dissolvido – (crédito: Cesar Fajardo/AFP)
Em uma decisão surpreendente, tomada apenas dois meses depois de ter assumido o cargo, o presidente do Peru, Pedro Castillo, anunciou a renúncia de seu primeiro-ministro e de todo o gabinete ministerial. “Informo ao país que no dia de hoje aceitamos a renúncia do presidente do Conselho de Ministros, Guido Bellido Ugarte, a quem agradeço pelos serviços prestados”, declarou Castillo em breve pronunciamento, de cerca de três minutos, transmitido pela TV estatal. O líder de esquerda, que amarga baixa popularidade e não conta com a maioria no Parlamento, evitou dar detalhes da renúncia e prometeu divulgar o novo gabinete ainda na no Bellido, um engenheiro sem experiência política, de 41 anos, membro da linha-dura do partido marxista-leninista Peru Livre, tinha sido nomeado em 29 de julho para chefiar o primeiro gabinete do governo de Castillo, que pertence ao mesmo partido. Na carta de renúncia, Bellido indica que se afastava do Executivo por solicitação do presidente. “Após cumprir todas as funções correspondentes à instituição, apresento minha irrevogável renúncia ao cargo da Presidência do Conselho de Ministros conforme o senhor solicitou”, diz na carta Bellido, que voltará ao Congresso para exercer funções como parlamentar.
Apelo – Durante o curto discurso, Castillo reiterou seu apelo aos setores econômicos, políticos e sociais “à mais ampla unidade para alcançar objetivos comuns”, como a reativação da economia. “É hora de colocar o Peru acima de todas as ideologias e posições partidárias isoladas”, enfatizou o presidente, um professor rural, que utilizava o típico chapéu amplo de palha.
Há uma semana, Bellido se envolveu em confrontos verbais com o Congresso, dominado pela direita. O Legislativo interpelou o ministro do Trabalho por sua suposta participação nos ataques terroristas cometidos pelo grupo maoísta Sendero Luminoso há quatro décadas. Os congressistas tinham previsto apresentar esta semana uma moção de censura contra o titular do Trabalho, Iber Maraví, a quem Bellido e Castillo defendem, negando seu suposto envolvimento em ações subversivas.
A presidente do Congresso, a opositora María del Carmen Alva, expressou sua satisfação com a renúncia e com a possibilidade de mudanças no gabinete ministerial. “Depois de vários dias de desnecessária incerteza e de ministros muito questionados, saudamos a decisão do presidente Castillo de mudar o gabinete ministerial. O Congresso tem a melhor disposição para o diálogo e a governabilidade”, tuitou a legisladora. O clima de tensão tem marcado a relação entre os dois poderes nos dois últimos meses, uma situação que se agravou desde a morte, na prisão, do líder do Sendero Luminoso, o octogenário Abimael Guzmán, em 11 de setembro. Congressistas de direita atribuem simpatias do governo de Castillo ao grupo maoista, o que o presidente nega.ite de ontem.