Rachel Alves Nariyoshi
A Espanha é o terceiro maior país da Europa, o maior em área plantada com videiras e o terceiro maior produtor de vinhos com cerca de 44 milhões de hectolitros/ano. É um país que produz excelentes elaborados de norte a sul de leste a oeste, inclusive nas ilhas Baleares e Canárias.
A relação com o vinho é antiga, há registros de que as videiras são cultivadas desde os anos 4.000 a.C. Na Idade Média, a cultura do vinho sobreviveu à invasão dos árabes, devido a uma ínfima produção reservada aos rituais cristãos.
Tem uvas autóctones, genuinamente espanholas, como a Garnacha, Monastrell, Cariñena, Graciano, Mencía e Mazuelo e a Tempranillo, a variedade emblemática da Espanha, cultivada extensamente por todo o país, curiosamente conhecida também por Aragonez, Tinto Roriz, Tinta Roriz, Tinta Fino, Tinta de Toro, Toro, Negretto, Valdepeña, Araúja, Araúxa, Cencibel e Ull de Liebre.
Quanto ao processo de elaboração dos vinhos, há ainda uma particular legislação que determina quatro níveis de acordo com o seu envelhecimento e do tempo de passagem dos vinhos nas barricas de madeira:
- Vinho Jóven é aquele engarrafado e colocado no mercado um ano após a sua vindima, podendo ou não ter passado por madeira;
- Vinho Crianza, quando tinto deverá ser envelhecido por pelo menos 24 meses, sendo obrigatório 6 meses de passagem em madeira (exceto Rioja e Ribera del Duero que precisam ficar por 12 meses em madeira); quando branco ou rosé, o período mínimo de envelhecimento é de 18 meses, podendo ou não passar em madeira;
- Vinho Reserva, quando tinto deverá ser envelhecido por pelo menos 36 meses, sendo obrigatório 12 meses de passagem em madeira; quando branco ou rosé, devem envelhecer por 18 meses, sendo 6 meses de passagem em madeira;
- Vinho Gran Reserva, quando tinto deverá ser envelhecido por pelo menos 60 meses, sendo obrigatório 18 meses de passagem em madeira (exceto Rioja e Ribera del Duero que são 24 meses de passagem em madeira); quando branco ou rosé, o período de envelhecimento é de 48 meses, sendo 6 meses de passagem em madeira.
O sistema de Denominación de Origen Protegida (DOP) foi criado em 1932 e revisado várias vezes. São 130 áreas consideradas “Indicação de Origem Protegida” e cada uma tem um Conselho Regulador.
Quanto às regiões produtoras de vinhos, citaremos algumas:
- Andaluzia: com solo de composição calcária e elementos orgânicos de origem marítima, a região produz o vinho Jerez que, tradicionalmente, é elaborado com variedades brancas (Palomino, Pedro Ximenes e Moscatel) pelo processo de Solera (barris superpostos para amadurecimento do vinho);
- Aragón: é uma região de produção de vinhos rústicos e artesanais. A variedade mais plantada na região é a Cariñena;
- Castilla-La Mancha: região mais central da Espanha sem nenhuma influência marítima e baixo índice pluviométrico que produz 50% do total de vinhos da Espanha;
- Castilla Y León: fica no centro norte do país e é banhada pelo rio Duero. A variedade mais plantada nessa região é a Mencía que produz vinhos mais concentrados, com boa fruta e intensidade aromática, balanceados por boa acidez natural;
- Catalunha: fica ao norte do país, é a região com maior número de DOP com diversos microclimas, marcados pelas diferentes altitudes e pela proximidade do mar. A região de Penedès destaca-se pela produção do Cava, vinho espumante, elaborado pelo método tradicional a partir das variedades Macabeo, Xarel-lo, Parellada e autorizadas recentemente a Chardonnay e Pinot Noir. Vale mencionar o Corpinnat, uma associação de vinícolas produtoras de vinhos espumantes, criada em 2018, em defesa de uma vitivinicultura sustentável, cultivo orgânico certificado, colheita manual e vinificação na própria propriedade;
- Levante: fica ao sul da Catalunha, na costa do Mediterrâneo. A variedade branca mais cultivada é a Merseguera, mas cultivam-se também em grandes quantidades a Muscat de Alexandria para o Moscatel de Valência, vinho branco aromático;
- Extremadura: é a quarta região produtora mais importante da Espanha. A maior parte da produção vinícola é destilada para a produção de Brandy de Jerez;
- Galícia: região costeira irregular, marcada por uma série de enseadas recortadas que elabora vinhos brancos frutados e bem aromáticos a partir da variedade Albariño plantada em 95% da região;
- Ilhas Canárias: fica na costa africana (próximo a Marrocos). Foi conquistada pelos europeus no século XV. Há registros de que o primeiro vinhedo foi plantado pelo português Fernando de Castro em 1497. Tem solo de origem vulcânica;
- Ilha de Mallorca: é a maior ilha do arquipélago de Baleares a leste da Espanha. É a sexta maior ilha do Mediterrâneo que produz, na sua maioria, os vinhos “Vi de la Terra Mallorca” e são quase todos consumidos na ilha mesmo. Produz vinho desde o século XIV a partir das variedades nativas: Callet, Manto Negro e Moll;
- Navarra: famosa pela produção de vinhos rosés, produz ainda tintos e brancos doces de Moscatel. A variedade predominante é a Tempranillo, mas a Garnacha é a que produz os vinhos de destaque;
- País Basco: produz o Txakolí, o vinho mais famoso da região, com características únicas como o gás residual, elaborado a partir da variedade branca Hondarribi Zurri e da variedade tinta Honsabirri Beltza. É um vinho consumido como aperitivo;
- Rioja: situada bem ao norte da Espanha com solos argilosos. São muitas variedades lá plantadas, com destaque para a Tempranillo que representa 90% das variedades tintas;
- Ribeira del Duero: situada ao norte do país, em Castilla y León, com altitudes que variam aproximadamente entre 600 e 900 metros acima do nível do mar, com invernos rigorosos e verões muito quentes. A variedade mais cultivada na região é a Tempranillo, mas também são cultivados Cabernet Sauvignon, Garnacha, Merlot e Malbec. Dessa região, vem um dos vinhos mais caros e famosos do mundo, singular em todos os sentidos. Extremamente elegante, complexo, sofisticado e longevo, um dos vinhos mais disputados e desejado pelos colecionadores, elaborado somente nos melhores anos e a partir do corte de 3 vindimas diferentes, razão pela qual não é safrado, porém em seu rótulo consta o ano em que a assemblage foi realizada. Registra-se que suas uvas são originárias de vinhedo plantado em 1864 por Eloy Lecanda.
O Guia de vinhos da Espanha 2021, da Editora Inner/São Paulo traz a lista dos melhores vinhos espanhóis em 2021, relacionados a seguir:
- Vinho Tinto: Castillo de Ygay Gran Reserva Especial 2010, da Vinícola Marqués de Murrieta, elaborado pela enóloga María Vargas. “Entre os melhores, senão o melhor Ygay já produzido nas últimas décadas… Está excelente agora, mas recompensará os pacientes, pelo menos, nos próximos 30 anos.”
- Vinho Branco: Pazo de Señorans Selección de Añada Albariño 2006, da Vinícola Pazo de Señorans, elaborado pela enóloga Ana Quintela Suarez. “Esbanja vivacidade e frescor de fruta, mesmo com mais de 10 anos de garrafa. Tem final austero com toques salinos e de limão tahiti.”
- Vinho Rosé: Chivite Las Fincas Rosado 2019, da Vinícola Julián Chivite. “É muito mais que um rosé fresco e leve. Por trás de sua fruta exuberante e nítida, há muita estrutura, firme textura e vibrante acidez para ampará-la, conferindo profundidade.”
- Vinho Espumante: Freixenet Reserva Real Brut, da Vinícola Freixenet, elaborado pelos enólogos Josep Buján e Gloria Callell. “Produzido pelo método tradicional a partir das variedades Macabeo, Xarel-lo e Parellada … repleto de frutos secos, notas carameladas, tostadas e de fermento que trazem complexidade. Tem bom volume de boca, ótima cremosidade, acidez refrescante e final cheio e longo, com toques cítricos e terrosos.”
- Vinho Fortificado: Regente Palo Cortado. Jerez elaborado na Vinícola Sanchez Romate pela enóloga Reyes Gómez. “É um autêntico vinho de meditação, com várias camadas de aromas e de sabores, mostradas de modo sutil, refinado e num contexto de refrescante acidez e textura cremosa.”
Neste dia 12 de outubro, quando a Espanha comemora a “Festa Nacional”, tendo como marco a chegada de Cristóvão Colombo ao Novo Mundo em 12 de outubro de 1492, vamosnos unimos aos espanhóis para brindar.
Tin-tin!