O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, conversou com o presidente francês, Emmanuel Macron, na quinta-feira (25), disse o porta-voz de Johnson.
O novo líder britânico usou o telefonema para reiterar sua posição sobre o Brexit. “Quando o primeiro-ministro tiver essas conversas com outros líderes e a discussão seguir para o Brexit, ele apresentará a mesma mensagem que entregou na Câmara dos Comuns”, disse o porta-voz.
A mensagem é a seguinte: Johnson tentará fechar um acordo para a saída do Reino Unido da União Europeia, mas não nos termos daquele que já foi negociado entre Theresa May e os europeus, que foram rejeitados pelo Parlamento em Londres.
O outro lado
A França e outros países europeus não rediscutirão os termos do acordo fechado com Theresa May, disse uma ministra francesa nesta sexta-feira (26).
Amélie de Montchalin, ministra francesa para Assuntos Europeus, afirmou que o presidente Emmanuel Macron debaterá o Brexit com Johnson na França nas próximas semanas.
Está fora de questão renegociar o pacto de desfiliação combinado entre a antecessora de Johnson e a UE, mas que os dois lados ainda têm muito para conversar, segundo ela.
“Temos que criar um relacionamento de trabalho e não ficar com jogos, gestos e provocações”, disse Amélie.
Johnson também conversou por telefone com líderes políticos do dos países que formam o Reino Unido: País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte.
A outra Irlanda
O ministro das Relações Exteriores da Irlanda, Simon Coveney, disse que a abordagem do novo premiê britânico sobre negociações acerca do Brexit é pouco colaborativa e não levará a um entendimento.
A Irlanda não faz parte do Reino Unido e pertence à União Europeia.
Ela faz fronteira com a Irlanda do Norte, essa sim, parte do Reino Unido e que, portanto, poderá sair do bloco econômico.
Na prática, a fronteira entre os dois países será a fronteira entre a UE e o Reino Unido, e bens e serviços podem deixar de fluir livremente.
Hoje, não há postos policiais ou de autoridades nos pontos que marcam a divisão das duas Irlandas –e ninguém quer que eles existam, porque isso aumenta o risco de violência política.
Foi sugerido um mecanismo conhecido como “backstop”, que iria exigir a permanência do Reino Unido na união alfandegária da União Europeia, mas que previne a volta dos postos de controle.
Johnson é contrário a esse mecanismo, e disse isso no Parlamento. Os irlandeses não gostaram.
“As declarações do primeiro-ministro britânico na Câmara dos Comuns foram pouco colaborativas a esse processo”, afirmou Coveney.
“Ele parece ter feito uma decisão deliberada para direcionar o Reino Unido por uma rota de colisão com a União Europeia e a Irlanda no que diz respeito às negociações do Brexit, e eu acredito que apenas ele pode responder ao porquê de estar fazendo isso”, disse.
As opções na mesa
Veja abaixo quais são as alternativas que o Reino Unido e a Europa têm para tentar acabar com o impasse em que as partes se encontram.
UE cede a Boris Johnson
Os líderes da UE finalmente aceitam um novo acordo de retirada sem o chamado “backstop” destinado a impedir o retorno dos controles na fronteira entre a província britânica da Irlanda do Norte e sua vizinha a República da Irlanda após o Brexit.
Esse cenário, que evitaria as terríveis consequências econômicas de um divórcio brutal, parece improvável.
Os líderes da UE repetiram que não pretendem reabrir o acordo de Brexit alcançado após difíceis negociações. O negociador da UE, Michel Barnier, declarou na quinta-feira (25) ser “inaceitável” a proposta de Boris Johnson de eliminar a chamada “rede de segurança”.
Ao conceder demasiadas concessões ao Reino Unido, os líderes da UE também arriscariam estabelecer um precedente que poderia seduzir outros eurocéticos no continente, o que eles querem evitar.
Brexit sem acordo
Os dois lados não conseguem se entender e o Reino Unido deixa a UE sem um acordo de retirada, um cenário para o qual Boris Johnson diz estar pronto: ele afirma que quer deixar a UE a qualquer custo em 31 de outubro.
“O Reino Unido está melhor preparado para essa situação do que muitos pensam”, garantiu Johnson, que deseja, porém, acelerar o ritmo dos preparativos. Ele pediu a Michael Gove, seu braço direito no governo, que faça da preparação do “no deal” sua “prioridade máxima”.
Uma “falta de acordo nunca será a escolha da UE, mas todos nós devemos estar prontos para todos os cenários”, disse Michel Barnier.
O Parlamento britânico, no entanto, é mais hostil a uma saída sem acordo. Para impor essa alternativa, Boris Johnson pode optar por suspender o Parlamento, impedindo os deputados de se pronunciar. Tal iniciativa poderia, no entanto, criar uma crise política.
Nesse cenário, surge a questão do pagamento de 39 bilhões de libras (45,5 bilhões de euros) que Londres deve à UE para liquidar seus compromissos com seus parceiros no momento de sua saída.
Em caso de saída sem acordo, essa quantia estaria disponível para “ajudar a gerenciar possíveis consequências” relacionadas a essa súbita saída, disse Johnson. Assim, ficaria exposto a represálias.
No início de junho, o presidente francês Emmanuel Macron alertou que “não honrar suas obrigações de pagamento seria uma violação equivalente a um calote em sua dívida soberana, com as consequências já sabidas”.
Segundo referendo ou eleições antecipadas
Jeremy Corbyn, chefe do Partido Trabalhista, o principal partido da oposição, quer que os britânicos possam se pronunciar no âmbito de uma “votação pública” sobre o Brexit ou em eleições parlamentares antecipadas.
Tal votação poderia ser organizada após a votação de uma moção de desconfiança contra o governo apresentada pelo Labor, que diz esperar pelo melhor momento para fazê-lo. O recesso parlamentar começou na quinta à noite, e a oposição só poderá iniciar tal movimento no início de setembro.
Eleições também poderiam ser convocadas por Boris Johnson na esperança de fortalecer sua maioria, que atualmente tem apenas dois votos, graças ao apoio de seu aliado, o pequeno partido unionista norte-irlandês DUP. Alguns comentaristas políticos notaram que seu governo parece uma equipe de campanha.
John Curtice, professor de política na Universidade de Strathclyde, estima, no entanto, que seria um “erro terrível para os Tories” convocar tais eleições, em uma análise publicada no site do “The Telegraph”, ressaltando que os conservadores têm apenas 25% das intenções de voto de acordo com pesquisas recentes.