Richard Grenell disse querer ‘empoderar’ conservadores na Europa
Notícias ao Minuto Brasil
Para desgosto de seus aliados na Europa, o presidente americano tem disseminado seu discurso populista em países como a Alemanha e a Itália. Seu embaixador em Berlim, Richard Grenell, é a boca de Donald Trump no bloco desde que chegou ao posto em maio. Causou tanto atrito que já há pedidos para que seja removido.
O episódio mais recente ocorreu no último domingo (3), quando o site de direita nacionalista Breitbart publicou uma entrevista com Grenell, na qual o diplomata celebrou o crescimento de movimentos antissistema na União Europeia e se disse disposto a apoiá-los.
Em um gesto incomum, disse ainda que planeja servir em sua casa um almoço para o chanceler da Áustria, o conservador Sebastian Kurz, a quem classificou como um “rock star” -o austríaco chegou ao poder com uma campanha baseada na aversão aos refugiados.
“Quero empoderar outros conservadores na Europa, outros líderes”, disse, relacionando o surgimento de forças populistas às “políticas frustradas da esquerda”. Ele também traçou uma linha reta entre a eleição de Trump em 2016 e a consolidação dos partidos de direita na Europa. O Breitbart lhe descreveu como “embaixador trumpiano” na entrevista.
Ainda que a influência de Trump no populismo europeu não esteja empiricamente provada, existe ao menos uma coincidência entre a política americana e a de diversos dos países do bloco econômico.
A Alemanha, por exemplo, registrou o crescimento dos nacionalistas de direita da AfD (Alternativa para a Alemanha) nas eleições do ano passado. O partido é hoje a maior sigla de oposição no Parlamento alemão.
Steve Bannon, estrategista da campanha de Trump, viajou à Itália nas eleições deste ano para apoiar abertamente os movimentos populistas, e tem se gabado de ter aconselhado o antissistema 5 Estrelas e o nacionalista Liga a formarem um governo.
Grenell, boca de Trump, representa em Berlim a antipatia do americano pela chanceler alemã, Angela Merkel, e por suas políticas migratórias (ela abriu o seu país a quase um milhão de refugiados em 2015).
Antes um assessor do conselheiro de segurança John Bolton e comentarista na rede de televisão Fox News -a preferida de Trump-, Grenell apresentou suas credenciais em Berlim no início de maio e dias depois protagonizou seu primeiro incidente diplomático.
Quando Trump anunciou que os EUA renunciavam ao acordo nuclear com o Irã, rompendo com o consenso de seus aliados, Grenell foi a uma rede social dar um recado para as empresas locais: “Precisam desacelerar as suas operações imediatamente”, escreveu.
“Há diversos conservadores em toda a Europa que entraram em contato comigo para dizer que estão percebendo uma ressurgência em andamento”, Grennel também afirmou em sua entrevista ao Breitbart. O apoio a um grupo específico, neste caso os movimentos populistas, é mal visto entre os diplomatas.
“Ele não está se comportando como um diplomata, mas como um oficial colonial de direita”, disse Martin Schulz, ex-líder do SPD (Partido Social-Democrata alemão). “Embaixadores são representantes de seus países, e não de movimentos políticos.”
O embaixador se defendeu dizendo que não apoiou nenhuma frente política em específico, mas “a maioria silenciosa que rejeita as elites”.
Sua fala, porém, coincidiu de toda maneira com um momento infeliz nas relações entre os EUA e a Alemanha, bastante diversa daquela vivida no mandato do ex-presidente Barack Obama, que abertamente apoiava a chanceler Merkel.
Grenell também se somou a outro embaixador americano polêmico da administração Trump, Peter Hoekstra, que representa o país na Holanda.
Em uma entrevista coletiva em janeiro passado, jornalistas insistiram em que ele explicasse uma declaração feita em 2015, na qual disse que o país estava em caos devido a extremistas, com carros e políticos queimados vivos.
Em estratégia semelhante a do próprio Trump, Hoekstra se recusou a dar exemplos de políticos mortos dessa maneira no país e recebeu a reprimenda de um repórter: “Esta é a Holanda, você precisa responder”.