Que tal comemorar a independência do país com um vinho nacional?
Por Rachel Alves Nariyoshi
País do continente asiático, a Tailândia (oficialmente Reino da Tailândia), comemora nesta segunda-feira (05), sua data nacional. A capital tailandesa é Bangkok, e tem superfície de 513.120 km² e população com mais de 69 milhões de habitantes. É um país industrializado com grandes atrativos turísticos durante todo o ano. É conhecido como “país sorridente” porque viajar por este país faz qualquer um sorrir! Um verdadeiro paraíso, com belas praias paradisíacas para descansar e desfrutar de momentos únicos com banhos em águas cristalinas. Florestas exuberantes, montanhas altas, rochas fantásticas, áreas muito verdes, belos rios e festas típicas completam a alegria do turista.
A língua tailandesa é complexa, um dos idiomas mais difíceis de aprender porque tem muitos fonemas e o alfabeto é bem diferente do ocidental. Ele é falado na Tailândia e partes do Camboja e Laos.
Mas, falando das origens, diz a história da Tailândia que tudo começou quando o povo Tai, originário da China ocidental, chegou a Yunnan nos séculos II e I a.C. No século III, foi fundado o reino de Nanchao, que perdurou até a conquista do Império Mongol no século XIII. Em 1350 foi fundado o reino Siamês que durou até a intervenção birmanesa em 1767. Entre os séculos XVI e XVII, os tailandeses relacionaram-se com a França de Luíx XIV. E aqui começamos a falar de vinhos.
Luís XIV incentivou o plantio de parreiras em terras tailandesas para o consumo in natura e, em meados do século XX começou a se desenvolver a indústria do vinho. Dentre as inovações, foi adotado o sistema de duas colheitas por ano, usando a técnica da segunda poda como no Brasil, nas regiões de São Paulo até o Nordeste. A Tailândia está entre as latitudes 5° a 21° norte e longitude 97° a 106° leste, isto é, fora das latitudes tradicionalmente consideradas adequadas para o cultivo de uvas para vinificação (entre os paralelos 30° e 50°). O uso de técnicas de viticultura adaptativa tem tido sucesso e os vinhos tailandeses têm se tornado reconhecidos entre uma variedade crescente de vinhos finos. Produzir vinho em climas tropicais tem os seus desafios, com calor e umidade elevados que podem originar fungos e outras doenças nos parreirais. Os produtores de vinhos tailandeses têm investido e melhorado constantemente as técnicas de cultivo de uvas nos trópicos, o que atrai enólogos de geração jovem, entusiasmados e à procura de inovações. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Tailândia está no mapa da vitivinicultura juntamente com outros países, elaborando os chamados “vinhos tropicais”.
A produção de “vinhos tropicais” é muito particular e diversa em relação àquela praticada em regiões de clima temperado e suas características são desafiadoras quando comparadas às da vitivinicultura tradicional. É uma atividade altamente tecnológica, pois ações de manejo, como poda, irrigação e uso de reguladores de crescimento e floração das videiras, são as grandes responsáveis por garantir esse novo modelo de cultivo e a produtividade desejada num país tropical que não tem um ciclo normal das quatro estações.
Na Tailândia hoje são cultivadas as vitis viníferas Barbera, Cabernet Sauvignon, Chenin Blanc, Grenache, Muscat, Petit Syrah, Sangiovese, Semillon, Syrah, Tempranillo, Touriga Franca, Touriga Nacional, Verdejo e Viogner, que elaboram excelentes vinhos, frescos, com excelente acidez e corpo leve a médio. São naturalmente de baixa complexidade e quase 50% da produção são de vinhos tintos.
Falando das vinícolas tailandesas, começaremos pela Vinícola GranMonte que se encontra a 150 km de Bangkok e a 350m de altitude do nível do mar, ao lado do Parque Nacional de KhaoYai (o primeiro parque nacional tailandês, inaugurado em 1962). O nome GranMonte (grande montanha) é inspirado na cadeia montanhosa que circunda a vinícola. Elaboram excelentes vinhos varietais e os emblemáticos Asoke Cabernet Sauvignon, o GranMonte Verdejo e o The Orient Syrah (vinho tinto de qualidade superior com produção limitada a 3.000 garrafas). São os mais condecorados da Tailândia, tendo conquistado mais de 100 prêmios nos últimos quatro anos e foram produzidos pela enóloga Nikki Lohitnavy. Formada em enologia pela Universidade de Adelaide/Austrália, esteve no Brasil várias vezes visitando as vinícolas que elaboram os “vinhos tropicais” em São Paulo e em Petrolina/PE, além de sempre ser convidada para palestrar no Simpósio Internacional de Vinhos Tropicais.
O vinhedo é cultivado no sistema de agricultura de precisão chamado Smart Vineyard, que incorpora um sistema de monitoramento de microclima. O sistema auxilia no manejo dos vinhedos ‘tropicais’ para alcançar a melhor e maior rendimento de uvas neste clima de viticultura não convencional.
As visitas guiadas à GranMonte são um atrativo à parte. Com excelente serviço, inicialmente faz-se um passeio pelas vinhas de aproximadamente 1,5 horas, explorando o vinhedo em um confortável trailer, onde técnicas de viticultura, clima, solo e uvas serão explicadas. Depois visitas às adegas com degustação dirigida de vinhos, onde o turista conhece os processos e os equipamentos modernos de vinificação, a sala de barris de carvalho e as máquinas de engarrafamento.
Nessa vinícola foi criado a “Trilha enoturística” a partir de Bangkok, uma rota com vários restaurantes, paisagens deslumbrantes, represa Pasak-Cholsith, cachoeiras Seven Ladies de Muak-Lek e a época indicada para fazer essa rota é de outubro até maio.
A segundavinícola é a Monsoon Valley Vineyards, fundada em 2001, seus vinhedos estão localizados em colinas situadas geograficamente mais próximas à costa litorânea, cercado por parques nacionais e selvas. A escolha desta área foi perfeita, pois o solo vermelho fértil e as condições climáticas convenientes criaram a melhor plataforma para o cultivo a variedade Syrah.
As uvas são cultivadas em 3 áreas: Hua Hin Hills, Tab Kwang Vineyard e Chiang Mai Vineyard. Hua Hin Hills, a maior das três, abrange mais cerca de 110 hectares de terra não cultivadas para fins agrícolas, reservada para preservar a vida selvagem local.
Em 2009, O crítico de vinhos Robert Parker comentou que “Talvez a maior surpresa tenha sido o Colombard 2008 de Monsoon Valley. Este saboroso vinho tem uma semelhança com o maravilhoso Colombard que costumava ser feito em Napa Valley”.
Muitas árvores nativas e estrangeiras podem ser vistas em Monsoon Valley Vineyard, incluindo manga, mamão, azeitonas, café, framboesas, baobá, amoras e várias ervas. Além dos vinhos expressivos, a excelente estrutura receptiva inclui um tour ao melhor estilo safari a bordo de jipes, mountain bike numa trilha de 3 km, passeios vendo elefantes nos vinhedos e restaurante de cozinha notável, com música ao vivo. Do alto do terraço do restaurante, tem-se a bela paisagem dos vinhedos. Interessante comentar que a Monsoon Valley lançou o projeto “Ban Khok Chang Elephant Sanctuary” para ajudar a reduzir o número de elefantes na cidade e trazê-los de volta para a natureza. A Wildlife Friends Foundation assessorou com os cuidados dos animais e ajudou a projetar a área para ser um habitat natural.
Cerca de 70% da produção de vinhos da Monsoon Valley Vineyards é exportada, sendo que 50% desse total tem como destino o Reino Unido, e os 20% restantes são encaminhados para os vizinhos asiáticos. “Nossos carros-chefes são o espumante Brut Blanc de Blanc, o branco Colombard, o Syrah Rosé, e o Chenin Blanc Premium”, afirma a Chiraphan Permsuwan, gerente da vinícola.
A terceira vinícola é a PB Valley Khao Yai Winery que fica a 150 km a leste de Bangkok. Está localizada no belo Parque Nacional Khao Yai com solo franco-argiloso numa altitude de 300 a 350m, excelente para o cultivo de uvas para a elaboração de vários vinhos finos fabulosos. Fundada em 1989, a PB Valley Khao Yai Winery produz vinhos excelentes e muito premiados internacionalmente.
Todos os vinhos produzidos na PB Valley Khao Yai Winery são cultivados dentro da propriedade e envelhecem até 21 meses em tanques de aço inoxidável e em tonéis de carvalho francês. Em 2006 os vinhos receberam muitas medalhas de ouro, prata e bronze. Além desses, os vinhos receberam Certificados de Aprovação e outros reconhecimentos locais e internacionais de várias organizações de prestígio como: The AWC Vienna na maior degustação às cegas de vinhos do mundo, The Decanter Magazine Reino Unido, Concurso Internacional de Vinhos e Bebidas Espirituosas de Hong Kong, APEC Austrália e O Desafio do Vinho Tailandês. Produzem além de vinhos, o Licci, schanapps de lichia e o Pirom Brandy.
Cultivam as vitis viníferas Cabernet Sauvignon, Chenin Blanc, Colombard, Syrahe Tempranillo. E para atender ao turista, a PB Valley tornou-se um destino certo dentro do atrativo Khao Yai que pode ser visitado durante todo o ano, contando com a vindima no final de janeiro até meados de março, mas as uvas de mesa (frescas, in natura) são cultivadas e colhidas durante todo o ano. O passeio guiado pelo vinhedo e pela vinícola leva os visitantes a uma área para fotos e picnic nos vinhedos. Durante o inverno, de novembro até fevereiro, os visitantes têm a oportunidade de ver uma nova atração, flores e árvores sazonais e bem coloridas.
A quarta vinícola da Tailândia é a Mountain Creek Vineyard, fundada em 2014, na região tropical do Triângulo Dourado da Tailândia com a ideia de produzir uvas de mesa brancas premium sem sementes para o mercado internacional e interno para consumo in natura. Em 2017, foi inaugurado o café Wine Bar e restaurante para os visitantes e, desde então, Mountain Creek Vineyard se tornou um importante destino turístico da região do Mekong, com preparos clássicos tailandeses harmonizados com vinhos, além de oferecer doces e bolos personalizados para atender ocasiões especiais como confraternizações, aniversários, etc.
A quinta vinícola tailandesa é a Alcidini Winery, conhecida como a vinícola boutique de Khao Yai. Alcidinidae é o nome científico da ave nativa da região. Está localizado em uma colina perto do Parque Nacional Khao Yai, na área da vila de Nong Nok Kraten, distrito de Pak Chong, província de Nakhon Ratchasima.
Os vinhos Alcidini são elaborados a partir das uvas Shyrah e Muscat Blue, cultivadas em área de 40 hectares e numa altitude de 550 metros acima do nível do mar e está a 2 horas de Bangkok. Nos parreirais, foram adotados o Lyre Trellising System, que maximiza a interceptação da luz solar, independentemente da orientação das linhas de plantio. Isso resulta em excelentes uvas viníferas para a produção de vinhos de qualidade.
A sexta e última vinícola da Tailândia é a Silverlake Vineyard, uma linda vinícola à beira-mar perto de Pattaya, na costa sudeste. Local pitoresco na base de Khao Chi Chan (Buddha Mountain), Silverlake Vineyard é um destino turístico para visitantes em Pattaya. São dois passeios disponíveis, um pelos vinhedos em carrinho elétrico e outro é uma caminhada dentro da vinícola com degustação dirigida de vinhos. Os passeios levam cerca de 30 a 45 minutos, passando por lagos, jardins e moinho de vento de estilo europeu.
Fundada em 2002 pelo Sr. Surachai Tangjaitrong e pela Sra. Supansa Nuangpirom (famosa atriz tailandesa), Silverlake Vineyard é um projeto vitivinícola de paixão combinando bons vinhos, artes e boa música.
Segundo a Tengara Strategics, em 2021 o tailandês consumiu, em média, cerca de 8,3 litros de vinho por ano, o que é uma boa média se comparado com o Brasil que consumiu no mesmo período 2,64 litros segundo a Ideal Consulting e, também, considerando que a Tailândia tem rígidos regulamentos sobre publicidade alcoólica, taxando pesadamente a produção de vinhos.
A gastronomia tailandesa é semelhante à de seus vizinhos chineses e indianos, mas se diferencia pelos seus sabores e ingredientes originais, como o leite de coco, curry, menta, amendoim, coentro e manjericão. É uma celebração da vida cotidiana! São pratos mais condimentados com especiarias, quase sempre picantes. Em geral, os pratos levam carnes variadas de suíno, peixe, camarão e frango e são preparados na tradicional wok.
Na harmonização dos preparos tailandeses com vinhos, sugerimos os vinhos espumantes. No geral são os vinhos versáteis para harmonizar com qualquer preparo, da entrada à sobremesa. Nas frituras, caldos, curry, peixe frito ou assado e pratos gordurosos é a indicação adequada, pois esses vinhos espumantes limpam o paladar com sua acidez natural. Vinho espumante brut é o curinga, aquele que harmoniza com todos os preparos. E na Tailândia, os vinhos espumantes são de alta qualidade. A vinícola GranMonte Vineyard, lançou recentemente o seu primeiro Crémant, elaborado da variedade Chenin Blanc e desde 2011, a vinícola Monsoon Valley faz o vinho espumante Extra-Brut Rosé, o melhor da região. Em 2018, o Monsoon Valley Brut Prestige Espumante Vintage ganhou medalha de ouro no concurso Mundus Vini The Grand International Wine Award 2019 na Alemanha.
Proponho um brinde à data nacional da Tailândia, dia 05 de dezembro, um dia especial que é comemorado o aniversário do falecido Rei Bhumibol Adulyadej.
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