Liz Elaine Lôbo e Súsan Faria
Produção: Elna Souza
Em tempos de “guerra” contra o Covid-19, cada nação está tomando suas iniciativas para manter a situação controlada. No Marrocos, o governo fechou os aeroportos, estradas e o mar para controlar as chegadas e saídas do país, como ainda decretou o isolamento social. Isso, segundo o embaixador Nabil Adghoghi ajudou na limitação da pandemia que já tirou a vida de 71 cidadãos até essa segunda-feira (6). O país decretou o uso obrigatório de máscaras.
Em entrevista exclusiva à revista Embassy, o diplomata marroquino falou da construção de hospitais de campanha na capital, Casablanca e na campanha iniciada pelo chefe da nação, o Rei Mohammed VI, que já arrecadou cerca de US $ 3,5 bilhões, com doações de empresas privadas, de bancos e de pessoas físicas.
Nabil Adghoghi explicou que os funcionários afiliados à previdência social daquele país vão receber uma remuneração de US $ 250 líquidos por mês, até 30 de junho de 2020. No tocante aos imigrantes o embaixador disse que, graças a uma nova política migratória, eles têm “acesso total e irrestrito” aos serviços sociais tanto quanto os cidadãos marroquinos. Na economia, tão impactada pela pandemia, o governo também está abrindo novos caminhos e mantendo algumas transações comerciais. Certos negócios com o Brasil, por exemplo, foram mantidos como o embarque de fertilizantes. Leia agora a entrevista na íntegra.
Embassy – De que forma o Marrocos está enfrentando a epidemia do Covid-19?
O Marrocos decretou, no dia 20 de março, o fechamento das fronteiras aéreas, terrestres e marítimas, e ordenou um confinamento domiciliário, o que permitiu que a propagação do vírus ficasse relativamente limitada, com 1.100 casos até agora, com muitos casos curados que tiveram alta hospitalar. Infelizmente, o país teve 71 pessoas falecidas.
A primeira urgência para o Marrocos foi “sanitária”, com o lançamento pelo governo de uma série de licitações para equipar os hospitais em leitos UTI, em respiradores artificiais, em kits de testagem, em máscaras. Diante da urgência, o país teve também que erguer hospitais de campanha. O último está sendo erguido em Casablanca, com uma capacidade de 700 leitos.
Embassy – Quais as medidas adotadas pelo governo e a situação atual do país?
Sendo uma economia altamente conectada nos fluxos da globalização, a economia do Marrocos está sendo impactada pela pandemia, principalmente a indústria automobilística, a indústria têxtil e o turismo. Trata-se de setores que empregam dezenas de milhares de pessoas e que arrecadam renda externa significativa.
Diante desse panorama, Sua Majestade o Rei Mohammed VI lançou um apelo à solidariedade dos marroquinos. O fundo criado nesse sentido já arrecadou cerca de US $ 3,5 bilhões, com doações de empresas privadas, de bancos e doações de pessoas físicas. Esse fundo está permitindo ao governo enfrentar duas outras urgências: a “econômica” e a “social”.
O Comitê de Vigilância Econômica, que reúne o governo com entidades empresárias, adotou uma série de medidas de apoio às empresas, que enfrentam desaceleração ou cessação de suas atividades. Por outro lado, os funcionários afiliados à previdência social vão receber uma remuneração de US $ 250 líquidos por mês, até 30 de junho de 2020. Também os bancos decidiram adiar o vencimento dos créditos bancários referentes aos meses de março, abril, maio e junho.
O governo também cuidou dos autônomos e das pessoas que atuam no setor informal, com auxílio mensal direto de até US $ 150 por família. Igualmente, as PMEs se beneficiarão de uma moratória no pagamento de vencimentos de empréstimos e arrendamentos bancários até 30 de junho, sem pagamento de taxas ou multas. Elas poderão acessar linhas de crédito adicionais com os bancos.
Embassy – De que forma o governo marroquino espera ajudar os imigrantes africanos que vivem no país?
No que toca aos imigrantes instalados no Marrocos, vale lembrar que o governo marroquino adotou, há mais de cinco anos, uma nova política migratória que garante justamente o acesso total e irrestrito dos imigrantes às mesmas prestações sociais (saúde, ensino, habitação…) que os cidadãos marroquinos, sem restrição ou discriminação nenhuma. Portanto, os imigrantes, assim como os turistas que se encontram no Marrocos, gozam dos mesmos direitos e das mesmas restrições sanitárias que os próprios cidadãos marroquinos.
Embassy – De que forma a embaixada já ajudou e está ajudando os cidadãos marroquinos que estão no Brasil? Quantos eles são?
Desde o início da pandemia, a Embaixada recebeu várias ligações de turistas marroquinos que se encontraram no Brasil, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. A Embaixada desde então assumiu a responsabilidade de arcar com as despesas tanto do hotel como de alimentação. Até o momento temos 12 cidadãos marroquinos nessa situação. A Embaixada está obviamente em contato permanente com os esses cidadãos para acompanhá-los, até a sua repatriação para o Marrocos, assim que a conexão aérea da Royal Air Maroc for retomada.