Liz Elaine Lôbo
Produção: Elna Souza
O governo gabonês tem dificuldades de fazer a população respeitar o confinamento, principalmente na capital Libreville. O primeiro caso da Covid-19 no Gabão foi confirmado em 12 de março. A situação parecia sob controle, mas o governo voltou atrás e manteve a situação de emergência, temendo novas infecções. Em entrevista exclusiva à revista Embassy, o embaixador do Gabão no Brasil, Jacques Michel Moudoute-Bell, fala do problema de saúde no país.
O diplomata descreve ainda as dificuldades econômicas com a pandemia e a queda no preço do petróleo, mas também exalta a preocupação do governo gabonês com a preservação ambiental. O Gabão tem 80% de seu território coberto por uma imensa floresta e 13 grandes parques nacionais. O embaixador, enfim explica os novos quatro pilares do país; o Gabão Verde, o Gabão Industrial, o Gabão de Serviços e o Gabão Azul. Leia a íntegra da entrevista de Jacques Michel Moudoute-Bell.
Embassy – Qual o quadro atual do Gabão, em estado de emergência, com a pandemia do novo Coronavírus? A Organização Mundial de saúde, OMS, realmente alertou o país em relação ao desrespeito ao confinamento como divulgou a imprensa?
Com relação à pandemia do coronavírus, as autoridades gabonesas implementaram medidas drásticas para limitar, ao máximo, a propagação do vírus, como por exemplo o confinamento da Grande Libreville, fechamento das escolas e de todas as atividades não essenciais, interdição de reuniões e aglomeramentos, e outras visando o distanciamento social. Por hora, o governo concentra sua luta com diferentes medidas de fechamento e isolamento, mas a população, como em quase todos os países, não está consciente e respeitosa no cumprimento destas medidas.
Embassy – O Gabão é conhecido pelo exemplo de preservação de florestas. Como o governo tem conseguido não prejudicar o meio-ambiente?
O Gabão sempre teve a preservação da natureza como uma de suas principais prioridades, sendo um país coberto 80% de seu território por uma imensa floresta. Não é um fato novo para seu povo, conhecido como « povo da floresta » , sempre lutando pela sua preservação, não retirando mais do que o necessário desta imensa floresta mais do que o necessário para sua sobrevivência.
Por sua parte, os diferentes governos que tivemos no Gabão sempre implementaram políticas a favor da preservação do meio ambiente. Em 2002, o ex-presidente Omar Bongo Ondimba decretou a criação de 13 parques nacionais, gerenciados pela Agência Nacional de Parques Nacionais do Gabão. Estes parques abrangem 13% do território nacional. Com relação a outras medidas, vale ressalatar a preservação da fauna local. Está no Gabão 60% da população de elefantes vivos e em liberdade vivendo na África.
Mais recentemente o Gabão engajou-se na preservação de 30% de suas terras, e também 305 milhas de oceano até 2030. Trata-se de uma inciativa conscistente com o quadro mundial pós 2020 sobre a preservação da biodiversidade em consonância com os anseios do planeta.
Vale ressaltar que estes esforços são reconhecidos e valorizados pela comunidade intaernacional. Prova disto é que a Noruega acaba de repassar ao Gabão 150 milhões de dólares, que tem como contrapartida, em 10 anos, a redução da emissão de gases do efeito estufa, resultantes do desflorestamento irregular.Se trata de um acordo histórico onde o Gabão é o primeiro país africano a receber um aporte financeiro como este, resultado de sua política e seus esforços para preservação do meio ambiente.
Embassy – No Gabão, o petróleo está no centro da política de recuperação do país. O produto é a esperança de mais desenvolvimento e independência?
Desde o início da exploração nos anos 60, o petróleo sempre tem sido parte importante do PIB do Gabão. Ele participa de maneira significativa no desenvolvimento do país, visando a sua independência. No entanto, pensando em prevenir que seu futuro seja demasiado dependente das flutuações do preço do barrril de petróleo no mercado mundial, nem querendo exaurir suas reservas naturais, as autoridades gabonesas optam pela diversificação da economia baseada em outras fontes de energia.
O Plano Estratégico Emergente implantado pelo Presidente Ali Bongo Indimba visa, entre outros, este objetivo. Consiste na valorização do potencial humano local, na diversificação de seus recurosos naturais e minerais. Com esta estratégia o desenvolvimento do país deve basear-se em três pilares: o « Gabão Verde », o « Gabão Industrial », e o « Gabão de Serviços ». Recentemente, foi acrescentado como pilar importante o « Gabão Azul », que consiste na proteção da vida marinha. Os últimos anos vêm demonstrando, inclusive, que o percentual do petróleo no PIB do Gabão vem decaindo constantemente. Se nos anos 80, por exemplo, o petróleo representava mais que 50% do PIB gabonês, em 2015 esta participação ficou em torno dos 32%.
Embassy – O Gabão foi considerado o país menos corrupto da África Central continental. As autoridades gabonesas continuam dando prioridade ao combate à corrupção?
A respeito da luta contra a corrupção, o Gabão, assim como outros países do mundo, trava uma luta implacável contra a corrupção, pois somente isso trará a vitória do país contra este flagelo, podendo oferecer ao seu povo um futuro de desernvolvimento harmônico e atender aos Objetivos do Milênio das Nações Unidas.
Para este combate, as mais altas autoridades do país colocaram em marcha diferentes mecanismos na luta contra a corrupção. Neste sentido foi criada a Comissão Nacional de Luta contra o Enriquecimento Ilícito. Em 2019, o governo promulgou um novo código penal, particularmente severo no caso das infrações do mercado financeiro.
Da mesma forma, as operações anticorrupção estão aumentando no país, atingindo inclusive funcionários próximos ao Presidente da República, Senhor Ali Bongo Ondimba, que não foram poupados de ser punidos em operação realizada em dezembro de 2019.
Embassy – Como estão as relações, acordos e comércio do Gabão com o Brasil?
As relações entre o Brasil e o Gabão são antigas, datam de mais de 45 anos e são marcadas, inclusive, por visitas oficiais de presidentes de ambos os países. Pelo Brasil, o Presidente Luiz Ignácio Lula da Silva, e pelo Gabão o Ex-Presidente Omar Bongo Ondima, em duas ocasiões diferentes. Além disto, a presença dos dois países em diversas Comissões Mistas fortalece ainda mais estes laços, permitindo a assinatura de diversos acordos de cooperação para impulsionar este relacionamento, tanto as autoridades brasileiras quanto as gabonesas trabalham no âmbito diplomático para a organização de uma grande Comissão Mista.