Buscando a internacionalização, sustentabilidade e autossuficiência, os dirigentes da Embrapa estão atuando para garantir a ampliação para que o órgão seja, cada vez mais, uma referência internacional. Em entrevista exclusiva à Embassy Agência de Comunicação, seu presidente, Celso Luiz Moretti fala com entusiasmo do apoio à diplomacia, das conquistas nas pesquisas, do intercâmbio de conhecimentos que tornou o Brasil uma potência agroambiental.
Celso Moretti tem mantido agenda forte em vários países levando tecnologia e buscando conhecimento internacional para alcançar a segurança alimentar, uma preocupação mundial. Apenas nos últimos três anos, a Empresa desenvolveu pelo menos 170 tecnologias para solucionar problemas na agricultura. Moretti destaca a atenção com a proteção do meio ambiente e explica que o Brasil preserva 2/3 do território brasileiro. Leia agora a entrevista completa.
Hoje o mundo está cada vez mais preocupado com a sustentabilidade. Qual a posição da Embrapa em relação à esta questão?
Nós observamos que o mundo todo está preocupado com a questão da segurança alimentar, alimentos em qualidade e quantidade e no momento certo. Principalmente agora, depois de todos esses eventos que ocorreram: primeiro a Covid-19, que causou a ruptura de cadeias produtivas em vários lugares do mundo. Segundo o conflito na Ucrânia que tem complicado toda a questão da segurança alimentar. A gente vê que o mundo vai precisar de mais alimento, até porque em 2030 teremos uma população de 8,5 bilhões de pessoas e, em 2050, de quase 10 bilhões de pessoas. Existe uma cobrança muito forte para que esse aumento da produção de alimentos seja feito de forma sustentável. Então, a sustentabilidade para nós, na agricultura, na pecuária, no setor florestal, é uma premissa. Trabalhamos no desenvolvimento de soluções tecnológicas que tenham a sustentabilidade em sua base.
A Embrapa participou da Expointer que é a maior feira agropecuária da América Latina. Qual a importância de o órgão participar de eventos como esse e outros internacionais? Como está sendo feita a internacionalização do órgão?
São dois pilares muito importantes, o de olhar para dentro e, obviamente, de olhar para a fora, nossa a agenda internacional. Na agenda nacional há dois componentes. Primeiro, a agenda voltada para o agro, para as pessoas que atuam no agro, que atuam no agro brasileiro. É o caso da Expointer. Como trabalhamos com desenvolvimento de soluções para a agricultura brasileira, não podemos estar ausentes de uma feira tão importante. Então estivemos lá levando tecnologia, as soluções que a Embrapa vem desenvolvendo nos últimos anos. Só nos últimos três anos, a Embrapa desenvolveu 170 tecnologias, soluções na verdade, para resolver os problemas da agricultura brasileira.
Acho importante destacar que a Embrapa trabalha desenvolvendo soluções para resolver problemas. Fazemos pesquisa com propósito. Outra questão é que falamos com um público urbano, não apenas com agricultores. A Embrapa está no café da manhã, almoço e jantar de todos os brasileiros e é importante que saibam do impacto da ciência na diversidade, qualidade, segurança dos nossos alimentos. Precisamos, também, falar para o público urbano que o Brasil produz alimentos para alimentar mais de 800 milhões de pessoas no planeta, preservando 2/3 do território brasileiro.
Temos problemas de desmatamento ilegal, o que tem relação com combate à criminalidade. Produtores que fazem o desmatamento ilegal são parcela mínima. O produtor brasileiro tem consciência que manter o meio ambiente saudável vai ajudá-lo a produzir mais e melhor. Então temos uma agenda dirigida ao público urbano. Falamos com o público urbano de variadas formas, por meio da imprensa, por exemplo, e também em grandes eventos, sempre mostrando a ciência e a sustentabilidade da agricultura brasileira. Essa é uma agenda nacional.
O setor produtivo, diferentes órgãos de pesquisa, extensão rural, produtores, cooperativas atuaram juntos e fomos capazes de desenvolver um modelo de agricultura para o cinturão tropical do globo. Fomos capazes de desenvolver tecnologia para produção de fibras e bioenergia no cinturão tropical. E como hoje existe uma preocupação enorme com a segurança alimentar. A diretora geral da Organização Mundial do comércio, OMC, esteve aqui recentemente falou que o mundo depende do Brasil para se alimentar. Onde essa produção vai crescer nos próximos anos, nas próximas décadas? É no cinturão tropical, na América Latina, Caribe, na África e no Sudeste da Ásia. E quem desenvolveu tecnologia ao longo dessas cinco décadas, para esse desenvolvimento foi o Brasil.
Em relação a parcerias com outros países, a internacionalização da Embrapa?
Na área internacional, temos uma vertente de cooperação científica com países do Hemisfério Norte. Temos trabalhos feitos nos Estados Unidos, na Europa; nós temos uma base instalada na França, que cuida da parceria com a Europa. Há, também, Ásia, Oriente médio, Israel. Então procuramos saber o que está acontecendo de desenvolvimento no mundo e atuamos com eles. Desenvolvemos cooperação técnica com diferentes países, principalmente do Hemisfério Sul, o que chamamos de cooperação Sul-Sul.
Temos 107 parcerias internacionais vigentes com oito países da
África, três da América do Norte, sete da América do Sul, onze da Asia, Oriente Médio, 14 países da Europa e dois países da Oceania; Austrália e Nova Zelândia. Além do trabalho de desenvolvimento científico e técnico, temos um trabalho junto com a Apex, para imagem e informação no exterior sobre o agro brasileiro. Existe um projeto chamado Pam Agro que cuida de mostrar para o mundo como alimentamos mais de 800 milhões de pessoas, preservando 2/3 do nosso território brasileiro. Eu tenho ido a vários países com a Apex para mostrar o agro brasileiro. Estivemos na Dinamarca, em Dubai, na Alemanha, Espanha e Itália. Vamos à França e Lisboa agora e, ainda este ano, aos Estados Unidos e Singapura.
E participamos também vários eventos técnicos, inclusive para discussão de políticas globais, como no caso da COP, Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática. Assim, a Embrapa tem uma atuação internacional muito forte.
O analista da Embrapa Gustavo Spadotti, durante o último congresso da Andav disse que o Brasil será o celeiro do mundo. O senhor concorda?
Já somos uma potência agrícola e ambiental; e não tenho dúvidas que seguimos tendo um papel chave para prover a segurança alimentar e para contribuir com a preservação de matas e florestas nativas do meio ambiente para o bem não só da sociedade brasileira, mas para o bem do mundo. Precisamos comunicar melhor sobre isso porque não está muito claro não só no Brasil, mas também no exterior. A Embrapa recebeu um dos prêmios mais importantes da FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, pelo trabalho no desenvolvimento de tecnologia de projetos vinculados aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, os ODS. Isso nos deixou muito orgulhosos por ser um reconhecimento das Nações Unidas ao nível de excelência que a Embrapa tem.
A Embrapa está com várias parcerias, agora foca no Oriente Médio. Como está sendo feito isto?
Nós estivemos algumas vezes nos Emirados Árabes Unidos e eles deixaram muito claro da intenção que têm de parcerias com a Embrapa porque é um país que está localizado no Oriente médio, uma região árida. Boa parte do país é deserto. Eles importam mais de 90% dos alimentos que consomem, e, obviamente possuem preocupação com a segurança alimentar. Eles têm nos procurado e estamos avançando em parcerias com o governo e com empresas. Estamos discutindo neste momento contrato de parceria com uma empresa que trabalha em projetos de inovação aberta.
Nós procuramos parceiros e desenvolvemos projetos onde entramos com o conhecimento e uma parte da solução. Muitas vezes o outro parceiro entra com a outra parte da solução. Nós fazemos esse acordo e seguimos em frente para entregar soluções dos problemas da agricultura brasileira e mundial. Tivemos recentemente reunião com uma empresa do Marrocos. Somos um agente facilitador de cooperação científica, cooperação técnica, políticas globais. A Embrapa apoia o Brasil na diplomacia como forma de aumentar e qualificar as relações com outros países. Estive em maio junto com nosso ministro da agricultura em quatro países do Oriente médio, no Norte da África trabalhando no que chamamos de diplomacia dos fertilizantes. A agricultura brasileira tem grande dependência de importação – 85% dos fertilizantes consumidos no Brasil são importados e o Marrocos possui 70% das reservas de fósforo do mundo. Há uma empresa do Marrocos está buscando a Embrapa para desenvolver parcerias e fazer uma série de trabalhos conjuntos.
Como o senhor avalia estes 49 anos da Embrapa?
Durante nossa conversa abordamos muito do passado e do presente. Vou falar do futuro. Em abril completamos 49 anos e lançamos um documento visão de futuro do agro brasileiro. Está em nosso site e fala em oito megatendências. Sugiro conhecer. Já conversamos sobre sustentabilidade, mas há agricultura digital, internet das coisas, drones, inteligência artificial. Existe a questão da adaptação e mitigação das mudanças climáticas e o que chamamos da biorevolução. Também temos que investir no uso de ferramentas biotecnológicas e de biotecnologia para produzir mais alimentos para a humanidade. E há um ponto que vale a pena citar. Temos recebido demandas de vários países sobre trigo tropical. A Embrapa desenvolveu variedades de trigo para o cinturão tropical do globo e com a guerra da Ucrânia, a questão do trigo ganhou visibilidade. A Ucrânia é uma das maiores produtoras de trigo do mundo e, garante 67% do trigo do Egito, para ficar num exemplo. Então, todos estão muito preocupados. Estamos sendo procurados por muitos embaixadores que querem conhecer mais do trigo tropical da Embrapa. Em três anos aumentamos cerca de 50% da produção de trigo no Brasil e ainda somos importadores, com uma demanda interna de 13 milhões de toneladas. Mesmo com o aumento, esse ano produzimos nove milhões de toneladas. Então ainda faltam quatro. Se os preços internacionais continuarem elevados por um tempo e tivermos as condições, em menos de cinco anos seremos autossuficientes.