Tóquio, Japão – O presidente do comitê organizador dos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, Yoshiro Mori, renunciou ao cargo nesta sexta-feira (12/2), depois que seus comentários sexistas provocaram indignação no Japão e no exterior na semana passada, mas as autoridades não anunciaram o nome do sucessor.
“Minha declaração inapropriada provocou muito caos… Desejo renunciar como presidente a partir de hoje”, disse Mori, de 83 anos, em uma reunião do conselho executivo de Tóquio-2020 convocada para discutir seus comentários. “O mais importante é celebrar os Jogos Olímpicos em julho. Minha presença não deve se transformar em um obstáculo para isto”, disse Mori.
Na semana passada, Mori, ex-primeiro-ministro japonês (2000-2001), conhecido por suas gafes, declarou que as mulheres falam muito durante as reuniões de conselhos administrativos, o que para ele era “irritante”. Ele pediu desculpas de maneira protocolar no dia seguinte, durante uma entrevista coletiva, mas descartou a ideia de renunciar. Isto provocou uma avalanche de críticas no Japão e no exterior.
Atletas, políticos e patrocinadores dos Jogos reclamaram e denunciaram práticas consideradas contrárias à igualdade de sexos e aos valores do olimpismo. Mori afirmou nesta sexta-feira que respeita as mulheres e que pediu a opinião das sete integrantes (de 35) do conselho de administração de Tóquio-2020.
O Comitê Olímpico Internacional (COI) considerou esta semana que as declarações de Mori foram “completamente inapropriadas”, depois de afirmar que o caso estava encerrado com as desculpas do dirigente.
Em um comunicado publicado nesta sexta-feira, o presidente do COI, Thomas Bach, afirmou “respeitar e compreender” a decisão de Mori. Também agradeceu por seu trabalho desde que assumiu em 2014 o comando dos Jogos Tóquio-2020.
Sucessão – A governadora da Tóquio, Yuriko Koike, que criticou as palavras de Mori, prestou homenagem ao dirigente por “todo o trabalho” realizado. O presidente do Comitê Internacional Paralímpico (CIP), Andrew Parsons, agradeceu pelos serviços e disse que a polêmica recente contribui para uma sociedade que “vai enfatizar a diversidade e a inclusão”.
Mori sugeriu que Saburo Kawabuchi, dirigente do futebol japonês, seria o seu sucessor. Mas a proposta, apresentada fora de um processo formal de nomeação, provocou surpresa no país porque Kawabuchi (84 anos) é mais velho que Mori. “Não acredito que indicar um homem idoso como ele vai convencer o público”, afirmou ao jornal Asahi uma fonte ligada à organização dos Jogos. Publicações contrárias à possível nomeação foram publicadas rapidamente nas redes sociais japonesas.
A maneira como a candidatura de Kawabuchi foi anunciada por Mori mostra a cultura de poder muito masculina do Japão, destacou Kazuko Fukuda, ativista dos direitos da mulher, à AFP. “As mulheres não estão envolvidas no processo de decisões, as decisões não são tomadas durante o dia nas reuniões oficiais, e sim nos encontros após o trabalho”, disse Fukuda.
“Nada está decidido”, afirmou a ministra japonesa dos Jogos, Seiko Hashimoto, sobre a sucessão de Mori. A imprensa acredita que Hashimoto, que disputou sete Jogos Olímpicos e é uma das mulheres no governo, é a favorita para substituir Mori.
Outras demissões – O caso Mori é um novo problema para a organização dos Jogos de Tóquio (23 julho-8 agosto), que enfrenta obstáculos para entusiasmar os japoneses depois do adiamento de um ano devido à pandemia, enquanto o contexto de saúde mundial continua preocupante. De acordo com várias pesquisas, mais de 80% dos japoneses desejam um novo adiamento ou o cancelamento do evento.
Os Jogos de Tóquio já estavam marcados por demissões de outras personalidades. O ministro dos Jogos Yoshitaka Sakurada renunciou em abril de 2019 por declarações consideradas depreciativas sobre os habitantes de áreas devastadas pelo tsunami de março de 2011. Além disso, ele afirmou que estava “decepcionado”, sem demonstrar compaixão, quando a nadadora Rikako Ike, grande esperança japonesa, anunciou que sofria de leucemia.
Um mês antes, o presidente do Comitê Olímpico Japonês, Tsunekazu Takeda, anunciou sua saída, oficialmente por sua idade (71 anos no momento). Mas ele estava sob pressão depois de ter sido indiciado pela justiça francesa por ter subornado membros do COI em 2013 para que apoiassem a candidatura de Tóquio.