Em 1995, em minha função de vice-presidente da Comissão das Nações Unidas sobre o Status da Mulher, conduzi a última reunião preparatória para a 4ª Conferência Mundial sobre a Mulher em Pequim. Era difícil negociar e conectar as diferentes preocupações e desenvolver a Plataforma de Ação de Pequim em um contexto equilibrado, mas chegamos a um consenso.
Havia profundas lacunas entre as posições dos países que queriam fazer progressos significativos em direção à igualdade de gênero, com base na universalidade dos direitos humanos, e aqueles que se apegavam aos valores tradicionais que fomentam o patriarcado.
25 anos depois, ainda estamos longe de garantir a igualdade de gênero em todos os aspectos da vida pública e privada. Ainda hoje, mulheres ocupam apenas 1 em cada 4 cargos de chefia, realizam em média o dobro de horas de trabalho não remunerado em casa e na família, e recebem menos educação e oportunidades de emprego. Há pouco acesso a métodos de planejamento familiar e a taxa global de mortalidade materna ainda é inaceitavelmente alta.
Para melhorar a situação, a ONU Mulheres recomenda apoiar movimentos e lideranças femininas, usar inovações tecnológicas para justiça de gênero, alocar recursos financeiros para sustentar as declarações políticas de compromisso e não deixar ninguém para trás.
O acesso das mulheres à participação econômica é ruim: de acordo com o Fórum Econômico Mundial, a paridade econômica de gênero está prevista para só daqui a 257 anos, apesar de que é reconhecido que a participação das mulheres na economia é boa para os negócios, economias e sociedades como um todo.
Lembremo-nos de que a discriminação econômica abre a porta para outras formas de discriminação mais severa, incluindo abuso sexual, estupro e feminicídio e, de acordo com a OMS, cerca de um terço de todas as mulheres adultas foram expostas a este tipo de violência. Todos nós precisamos nos unir e agir juntos para erradicar a violência de gênero.
As mulheres estão na linha de frente na pandemia Covid19 como médicas, enfermeiras e cuidadoras, mas são afetadas de forma diferente do que os homens. Estatísticas mostram que mais mulheres foram dispensadas de empregos formais, e/ou se ocupam com a educação dos filhos apesar do teletrabalho. Isso é pior em áreas desfavorecidas e situações de habitação precárias.
Muitos países estão implementando planos de recuperação pós-Covid19 e eu gostaria de enfatizar duas áreas em que essa reconstrução é necessária e pode ser um suporte mútuo: mudança climática e igualdade entre mulheres e homens.
Internacionalmente, muitos planos de recuperação econômica focam em mudanças climáticas e promovem sistemas de energia de baixo carbono, o que é muito bem-vindo. Entretanto, para navegar essas mudanças com sucesso, é necessário mobilizar todos os talentos disponíveis, de mulheres e homens. Portanto, deve-se incluir nas estratégias de recuperação pós-Covid19 a participação plena e igualitária das mulheres nas áreas da vida pública e privada. Em minha visão, as transições de energia também podem abrir caminho para sociedades mais inclusivas, diversificadas e preparadas para o futuro.
Irene Giner-Reichl é embaixadora da Áustria no Brasil