Jornal do Brasil
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, foi proclamado nesta terça-feira (22) oficialmente reeleito para governar até 2025, em meio a uma forte rejeição internacional, com um país em ruínas e cada vez mais isolado.Maduro, de 55 anos, recebeu de Tibisay Lucena, presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), as credenciais como vencedor das eleições de domingo, desconhecidas pela oposição e por parte da comunidade internacional.
Sua reeleição, boicotada pela oposição Mesa da Unidade Democrática (MUD), provocou uma primeira série de sanções econômicas dos Estados Unidos e uma chuva de críticas dos governos das Américas e da Europa.”Nunca presenciamos um ataque internacional tão duro quanto o que caracterizou esse processo”, disse Lucena na cerimônia perante a cúpula militar, o gabinete presidencial e os membros da Assembleia Constituinte.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou na segunda-feira um decreto proibindo os cidadãos de seu país de comprar títulos da dívida venezuelana, incluindo da estatal PDVSA, para complicar a entrada de recursos para Maduro, num contexto de grave falta de liquidez.
Em resposta, Madurou anunciou nesta terça a expulsão do representante diplomático dos Estados Unidos na Venezuela. “Declaro persona non grata e anuncio a retirada em 48 horas do encarregado dos negócios dos Estados Unidos (Tod Robinson)”, declarou ao receber as credenciais.
Os analistas preveem um agravamento do desastre sócio-econômico sofrido pelo país com as maiores reservas de petróleo do mundo, com escassez de alimentos e medicamentos, hiperinflação, uma queda brutal na produção de petróleo e êxodo de centenas de milhares de pessoas.
Maduro atribui o colapso a uma “guerra econômica da direita” aliada a Washington, e promete uma “revolução econômica” para trazer prosperidade durante seu segundo mandato, que terá início em janeiro de 2019.
“O que está por vir é maior isolamento diplomático e comercial e mais dificuldades em acessar crédito e financiamento”, prevê o analista Diego Moya-Ocampos, do IHS Markit, com sede em Londres.Com uma abstenção recorde de 54%, Maduro foi reeleito com 68% dos votos contra 21% do ex-chavista Henri Falcón, que acusou o governo de “compra de votos” e “chantagem” com programas populistas.
A França assegurou nesta terça que a votação “não pode ser considerada representativa”, enquanto o Grupo de Lima (Canadá e 13 países latino-americanos) convocou para consultas seus embaixadores em Caracas e concordou em agir para bloquear fundos internacionais para a Venezuela.
A União Europeia também denunciou “irregularidades” na reeleição de Maduro e informou nesta terça-feira que estuda possíveis sanções contra o país.Em um comunicado, a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, destacou que as eleições presidenciais venezuelanas foram celebradas “sem cumprir com as normas internacionais mínimas para um processo crível”.
Ela antecipou que os 28 membros do bloco, que contam com um marco jurídico de sanções, “vão considerar a adoção das medidas adequadas”.Quanto às sanções americanas, a Venezuela afirmou ser vítima de um “linchamento político e financeiro” dos Estados Unidos, inspirado nos postulados racistas da Ku Klux Klan (KKK).
“Alertamos a comunidade internacional sobre a ameaça à paz mundial que representa o regime supremacista, racista e intervencionista que governa em Washington, inspirado nos postulados nefastos do (movimento de extrema-direita) Ku Klux Klan”, declarou o Ministério das Relações Exteriores em um comunicado.
O governo de Donald Trump “promove o ódio, a intolerância e o linchamento político e financeiro” contra a Venezuela, acrescenta o texto.O governo de Maduro acusou a Casa Branca de intensificar um “criminoso bloqueio financeiro e econômico”, que qualifica como um “crime contra a humanidade”, porque impede o “acesso a bens essenciais”.Estados Unidos, Canadá e União Europeia sancionaram dezenas de hierarcas venezuelanos. A lista de Washington inclui Maduro e o número dois do chavismo, Diosdado Cabello.
– “Um ditador” – Após a votação, Maduro convocou um “diálogo”, mas a oposição até agora descartou essa possibilidade, dizendo que não vai cair nas “estratégias dilatórias” para ocultar o que considera uma “farsa”.A oposição, profundamente dividida, pede “eleições reais”. O Parlamento, de maioria opositora, mas na prática anulado pelo governo por meio do Judiciário e da Assembleia Constituinte, se reuniu nesta terça-feira para condenar as eleições.
“O povo venezuelano deslegitimou o regime de Maduro. Está claro que ele é um ditador. Não podemos continuar divididos”, declarou a deputada de oposição Mariela Magallanes.Para os especialistas, o desafio da oposição é se unir em torno de “uma estratégia” que atinja o chavismo, no poder há quase duas décadas.