O governo de Joe Biden subiu o tom nesta semana com a China e com a Rússia, em confrontos verbais com representantes dos dois países com os quais os EUA medem forças. Ao mesmo tempo que tenta ressuscitar alianças históricas para se contrapor a adversários, uma estratégia diferente da do antecessor, Donald Trump, Biden busca imprimir logo na largada de sua política externa o prometido distanciamento de líderes autoritários, como Vladimir Putin e Xi Jinping.
Na quarta-feira, 17, Biden disse em programa de TV acreditar que Putin é um assassino e afirmou que a Rússia pagará caro por tentar interferir nas eleições americanas de 2020. A tentativa de influenciar a disputa eleitoral a favor de Trump, assim como aconteceu em 2016, consta em relatório do governo americano. A Rússia nega. Na sexta-feira, 19, o Kremlin disse estar pronto para uma possível nova guerra fria com os EUA. “Nós, é claro, esperamos o melhor, mas estamos prontos para o pior”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. Segundo ele, Putin quer manter relações com os americanos, mas não é possível desconsiderar a fala de Biden.
Quando ainda era senador, Biden declarou que não era um “grande fã” de Putin e disse que os EUA precisavam ter um “confronto político direto” com o russo sobre a maneira de ele agir. Na corrida presidencial, o democrata criticou Trump pelo tom cooperativo com autoritários, como Putin, e deixou claro que os trataria de maneira diferente.
Sob críticas da ala progressista do Partido Democrata, que está descontente com medidas de política externa de continuidade – como o anúncio de que não conseguirá retirar todas as tropas americanas que estão no Afeganistão até maio -, o governo Biden começou a investir no novo tom com adversários e na aliança de oposição à China.
O primeiro contato presencial do time de Biden com a diplomacia chinesa foi turbulento. Em Anchorage, no Alasca, o secretário de Estado, Antony Blinken, e o conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, se reuniram com representantes de Pequim na quinta-feira, 18. A troca de farpas entre os dois lados foi registrada pelas câmeras de TV, algo pouco comum no mundo diplomático.
“Certamente sabemos e sabíamos que há uma série de áreas em que estamos em desacordo”, disse Blinken, ontem, ao afirmar que a crítica devolvida pelos chineses não foi uma surpresa. “Mas também pudemos ter uma conversa muito franca ao longo dessas muitas horas. Sobre Irã, Coreia do Norte, Afeganistão, clima, nossos interesses se cruzam. Em economia, comércio, tecnologia, dissemos aos nossos homólogos que estamos revisando essas questões em estreita consulta com o Congresso, com nossos aliados e parceiros”, disse Blinken, ao minimizar o mal-estar com os chineses.
Na véspera, os EUA haviam anunciado sanções a 24 autoridades chinesas pela repressão política a opositores em Hong Kong. Antes, em passagem pelo Japão e pela Coreia do Sul, Blinken havia divulgado declarações sobre a preocupação com a violação de direitos humanos da minoria uigur na China.
Se o tom de Biden sobre Putin foi inédito para os padrões do tratamento entre líderes, o embate com a China vem desde o governo Trump. A disputa comercial entre os dois países, além de questões territoriais e tecnológicas pautou a relação da Casa Branca de Trump com Pequim – e não há sinais de que vá se alterar com Biden.