Em entrevista exclusiva para à Agência Embassy de Comunicação, o embaixador do Nepal Nirmal Raj Kafle fala das ações que o país vem tomando para se desenvolver, sair da Lista dos Países Menos Desenvolvidos (LDC) até 2026, da preocupação com as mudanças climáticas e da exploração de conhecimento na área de energia. Segundo o diplomata, recém-nomeado embaixador no Brasil, em 8 de setembro, o Nepal quer divulgar esse desenvolvimento mundialmente. Segundo o embaixador Kafle, há uma perspectiva para a cooperação econômica entre o Nepal e o Brasil em particular nas áreas de energia hidrelétrica, turismo e agricultura. “Temos belezas naturais e patrimônios históricos que queremos que os brasileiros conheçam”, afirmou.
Nirmal Raj Kafle disse ainda que a intenção do governo nepalês é ampliar as relações bilaterais. Segundo ele, os dois países também têm opiniões semelhantes para promover o interesse dos países em desenvolvimento a fim de atingir o objetivo de uma justa e equitativa nova ordem internacional e pontos comuns sobre questões de interesse mútuo, em diversos fóruns internacionais.
Embassy – Qual é a forma como Governo do Nepal pretende deixar a Lista dos Países Menos Desenvolvidos (LDC) até 2026?
Há cerca de duas décadas, o povo no Nepal começou uma campanha para sair da condição de país menos desenvolvido. Isto é uma questão de orgulho nacional e é também o caminho natural de todo estado nacional para se tornar próspero e desenvolvido, e é necessário para o Nepal tomar este caminho. Infelizmente, em 2015, quando o Nepal foi atingido por um terremoto, esse projeto foi, de certo modo, adiado, porém mais tarde com a economia em uma condição de estabilidade, com indicadores econômicos favoráveis, novamente ele retomou o caminho. As Nações Unidas aprovaram o plano para nossa saída da condição de LDC até 2026.
Dos três critérios, o Nepal cumpriu dois. Apenas o critério da renda falta ser cumprido, pois está um pouco abaixo do valor estipulado pelas Nações Unidas. O nosso Produto Interno Bruto per capita é quase US$1.200, que está abaixo do valor prescrito, mas observando como a transição está se dando e os prospectos que temos no país, essa meta será facilmente alcançada. Com essas perspectivas em mente, o governo está se preparando para uma suave transição. Para o Nepal essa transição não é o foco principal, é um meio para futuras perspectivas para institucionalizar as conquistas do Nepal na política e na economia.
Nesse contexto, nós institucionalizamos alguns dos mecanismos para tornar nossa transição mais suave, justa e irreversível. Nós não queremos que nossa transição regrida, como aconteceu com outros países, mas que seja de forma sustentável. A Comissão de Planejamento Nacional que é presidida pelo próprio Primeiro-Ministro do Nepal está liderando esse processo em parceria com o setor privado já que haverá um perceptível efeito neste setor. Haverá uma mudança no tratamento de marketing dos nossos produtos mundialmente, mostrar nosso desenvolvimento.
Nós precisamos de US$ 19 bilhões por ano para enfrentar estes desafios, mas sabemos que nestes desafios, os nepaleses estão juntos na busca pelo conhecimento. Sabemos ainda que mais indústrias virão, mais prospecção de negócios. Então, desta maneira queremos conseguir um impacto na sustentabilidade.
Embassy – Que tipo de produtos o Nepal tenta exportar?
Basicamente nós temos produtos tradicionais derivados do algodão e outros 18 produtos para exportação. O Nepal está produzindo atualmente roupas de algodão sustentável e competitivas no mercado mundial. Desenvolvendo prioritariamente produtos como jeans, cardigan, pashmina, chá, mel e café. Também exportamos tapetes para o Brasil regularmente.
Embassy – Como o senhor define o potencial do setor tecnológico do Nepal?
Tecnologia certamente é um setor importante para o desenvolvimento de um país, uma prioridade em todos os países desenvolvidos. Neste mundo interligado a tecnologia possibilita viajar de um país para outro. Queremos complementar os projetos que temos, o potencial do país para manter trabalhos conjuntos com os países desenvolvidos.
O Nepal produz energia renovável, produtos agrícolas, serviços do sistema bancário. Somos ricos em produção de energia nas estações de pico, mas pouca nas de baixa. Podemos aproveitar a alta tecnologia para melhorar nossa energia. Queremos uma alta qualidade de transmissão. O Brasil é líder com mais de 100.000 megawatts produzidos. Uma das minhas missões aqui é exatamente explorar este setor.
Embassy – O Nepal parece estar preocupado com o meio ambiente e tem o compromisso de alcançar emissões líquidas de carbono zero até 2045. Como está a atual situação do país neste setor?
O Meio ambiente é muito importante para o Nepal. Deixe-me dar um pequeno briefing do que o Nepal está sofrendo com a mudança de clima. Estamos localizados no Sudoeste do Himalaia. O gelo ao Norte do Himalaia está descendo montanha abaixo e alagando plantações. Apesar de estarmos em uma área não industrializada também estamos sofrendo com o excesso de carbono. Por esta razão, passamos a ter tempestades, tornados, deslizamentos, enchentes etc… Estes tipos de fenômenos meteorológico estão atingindo o Nepal mais repetidamente. Por exemplo, em 2019, o país teve a primeira experiência de um tornado.
Como falei, temos blocos de gelo que vêm do Himalaia por rio abaixo e as pessoais são atingidas. Neste contexto as estações climáticas são importantes. Queremos ser o líder na preservação e na redução na produção de gás carbônico até 2045. Foi o que disse nosso Primeiro-Ministro na COP 26 e contribuir com outros países com fortes ações na implementação de projetos de proteção ao meio ambiente. Vamos apelar aos parceiros globais para contribuírem com US$ 1 bilhão para ações climáticas, encorajamos todos a ter um alto nível de cooperação, liderando o processo de financiamento de tecnologias.
Embassy – A embaixada distribuiu seu primeiro lote de E-passaportes eletrônicos que contêm um dispositivo eletrônico para a gravação de seus dados, um Chip. Como isto foi feito?
O Nepal chegou a um estado avançado de distribuição de passaporte, o mais avançado documento de viagem. Decidimos distribuir para todos os nepaleses aqui. No Brasil implantamos este projeto no ano passado. No Brasil nós temos uma pequena comunidade de nepaleses vivendo, menos de 100 atualmente. Em Brasília nós não temos nenhuma. Distribuímos o passaporte porque as pessoas precisam viajar. Para distribuir os passaportes no Brasil, precisamos viajar para alguns lugares. Foi um processo um pouco complicado, mas foi uma boa experiência. Conseguimos atingir 100 por cento.
Embassy – A embaixada possui consulados no Brasil?
Não, não temos, apenas a embaixada. Temos em outros países onde a relação comercial, negócios, investimentos são maiores e tem um grande número de nepaleses, como na região do Golfo, na Arábia Saudita, Catar, Oriente Médio, Malásia, porém as grandes comunidades estão na Europa e nos Estados Unidos. Em Canberra, na Australia o nepalês é a terceira língua mais falada, depois do inglês e do chinês.
Embassy – Qual é a sua expectativa em relação aos projetos bilaterais. Que tipo de troca; comercial, cultural e científica, você pretende realizar?
Estamos procurando áreas em que possamos trabalhar juntos, explorar mais áreas de cooperação. Nossos países têm muitas similaridades na cultura, os dois povos têm um forte senso de humildade, respeito pelos mais idosos e pelos valores familiares etc.
A partir destas similaridades e senso de afinidades, podemos nos apoiar em benefício mútuo. A conexão cultural é o contato entre os povos. Para isso, podemos trazer grupos do Nepal para se apresentarem no Brasil e daqui para se apresentarem no Nepal. Ambos os países estão unidos pela tradição em dança, música, folclores e muitos outros.
Existem vários outros projetos em que pretendemos expandir, como exemplo o intercâmbio de negócios já está acontecendo. O terceiro grupo da Câmara de Comércio e Indústria Nepal-Brasil vai visitar o Brasil em breve. Ainda não temos a data por causa das eleições nos dois países, sendo a do Nepal daqui a um mês. Outras oportunidades que estão se abrindo, por exemplo, ambos os países partilham os valores democráticos, acreditam fortemente na democracia e no parlamento. Uma vez que os parlamentos estiverem escolhidos nos dois países poderemos reativar os grupos de amizade parlamentar. Eles têm uma grande influência em moldar as relações internacionais.
Embassy – O senhor acredita que haverá alguma mudança nas relações bilaterais depois das eleições?
Isto depende de quem for eleito nos dois países, então podemos abordá-los e reativar os grupos de amizade parlamentar. As eleições não farão nenhuma diferença nas nossas relações, elas vão evoluir. Outros aspectos que podem ser mencionados nos projetos de relações bilaterais, por exemplo, estamos discutindo com o governo é o compartilhamento no setor educacional, cooperação técnica e também agricultura, energia e saúde. Estas são as áreas em que devemos trabalhar juntos no futuro. Uma coisa que não gostaria de deixar de mencionar é a cooperação Sul-Sul (SSC). O Brasil é um país de liderança no desenvolvimento desse inovador conceito Sul-Sul, oferecendo uma quantidade considerável de tecnologia para os países em desenvolvimento. Por meio destes mecanismos, o Nepal também deseja se beneficiar e também fortemente apoiar esta iniciativa do governo do Brasil.
Embassy – No que diz respeito ao turismo, como pretende ampliar a troca de turistas? E quais são as atrações do Nepal?
Neste momento a contribuição do turismo para a economia, no Produto Interno Bruto, não é muito grande, é de cerca de três por cento, mas quando falamos na contribuição dele na empregabilidade em geral, chega a cerca de milhões de empregos diretos e indiretos no mercado de trabalho. A importância do turismo na nossa economia é imensa. Como se sabe o Nepal é um país rico em termos de patrimônio cultural, nossas belezas naturais, paisagens, o povo sempre sorridente. Portanto temos potencial para desenvolver o turismo. E com o Brasil, podemos fazer algo juntos, em benefício mútuo. Se você observar as estatísticas há muitos brasileiros viajando todos os anos e, antes da pandemia eram perto de quatro mil brasileiros que viajavam para o Nepal. Este não é um número pequeno dada a distância e o custo de viagem proibitivo. Ainda assim conseguimos atrair muitos brasileiros para o Nepal antes da pandemia acontecer, mas, depois dela, o setor turístico está se recuperando e desejamos atrair mais e mais turistas brasileiros. Os setores que são de interesse para os brasileiros são o montanhismo, trekking, atrações culturais e caçadas.
Sabemos que os brasileiros são ávidos montanhistas, também gostam do turismo de aventura que temos em abundância em vários setores. Esperamos criar pacotes atrativos para os turistas do Brasil em geral. A embaixada também planeja trabalhar com operadoras de turismo, agências de viagens no Brasil e atualizá-las sobre os pacotes de turismo e produtos que o Nepal oferece. Como eu mencionei sobre a visita da Câmara de Comércio e Industria do Nepal, nós esperamos ter alguns empreendedores interessados na área de turismo. Se pudermos conectá-los com as principais agências de turismo, isto ajudaria na promoção do turismo.
Uma coisa que gostaria de acrescentar é que o Brasil é a principal economia da América Latina. Não somente uma economia de destaque e uma potência emergente e também líder de várias outras agendas, incluindo mudanças climáticas, cooperação Sul-Sul como mencionei anteriormente, operações de paz e muitas outras agendas de importância global. Essas são algumas áreas em que temos intercâmbio de cooperação, onde temos a mesma visão. Por exemplo, as operações de paz das Nações Unidas são um fórum onde nossos países têm trabalhado em conjunto pela causa dos países em desenvolvimento em agendas específicas como mencionei que nós compartilhamos. Referente à agenda climática, o Brasil sediou vários eventos históricos voltados para o meio ambiente, como biodiversidade em 1992.
Neste contexto, nós precisamos encontrar novos caminhos, novas plataformas para expandir estas cooperações e estes intercâmbios. Esta embaixada está comprometida em trabalhar próxima aos nossos correspondentes aqui no Brasil. Isto não inclui necessariamente somente as agências do governo, mas grupos parlamentares, comunidades empresariais, a sociedade civil, a mídia e as pessoas em geral. Nós estamos ansiosos para trabalhar em parceria com os brasileiros.