[:pb]O ativista indiano Kailash Satyarthi que libertou mais de 80 mil crianças de diversas formas de escravidão, fala sobre sua luta contra o trabalho infantil e escravo e faz campanha pelo direito à educação.
O Prêmio Nobel da Paz de 2014, Kailash Satyarthi, encerrou, em Brasília, sua visita ao país onde participou de eventos também no Recife e em São Paulo. Sua primeira atividade foi a Aula Pública organizada pelos membros da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, no Senac Lapa Scipião e na Fecomércio, em São Paulo. Em seus discursos, Satyarthi critica a crescente privatização do ensino, apontando a necessidade de erradicar as desigualdades educacionais para acabar com outras formas de injustiça como a miséria.
“Conhecimento é poder. Então se você coloca esse conhecimento na mão de poucos, vamos continuar a ter disparidades pelo mundo. Se a educação vira commodity, que é o que vemos hoje, o que temos é uma comercialização de um direito fundamental humano”, afirmou.
No Recife e em Pernambuco Kailash Satyarthi fez palestra no Tribunal Regional do Trabalho de cada estado. Já em Brasília, na terça-feira (02), participou da abertura dos trabalhos da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado, de evento comemorativo dos 70 anos da instalação do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e depois de uma recepção na Embaixada da Ìndia.
Senado – Na Comissão de Direitos Humanos do Senado, o objetivo da presença de Kailash Satyarthi foi o de impedir a aprovação de projeto de lei que altera a Lei de Trabalho Escravo no Brasil. Segundo o ativista, o trabalho infantil e o trabalho forçado, são a fonte de trabalho mais baratas que existem. “Sabemos que sempre há interesses econômicos velados nessas situações e que querem que essa situação continue, mas vemos também progresso e compromisso político”, completou.
O senador Cristovam Buarque, do PDT do Distrito Federal, destacou que o Brasil tem uma das melhores leis do mundo sobre trabalho escravo, mas, para ele, a lei está ameaçada pelo projeto de lei que visa retirar da definição de trabalho escravo a condição de degradante e jornada exaustiva. “Não podemos deixar que o país que foi o último a abolir a escravidão no mundo ocidental provoque agora, 128 anos depois, um retrocesso, naquilo que é considerado modernamente como trabalho escravo”, alertou Cristovam.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos, senador Paulo Paim, do PT do Rio Grande do Sul, disse que o projeto de lei em pauta no Plenário, que altera a lei de trabalho escravo no país é um retrocesso. Senadores da Comissão querem que o texto passe por diferentes comissões da casa.
Números – A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 21 milhões de pessoas sejam submetidas ao trabalho escravo hoje, e que os lucros extraídos à custa da escravidão chegam a 150 bilhões de dólares por ano. Se fosse considerada uma atividade econômica, o trabalho escravo seria a terceira mais rentável do mundo, atrás apenas da exploração sexual e do trafico de armas. Segundo a OIT, hoje 168 milhões de crianças são trabalhadoras infantis. Destas, 85 milhões estão em condições de extremo risco, isto é, trabalhando como escravas, soldados infantis, na prostituição, etc.
Como membro dessa articulação mundial, o ativista indiano conhece e apoia as iniciativas da rede brasileira, como as bem-sucedidas lutas pelo Fundeb, a criação do Custo Aluno-Qualidade Inicial, a destinação das receitas do petróleo para a educação e a aprovação e implementação do Plano Nacional de Educação 2014-2024.
Biografia – O ativista tem 61 anos e, desde os 26, quando desistiu da Engenharia, atua na linha de frente do combate ao trabalho infantil, comandando pessoalmente ações para libertar crianças e resgatar sua dignidade. Nascido em Vidisha, na Índia, Satyarthi é engenheiro de formação, mas ganhou reconhecimento internacional ao liderar o resgate de mais de 80 mil crianças que trabalhavam como escravas em seu país e reinseri-las na sociedade por meio da educação.
O feito lhe rendeu o Nobel de 2014, honraria que compartilhou com Malala Yousafzai, a garota paquistanesa que se tornou símbolo da luta pelo direito das meninas à educação após ser baleada, em 2012, pelo grupo fundamentalista islâmico Talebã quando ia para a escola. Satyarthi é também responsável pela Campanha Global pela Educação e pela Marcha Global contra o Trabalho Infantil, maior articulação mundial da sociedade civil contra a exploração infantil, integrada por ONGs, organizações de professores e sindicatos.
“A escravidão humana e o analfabetismo são dois lados da mesma moeda, a educação é um meio de progresso, é a chave para abrir o futuro” Kailash Satyarthi
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