Carga financeira para cursar a universidade obriga os recém-formados a adiar por vários anos investimentos como a compra da casa própria
El Pais
A geração Y, a que nasceu entre meados dos anos 1990 e começo do novo milênio, está afundada em dívidas nos Estados Unidos. O dado do Federal Reserve sobre a situação financeira das famílias é preocupante. Quatro de cada dez pessoas que concluíram os estudos universitários têm de devolver algum tipo de empréstimo. O total acaba de superar 1,5 trilhão de dólares (5,9 trilhões de reais), um montante que ultrapassa a riqueza de uma economia avançada como a da Espanha.
A dívida universitária supera tranquilamente o 1,1 trilhão (4,3 trilhão de reais) em financiamentos para a compra de automóvel. Também a que se acumula nos cartões de crédito, que se aproxima do trilhão. O problema, como mostram as estatísticas do banco central dos Estados Unidos, é que esses empréstimos se combinam. A dívida média do recém-formado chega a 28.400 dólares (cerca de 112.000 reais), segundo The College Board. A cifra é maior para os estudantes que vão para universidades privadas.
As mulheres devem dois terços do total, de acordo com cálculos que utilizam como referência o relatório do Fed correspondente ao primeiro trimestre e outras instituições. A American Association of University Women (AAUW), uma organização que promove a educação entre as adolescentes, explica que a predominância feminina se deve em parte ao fato de haver mais mulheres matriculadas do que homens. Elas representavam 56% do total em 2016. E também porque pedem mais empréstimos.
A brecha de gênero na dívida estudantil explica por que uma recém-formada deve em média 2.740 dólares (10.700 reais) a mais do que um homem. Os dados também mostram que elas devolvem o valor mais lentamente, o que significa que acabam pagando mais em juros. “É um problema ao qual não se presta atenção”, afirma a AAUW, que o atribui à menor renda disponível das mulheres para quitar a dívida.
O custo médio da matrícula em uma instituição pública é de 14.210 dólares (55.700 reais) se o estudante permanecer em seu Estado. Essa cifra sobe para 20.090 dólares (78.800 reais) quando se inclui o gasto com acomodação. A diferença também se explica pelas bolsas disponíveis conforme a origem do aluno. Os preços sobem mais rápido que a inflação, a um ritmo superior a 10% nos últimos cinco anos.
Atrasos nos pagamentos
Há mais de 44 milhões de norte-americanos que carregam algum tipo de dívida desde o período de estudos. O volume total cresce a um ritmo vertiginoso. Há dez anos beirava 640 bilhões de dólares (2,5 trilhões de reais). Duplicou em 2012, e os fatores que impulsionaram essa escalada não vão desaparecer com o Fed elevando as taxas de juros, a ponto de os especialistas verem aí uma bolha como a hipotecária de 2008.
O pagamento mensal médio do financiamento se aproxima dos 400 dólares (1.570 reais), estima o Fed. Em termos gerais, 20% o fazem com o atraso. Os que têm mais problemas são os que optaram por não concluir os estudos. Esta carga, por sua vez, ameaça retardar investimentos para o futuro, como a compra da casa própria. O índice de propriedade está em 21%, em comparação com 32% antes da recessão.
O salário médio para os novos recém-formados beira os 50.000 dólares anuais (196.000 reais), segundo um estudo da empresa Korn Ferry. É 14% maior do que para o grupo que terminou antes da recessão. Mas, como observa a National Association of Realtors, a compra da casa própria está sendo adiada em sete anos por causa da dívida. Em paralelo, indica o Fed, aumentou em 45% o número de jovens que permanecem na casa dos pais.
Aliviar a dívida
O aumento das matrículas, a estagnação dos salários e o corte dos investimentos públicos em educação superior fazem com que as famílias norte-americanas dependam mais dos financiamentos. A American Student Assistance acrescenta que essa situação leva muitos a optarem por adiar sua formação. Por isso, pede aos congressistas que reduzam a carga financeira dos estudantes.
O Institute for Higher Education Policy afirma que esse nível de endividamento representa um fracasso na hora de enfrentar a desigualdade que domina o sistema educacional dos Estados Unidos.Uma mudança legislativa que permita aliviar a situação cancelando parte da dívida, segundo cálculos do Levy Economics Institute, resultará em cerca de 100 bilhões de dólares para o crescimento econômico a cada ano.