Autor é o novo imortal da Academia Brasileira de Letras
O diplomata e escritor João Almino toma posse nessa sexta-feira (28) na Academia Brasileira de Letras (ABL). Eleito por unanimidade para ocupar a cadeira 22, que foi do médico Ivo Pitanguy, o novo imortal é o entrevistado desta Conversa com Roseann Kennedy. Ele fala sobre a entrada na ABL, da inspiração para os seus livros e da busca constante pela inovação.
Para João Almino, foi um estímulo ser eleito para a ABL, uma instituição de 120 anos que merece respeito por ser “uma academia sem academicismos, que não impõe uma linha estética ou política”. Além disso, a admiração pelos confrades é “uma fonte adicional de prazer”, afirma.
Almino publicou seis romances bem recebidos pela crítica. Entre eles, “Ideias para onde passar o fim do mundo” (1987), “As cinco estações do amor” (2001), que venceu o Prêmio Casa de Las Américas, e “Cidade livre” (2010), finalista dos prêmios Jabuti e Portugal-Telecom. Também escreveu ensaios literários e filosóficos. Seus livros de ficção foram traduzidos para o inglês, francês, espanhol, italiano e outros idiomas.
Como diplomata, viveu em diversas partes do mundo. Nascido em Mossoró, no Rio Grande do Norte, em 1950, afirma a presença do nordeste na sua obra, mas a maioria das histórias que cria é ambientada na capital federal. “Eu pensei que ao situar as histórias em Brasília não deixaria de fora nada do que queria escrever sobre o nordeste”, explica. Muitos de seus personagens são nordestinos que vieram ganhar a vida no Planalto Central. “Brasília é um Brasil de Brasis”, o que permite, segundo ele, “ ter uma visão do Brasil um pouco mais ampla do que uma visão exclusiva a partir de um único lugar”.
Além disso, quando começou a escrever romances, não havia uma tradição literária na capital da utopia modernista, o que fazia com que Almino se sentisse mais livre e ao mesmo tempo atraído pelo significado simbólico daquela promessa de modernidade, que, afinal, não se cumpriu, na sua opinião.
Desde o seu primeiro livro, o escritor relutou em aceitar os adjetivos de vanguardista e pós-modernista que alguns críticos literários atribuíram a ele. “Acho que você sempre está no limite do seu tempo”, justifica. Por outro lado, a inovação é uma das suas maiores preocupações. “Não faz sentido escrever para repetir, nem se auto-repetir. Então, é importante no trabalho de ficção procurar inovar um pouco, ir um pouco além das fronteiras que já foram traçadas para a própria ficção, do ponto de vista técnico, da linguagem e assim por diante”.
Em seus romances, trava um diálogo com outras formas de expressão contemporâneas. João Almino conta que no seu primeiro livro dialoga com o roteiro de cinema. Outro “é escrito por uma máquina”, em alusão ao papel do computador e da internet, ainda em seus primórdios na época. Num dos mais recentes, o narrador escreve um blog, que é corrigido por um editor. “Em todos os casos dou tratamento literário ao texto”, completa Almino. Vários personagens migraram de um livro para o outro, por isso dizem que ele escreveu um sexteto, embora o escritor não considere que haja uma sequência nas suas obras.
Fiel à disciplina que a escrita exige, Almino conta que às vezes leva mais tempo revendo os textos do que na primeira versão da narrativa. Para ele, a literatura é uma necessidade. “É algo que não posso deixar de fazer. É isso que me move acima de qualquer coisa. É importante ter leitores, é importante comunicar, mas acima de tudo é uma necessidade íntima”.O sétimo romance de João Almino está pronto e deve chegar às livrarias até o fim do ano. “Em geral, quando concluo um livro, já tenho ideia de outro”, revela.
Fonte: EBC