Rachel Alves Nariyoshi
Após a adição da aguardente, a maturação ocorre em barricas de carvalho
Vinho do Porto, “o vinho mais conhecido no mundo”, tem seu dia comemorado em 10 de setembro. E essa data nos leva de volta ao ano de 1756, quando o Rei de Portugal, Dom José, encorajado por seu Secretário de Estado, Sebastião José de Carvalho e Melo – Marquês de Pombal -, outorgou a primeira Denominação de Origem do mundo (DO), a DO do Alto Douro Vinhateiro, conhecida popularmente como a DO do Douro. Essa DO delimitou o cultivo das vinhas nos “socalcos”, que são os terraços nas encostas íngremes ao longo do rio Douro. Região de beleza inigualável que, desde 2001, é Patrimônio da Humanidade pela Unesco.
A DO do Douro estabelece a padronização e um rigoroso processo de elaboração do Vinho do Porto, cuja fiscalização e controle é realizada pelo Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP), que além dessas atribuições, mantem, na cidade de Peso da Régua, o Museu do Vinho do Douro. Estive visitando esse museu, que é um espaço de referência para conhecer toda a história e cultura da produção do Vinho do Porto.
No Caderno de Especificações da Denominação de Origem do Douro, diz-se que o nome “Porto” é citado, inicialmente, em 1619. Em 1699, já se usava a designação “Wine Port”, e em 1713 já era conhecida a “marca do Porto”. A partir do dia 10 de setembro de 1756, as expressões “Vinho do Porto”, “Vin de Porto”, “Port Wine”, “Porto” e “Port” passam a ser usadas, exclusivamente, nos vinhos produzidos na DO do Douro.
A “descoberta” do vinho do Porto é polêmica, há muitas versões. Uma delas – e a mais aceitável pela
professora que vos escreve – diz que, no século XVII, os portugueses adicionavam brandys (aguardente vínica – com cerca de 77º de álcool) ao vinho para evitar que ele estragasse até chegar ao seu maior mercado consumidor que era a Inglaterra. Por conta do seu elevado teor alcoólico, esse processo interrompe a fermentação, ficando o vinho com açúcar residual.
Com isso, o vinho do Porto, é mais doce que muitos outros vinhos. Além de doce, é um vinho fortificado, licoroso e, ainda, bem alcoólico. Após a adição da aguardente, o vinho segue para a maturação em barricas de carvalho e depois para as garrafas onde envelhece, por um período que varia de acordo com cada estilo. São produzidos vários estilos entre o branco, rosé e os tintos Ruby e Tawny. Há ainda a categoria dos vinhos Especiais: Reserva, Colheita, LBV – Late Bottled Vintage, Vintage e o Lágrima, conforme explicarei a seguir.
Porto Branco: Elaborado a partir de uvas brancas, apresenta-se com muitas opções de cores que vão do branco pálido ao dourado e sabores extremos, desde o muito seco ao muito doce. Os brancos maturados em madeira, apresentam aromas de frutas secas e nuances cítricas. É um vinho aperitivo e muito usado na elaboração de coquetéis.
Porto Rosé: Vinho de cor rosada, com boa exuberância aromática e notas de cereja, framboesa e morangos. Na boca é suave e agradável. Diferentemente dos vinhos do Porto tintos, sua indicação de consumo é quando jovem, gelado ou com gelo e é muito usado em coquetéis.
Porto Ruby: Encorpado, rico e poderoso e de tons vermelho rubi escuro, vinho jovem, frutado e intenso, com sabores de amora, cereja, ameixas e groselha preta. Seu envelhecimento em garrafa torna-o mais aveludado e ainda mais complexo. Fica em média 2 anos na madeira.
Porto Tawny (10, 20, 30 ou 40 anos): Teoricamente é envelhecido por mais tempo que o vinho Ruby, por isso apresenta cor âmbar. São ricos e complexos em sabores e aromas.
Porto Reserva: Tem a particularidade de ser bebido, quer como aperitivo quer como vinho de sobremesa. Caso seja servido como aperitivo, deverá ser gelado. O termo Reserva pode ser aplicado ao vinho branco ou aos tintos Ruby e Tawny.
Porto Colheita: vinho elaborado de uma única safra (the best). Passa de 7 a 12 anos na madeira. E, nesse tempo, os aromas jovens, frutados e frescos, evoluem por via oxidativa, dando lugar a um bouquet em que sobressaem os aromas de frutos secos, madeira e especiarias. No decurso do envelhecimento, vão ficando harmônicos e mudando para a cor castanho dourado.
Porto LBV (Late Bottled Vintage): É a preciosidade dos Portos. É o vinho de uma única colheita. Mantem cor rubi intenso e é muito frutado. É maturado nos barris por longos anos e evolui gradualmente durante 10 a 50 anos nas garrafas. É muito encorpado e rico na boca. The best wine! Sabor do chocolate negro, tudo equilibrado por fortes taninos, que combinam na perfeição. À medida que o LBV se aproxima da maturidade, a cor evolui para os tons âmbar e adquire maior sutileza e complexidade. Apresenta uma particularidade: Sua vedação é com rolha natural e inteira, diferente dos demais vinhos do Porto, e isso significa que a garrafa deve ser mantida deitada (para que o vinho mantenha a rolha úmida).
Vintage: É a classificação mais alta que pode ser atribuída a um vinho do Porto. E só pode estampar no rótulo a palavra Vintage aquele que foi obtido da colheita de um só ano e de uma só vinha, e é produto das vindimas consideradas de excepcional qualidade. Sua maturação é longa e seu envelhecimento pode chegar a 150 anos na garrafa de vidro, tornando elegante e sem adstringência, além de apresentar bouquet distinto. Atenção: sua indicação de degustação é somente para após as refeições, no momento de reflexão, o que chamamos de “vinho de meditação”, acompanhando elegantemente os charutos.
Lágrima: É uma das novidades dos últimos anos. É mais doce que os demais e apresenta uma tonalidade dourada e aromas de frutas secas. Deverá ser servido fresco (10 a 12ºC) e com sobremesas geladas.
As harmonizações aqui sugeridas para os Vinhos do Porto são da Vinícola Calem/Porto/Portugal:
Antes da refeição: Porto Branco, servido fresco é um fantástico aperitivo. Se as entradas incluírem
queijos fortes ou patês, o Tawny 10 anos é o indicado.
Durante da refeição: Se as refeições forem leves, à base de saladas ou peixes grelhados, o Porto Branco continua a ser uma excelente escolha. Nos assados e carnes com molhos intensos com pimentas ou algumas especiarias, o LVB é opção ideal para o acompanhamento, equilibrando a intensidade de sabores.
No final da refeição: A sobremesa, momento de excelência para saborear Vinho do Porto. Os bolos, tortas e mousses de chocolate ficam bem com o LBV. Os doces (com açúcar e ovos na sua base) são realçados pelos sabores delicados do Tawny de 20 anos. A salada de frutas, sorvetes, sobremesas cremosas ou torta de amêndoas são indicados para harmonizar com Tawny mais jovem. Mas, se a opção na sobremesa for um cheesecake ou queijos de pasta mole, então a indicação é o Ruby.
Depois da refeição – vinho de meditação: Vinho do Porto Vintage.
Parabenizamos e brindamos com o Vinho do Porto, o vinho mais conhecido no mundo!
@rachelalves.professoravinhos