Sisi não conseguiu no entanto mobilizar a população para que fosse à urnas, como havia tentado nos últimos dias
Como esperado de antemão, em uma disputa sem rivais viáveis, os resultados preliminares das eleições egípcias sugerem a reeleição do atual presidente, o ex-general Abdel Fattah al-Sisi, 63. Ele recebeu cerca de 92% dos votos, segundo o jornal local Ahram, um número que será confirmado oficialmente apenas em 2 de abril.
Sisi não conseguiu no entanto mobilizar a população para que fosse à urnas, como havia tentado nos últimos dias. As primeiras estimativas mostram um comparecimento de em torno de 40%, em um universo de 95 milhões de habitantes e 60 milhões de eleitores.
Em sua primeira eleição, no pleito de 2014, Sisi havia tido 97% dos votos e 47% de participação, de acordo com os dados de seu governo. Sua primeira gestão foi marcada por um crescente autoritarismo, evocando as lembranças da severa ditadura de quase 30 anos de Hosni Mubarak -o que pode ter desestimulado eleitores.
Havia a princípio uma série de candidatos de oposição com alguma força, como o ex-premiê Ahmed Shafiq, o ex-chefe das Forças Armadas Sami Anan e o sobrinho do ex-presidente Anwar Sadat, Mohamed Sadat. Eles abandonaram a corrida, porém -uns foram detidos, enquanto outros disseram que o pleito não seria justo.
Sobrou apenas o obscuro arquiteto Moussa Moustafa Moussa, amplamente desconhecido pela população. Ele se registrou uma hora antes do prazo, em janeiro, e anteriormente fazia campanha na internet pelo próprio presidente Sisi. Ele recebeu somente 3% dos votos, diz o jornal Ahram.
As eleições deste ano foram realizadas em três dias, de segunda até a quarta-feira (28). Durante esse período, o ativista político George Ishak, membro do Conselho Nacional para os Direitos Humanos, disse à reportagem que boicotaria o voto. “Não é uma eleição de verdade, e sim um plebiscito”, afirmou Ishak.
Com o pleito descrito pela oposição e por organizações de direitos humanos como uma farsa, o governo de Sisi perde ainda mais legitimidade na região. Foram abundantes os relatos, nos últimos dias, de compra de voto -às vezes em troca de cestas básicas, ou mesmo por menos de R$ 10.
Estas foram as terceiras eleições livres no Egito, após o país ter vivido alguma euforia com a derrocada do ditador Hosni Mubarak em 2011, nos protestos que ficaram conhecidos como Primavera Árabe. A população elegeu em 2012 o islamita Mohamed Mursi, que foi no entanto deposto um ano depois pelo Exército, liderado por Sisi.
Sisi, por sua vez, venceu as eleições seguintes em 2014, após abandonar seu cargo de ministro da Defesa e comandante das Forças Armadas, com o que tentou se afastar da imagem de militar. Nos quatro anos de mando, Sisi apertou o cerco contra terroristas, mas também contra a própria população, perseguindo ativistas e jornalistas. Manifestações públicas se tornaram um evento raro.
O Egito é o país árabe mais populoso, e seus desdobramentos políticos são seguidos com atenção em toda a região. Surgiram ali correntes como o nacionalismo pan-árabe de Gamal Abdel Nasser, nos anos 1950 e 1960, e o islã político da Irmandade Muçulmana, até hoje com influência nas nações vizinhas. Com informações da Folhapress.