Janaína Figueiredo
RIO – O governo de Jair Bolsonaro fez alguns movimentos na direção correta, mas ainda precisa entregar resultados em matéria de política ambiental, na avaliação do embaixador da União Europeia (UE) no Brasil, o espanhol Ignacio Ybañez Rubio, em entrevista ao GLOBO.
Ybañez admite que existe preocupação na sociedade, em grandes empresas e bancos, mas confia em que o governo brasileiro fará os esforços necessários e será possível, até mesmo, tornar o acordo entre Mercosul-UE realidade.
“Temos insistido muito com o governo brasileiro em que devem começar desde já a cumprir o acordo em matéria de sustentabilidade”, disse o embaixador, que semana que vem participará da XVII Conferência de Segurança Internacional do Forte de Copacabana, iniciativa da Fundação Konrad Adenauer (KAS) e do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), com apoio da UE.
No último ano, a relação entre o Brasil e a UE parece ter sido contaminada pela situação da Amazônia…
Nossa relação é ampla, somos parceiros estratégicos e estamos desenvolvendo diferentes áreas de cooperação, por exemplo, em matéria de defesa e segurança, assunto central da Conferência do Forte. Somos o primeiro investidor no Brasil e o segundo maior parceiro comercial, e durante muito tempo fomos o primeiro. Fomos superados pela China, mas nosso comércio é muito mais diversificado.
A política ambiental do governo Bolsonaro é um obstáculo ao relacionamento?
Temos uma relação intensa, por fora do que se vive dia a dia.
ONGs pediram à UE que não avance no acordo com o Mercosul pela questão da Amazônia. O entendimento está em risco?
Primeiro, acho que o acordo foi pouco celebrado. Foram 20 anos de negociações e chegamos a um resultado muito positivo. O processo de ratificação e assinatura do acordo será político e haverá debate. O acordo tem um capítulo sobre comércio e desenvolvimento sustentável, com compromissos de ambas as partes sobre regras que promovem a sustentabilidade. O capítulo fala, por exemplo, sobre o compromisso de respeitar o Acordo de Paris sobre clima.
Também sobre a proteção da biodiversidade. Existe um debate político, sim, relacionado a questões que acontecem à margem do acordo, como os incêndios na Amazônia e o desmatamento. Temos insistido muito com o governo brasileiro para que comece desde já a cumprir o acordo em matéria de sustentabilidade. Vemos grandes esforços e esperamos resultados. Alguns movimentos vão na direção correta, como a criação do Conselho Nacional da Amazônia Legal.
Mas não foi suficiente…
Ainda precisamos de resultados: ONGs, empresas internacionais e brasileiras, todos têm dado o mesmo recado. A sustentabilidade é uma obrigação para todos. Temos confiança em que vai dar certo.
A preocupação existe, e não somente na UE…
Hoje existe preocupação em geral, aqui na sociedade brasileira, nos grandes bancos, que criaram um conselho para acompanhar esforços e conseguir recursos para criar instrumentos para promover a sustentabilidade. Existe preocupação e nós ofereceremos cooperação. Também é importante dizer que não preocupa apenas o Brasil, os incêndios na Bolívia, no ano passado, também foram motivo de preocupação.
Qual é sua sensação sobre o acordo com o Mercosul?
O acordo é o melhor instrumento para chegar à sustentabilidade. Fizemos um pedido ao governo (Bolsonaro) para que continue na linha marcada pela criação do Conselho da Amazônia. Estou otimista pelos compromissos que tenho ouvido do governo. Reuniões com o vice-presidente, as mensagens que estou recebendo do governo são de que eles também estão preocupados.