Rachel Alves Naryyoshi
É a partir dela que são elaborados os vinhos Tokaji, lendários há séculos, por suas características ímpares de complexidade, longevidade e riqueza gustativa, além de encerrar uma refeição com muita elegância!
Furmint é a uva do Vinho Tokaji, da região de Tokaj na Hungria. Uva de casca fina, avermelhada, de grande acidez, elevado potencial aromático, sabores particularmente exclusivos e suscetível ao ataque do fungo Botrytes Cinerea, responsável pela “podridão nobre”, que se apresenta em forma de pó acinzentado, daí no nome Cinerea (cinza, em latim). Sua colheita é árdua pois é colhida diariamente, bago a bago e somente os bagos botrytizados. Esse fungo fura as cascas das uvas, desidratando-as, concentrando naturalmente o açúcar e provocando diversas reações químicas que conferem estrutura ao emblemático vinho Tokaji, conhecido como “Rei dos vinhos” e “Vinho dos reis”, cujo processo de elaboração é bem peculiar.
Trazem nos rótulos a indicação do número de puttonyos utilizado na sua elaboração, podendo ser de 1 a 6 puttonyos. Isso quer dizer que o vinho que tem 3 puttonyos, por exemplo, foi elaborado com 3 barris de 30 litros (chamados de puttonyos) de vinho elaborado da uva Furmint botrytizada e mais um barril de 100 litros (chamado gönc) da mesma uva Furmint, porém sadia (sem ataque do fungo Botrytes Cinerea). Mas, há ainda o vinho Tokaji Essencia que é um tipo especial, o mais complexo de todos, considerado o crème de la crème, produzido com 100% de uvas Furmint botrytizadas, é o caso do Royal Tokaji Essencia 2008, que foi envasado em um decanter de 1,5 litro e custa US$ 40 mil.
Vinhos de sobremesas são, também, conhecidos por dessert wines, pudding wines, ice wines, vinhos late haverst, vinhos botrytizados, vinhos licorosos, vinhos de uvas passificadas ou ainda, Spätlese. Mas o vinho Tokaji é tão notável que eu o considero “vinho de meditação”. Os produtores afirmam que seus vinhos podem amadurecer nos barris göncs por décadas, como também podem envelhecer nas garrafas por 150 anos que é assegurado sua confiável longevidade.
Conta a história que em julho de 1650, os soldados do Império Turco-Otomano avançavam em terras húngaras. O clérigo da comunidade, Máté Sepsi Laczkó, determinou que a vindima (colheita das uvas) fosse adiada para não enfurecer os turcos, uma vez que estes não consomem álcool. Enquanto isso, as uvas já maduras foram atacadas pelo fungo Botrytis cinerea, ficando enrugados, desidratadas, mas concentrando açúcar natural. No final de outubro daquele mesmo ano, após a partida dos soldados, os húngaros esmagaram os cachos contaminados e fizeram a fermentação. Na Páscoa do ano seguinte foram surpreendidos: o vinho era um néctar divino! Reza a lenda que, faça chuva ou faça sol, a colheita só começa em 28 de outubro, dia de São Judas Tadeu.
Pelo sim, pelo não, supersticioso ou não, vamos apreciar o vinho Tokaji bem gelado para que fique delicadamente licoroso e vamos parabenizar a uva Furmint pelo seu dia especial.
Tim-tim!
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