Em um discurso no Parlamento, o legislador Ahmad Alirezabeigi criticou a desqualificação de Ahamadinejad e disse que forças de segurança cercaram a casa do ex-presidente, embora ele tenha pedido a seus apoiadores que mantenham a calma.
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As autoridades iranianas autorizaram as candidaturas de cinco conservadores e dois reformistas para a eleição presidencial de 18 de junho, em uma decisão que gerou polêmica pela desqualificação de três candidaturas de peso, entre elas a do ex-presidente Mahmoud Ahmadinejad (2005-2013).
Além do ex-mandatário populista, o Conselho de Guardiões da Constituição -que aprova os candidatos à Presidência- rejeitou a participação do vice-presidente Eshaq Jahangiri, reformista e aliado do atual presidente, Hassan Rouhani, e do ex-chefe do Parlamento, o conservador moderado Ali Larijani, conselheiro do líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei.
A escolha do conselho parece abrir caminho para a vitória do chefe linha-dura do Judiciário, o conservador Ebrahim Raisi, que obteve 38% dos votos na eleição de 2017 e é próximo de Khamenei.
Por outro lado, a exclusão de importantes candidatos pode afetar o comparecimento às urnas -as eleições parlamentares de 2020 tiveram o comparecimento de 42%, o menor desde a Revolução Islâmica de 1979. Já uma pesquisa divulgada pela agência de notícias Fars projeta a participação de 53% neste pleito.
Segundo a lista publicada pela agência oficial de notícias Irna, a eleição de junho será disputada por Raisi e os conservadores Saeed Jalili, ex-negociador-chefe nuclear, Mohsen Rezaei, ex-chefe da Guarda Revolucionária e frequente candidato à Presidência, e os deputados Alireza Zakani e Amir-Hossein Ghazizadeh Hashemi.
Já os reformistas aprovados foram Abdolnaser Hemmati, presidente do Banco Central, e Mohsen Mehralizadeh, ex-vice-presidente.
A decisão gerou polêmica no país. Em um comunicado divulgado pela mídia local, o vice-presidente Jahangiri disse que a rejeição de “muitas pessoas qualificadas [é] uma séria ameaça à participação pública e competição justa entre tendências políticas, especialmente reformistas”.
Em um discurso no Parlamento, o legislador Ahmad Alirezabeigi criticou a desqualificação de Ahamadinejad e disse que forças de segurança cercaram a casa do ex-presidente, embora ele tenha pedido a seus apoiadores que mantenham a calma.
Mesmo o favorito Raisi defendeu um pleito mais plural em seu Twitter. “Desde ontem à noite, quando fui informado dos resultados […] tenho feito contatos e estou fazendo consultas para fazer o cenário eleitoral mais competitivo e participativo”, escreveu. Larijani, por outro lado, não fez objeções à decisão do conselho, dizendo ter “cumprido seu dever perante a Deus” e ao país.
A disputa ocorre em meio a um descontentamento crescente de uma economia fortemente impactada por sanções americanas. Rouhani e seus aliados moderados atribuíram a maior parte dos problemas econômicos do Irã às medidas dos EUA e priorizaram as negociações para reviver o acordo nuclear, abandonado por Donald Trump em 2018.
Larijani já havia declarado seu apoio ao tratado e às conversas para retomá-lo, o que vai de encontro à posição de outros conservadores e aliados linha-dura de Khamenei, que insistem que não se pode confiar nos americanos para cumprir qualquer acordo, além de responsabilizarem totalmente o governo de Rouhani pelas dificuldades econômicas do país.
Especialistas apontam ainda que um dos motivos que pode ter custado a candidatura de Larijani é o fato de sua filha Fatemeh morar nos EUA, onde cursa medicina.O Conselho de Guardiões não precisa justificar os motivos da desqualificação dos candidatos, escolhidos entre 40 aprovados por alcançarem os critérios básicos -no total, cerca de 600 se inscreveram para disputar o pleito.