O novo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, apresentou nesta quinta-feira (25) suas condições para um novo acordo de saída de seu país da União Europeia (UE), consideradas “inaceitáveis” pelo negociador da UE, Michel Barnier.
“O acordo foi rejeitado três vezes (…) Seus termos são inaceitáveis para este Parlamento e este país”, declarou Johnson, em seu primeiro discurso aos deputados britânicos após assumir o cargo, na quarta-feira.
O dirigente conservador, que se cercou de uma guarda eurocética, reivindicou em particular “a abolição da salvaguarda” irlandesa, destinada a evitar a reimposição de controles na fronteira para a província britânica da Irlanda do Norte e sua vizinha, a República da Irlanda, após o Brexit. “Inaceitável”, respondeu o negociador da UE, Michel Barnier, utilizando o mesmo vocabulário de Johnson.
“Uma falta de acordo nunca será a opção da UE, mas todos devemos estar preparados para todos os cenários”, acrescentou.
O titular da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, reiterou em seu primeiro debate com Johnson que o acordo concluído em novembro é o “melhor e único” pacto possível.
“O presidente Juncker escutou o que o primeiro-ministro Johsnon tinha para dizer, reiterando a posição da UE de que o Acordo de Retirada é o melhor e único acordo possível”, indicou uma porta-voz da Comissão Europeia, após o encontro.
Prioridade para preparativos de ‘no deal’
Os dirigentes da UE repetiram sempre que não reabririam o acordo de divórcio concluído em novembro com Theresa May, que se viu forçada a renunciar após o repúdio deste texto por parte dos parlamentares britânicos.
Ao contrário, estão abertos a mudar a declaração política adjunta ao acordo, que estabelece as bases da futura relação entre o Reino Unido e a UE após o Brexit.
“Preferiria sair da UE com um acordo”, afirmou Johnson, apesar de ter anunciado que havia pedido a Michael Gove, seu braço-direito no governo, que preparasse o “no deal”, sinônimo, entre outras coisas, de voltar aos controles de fronteiras, uma “prioridade absoluta”.
Johnson prometeu, aconteça o que acontecer, sair da UE antes de 31 de outubro, para fazer de seu país “o lugar mais genial do mundo”, tentando afastar as previsões pessimistas em caso de “no deal”.
“Nossos filhos e netos vão viver mais, mais felizes, gozando de melhor saúde e mais ricos”, afirmou. Destacou, ainda, que os cidadãos da UE residentes no Reino Unido poderão ficar no país.
Guinada à direita
Sem ter ainda se mudado para Downing Street, onde se instalaria com a companheira Carrie Symonds, de 31 anos, o recém-chegado Johnson anunciou o viés de seu governo, desfazendo-se de grande parte da equipe de May, e nomeando para as pastas-chave fervorosos “Brexiters”, como Dominic Raab, de 45 anos, que herdou a diplomacia britânica, Priti Patel, de 47, nova ministra do Interior, e Jacob Rees-Mogg, de 50, encarregado das relações com o Parlamento.
O líder dos Trabalhistas, principal partido opositor, Jeremy Corbyn, denunciou um “governo de extrema direita” e advertiu que os trabalhistas vão se opor a qualquer acordo do Brexit que não proteja o emprego, os direitos dos trabalhadores e o meio ambiente.
Corbyn convocou uma manifestação para a tarde desta quinta-feira para pedir eleições legislativas antecipadas, lembrando que Johnson foi eleito apenas pelos militantes conservadores e não representa todos os britânicos.
No entanto, a possibilidade desta consulta é pouco provável, afirma John Curtice, professor de política na universidade de Strathclyde, avaliando no “Telegraph” que seria um “erro terrível para os tories (conservadores)”, visto que as pesquisas de opinião lhe são pouco favoráveis.
Além da oposição, Johnson deverá contar também com a resistência do Parlamento – onde só tem uma maioria de dois assentos, graças a representantes de seu aliado norte-irlandês DUP -, bem como de deputados conservadores favoráveis a permanecer na UE. Por exemplo, o ex-ministro das Finanças Philip Hammond anunciou que estava disposto a tudo para impedir um Brexit sem acordo.
A primeira-ministra da Escócia, onde grande maioria dos eleitores votou contra a saída da UE, pediu a Johnson que proponha à sua província uma “opção alternativa” a seus projetos para o Brexit. Nicola Sturgeon, que também lidera o partido nacionalista SNP, ressaltou que o Parlamento escocês estudará nos próximos meses os textos da lei que permitam um novo referendo sobre sua independência.