Súsan Faria
A data de 09 de dezembro é lembrada como Dia Internacional Contra a Corrupção. Para marcar essa ocasião, os embaixadores da Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia convidaram jornalistas e parceiros no Brasil para um café da manhã, oportunidade em que explicaram sobre o assunto nos países Nórdicos. Os diplomatas também expuseram o trabalho que desenvolvem em prol do combate à corrupção e pela transparência em conjunto com a sociedade e o governo do Brasil, por meio do projeto Diálogos Nórdicos. O encontro se realizou na sede da embaixada da Dinamarca, em Brasília.
Há três anos nasceu Os Diálogos Nórdicos, conceito plurianual, a cada ano focado em um tema. Em 2018, foi igualdade dos gêneros; este ano, transparência; e em 2020, será a sustentabilidade. “São temas que refletem nossos valores e também necessidades que existem no Brasil”, explicou o embaixador da Dinamarca, Nicolai Prytz. Segundo ele, são muitas explicações para definir porque o índice de corrupção é tão baixo e a transparência é tão grande nos países nórdicos. A seu ver, tem muito a ver com a história, a antropologia, a sociologia na região. “Para mim, o que é central é a confiança, o tipo de contrato existente entre os cidadãos e entre a população e as instituições. Uma cultura que foi fomentando ao longo do tempo”, disse.
Nicolai Prytz afirmou que é importante compartilhar conhecimentos e experiências de seu país com os brasileiros, mas que não desconhece o fato de a Dinamarca ter apenas 5,6 milhões de habitantes, bem diferente dos mais de 200 milhões de pessoas do Brasil. “Podemos inspirar”, comentou.
Na opinião do embaixador da Noruega, Nils Martin Gunneng, confiança é a palavra-chave. “Em Oslo, temos uma Secretaria para cuidar desse tema. Temos um web site onde se vê todos os números relativos a petróleo. A Lei é válida para todos”, explicou, lembrando que mesmo assim há problemas de corrupção em pequena escala. Afirmou que o governo federal da Noruega interage com os governos municipais para que denunciem corrupção e no sentido de que ética que se deve seguir. “Se alguma empresa norueguesa estiver fazendo algo ilegal no Brasil, ela vai ser processada na Noruega. Não se pode fazer diferente aqui do que se faz lá”, explicou.
Já o embaixador da Finlândia, Jouko Leinonen, lembrou que seu país é considerado o mais feliz do mundo e destacou a importância dos ombudsmen e de se ter dados para se provar o que se faz. Afirmou que os finlandeses confiam no governo, no legislativo, na polícia, na justiça, nas autoridades e na mídia, inclusive. Depois de Singapura, os finlandeses são os que mais confiam na polícia. “É importante educar e formar a população, em todos as escolas há leitura das mídias, com visão crítica”. Disse que os dados financeiros e de fiscalização chegam às pessoas. “É normal, todos os anos, chegam os dados das pessoas públicas, o que ganharam no ano”.
Recém-chegada ao Brasil, a embaixadora da Suécia, Johanna Brismar Skoog, destacou as similaridades entre os países nórdicos e a importância ali da transparência, da democracia e das condições de oportunidades. Na avaliação da coordenadora da Unidade de Governança e Paz do Programa das nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Moema Freire, a corrupção é barreira para o desenvolvimento. “O Pnud apoia e dissemina boas práticas de transparência”, disse, lembrando que o volume de recursos que vai para a corrupção supera o destinado ao desenvolvimento.
O Pnud desenvolveu – junto com os países nórdicos – concurso para realização de um game virtual que promove cultura da integridade. O game será lançado no próximo dia 13 e março próximo o jogo será público, como educação e mudança de cultura. “É uma nova fronteira onde podemos atuar”, explicou Moema Freire.
Também presente ao encontro na embaixada da Dinamarca, o diretor Transparência Internacional no Brasil, Bruno Brandão, entidade com mais de 30 anos de existência e hoje presente em 110 países. Segundo ele, os desafios vêm muito da radicalização das disputas políticas e da polarização exacerbada, que o tema corrupção provoca no Brasil. Contudo, explicou que a sociedade brasileira acredita na luta contra a corrupção e está engajada no tema, “com potencial gigantesco e duradouro no combate à corrupção”. Já os níveis de confiança dos brasileiros nas instituições – de acordo com pesquisas analisadas – estão entre os mais baixos. “Temos uma população altamente mobilizada no combate à corrupção, mas que acredita cada vez menos nos papéis das instituições. Uma combinação perigosa, que proporciona soluções autoritárias, populistas para o combate no setor”, comentou.
A data – O Dia Internacional Contra a Corrupção remete à data em que o Brasil e mais 101 países assinaram a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, em 2003, na cidade mexicana de Mérida. Os países nórdicos compartilham valores, como a confiança, a equidade e a abertura ao diálogo, que estão associados com melhor segurança pública e baixos níveis de corrupção tanto no setor privado quanto no público. A região – que tem um passado relativamente pacífico dentro do contexto europeu – está no patamar mais alto de confiança no mundo.
Na Dinamarca, existe desde 2011 o Festival de Democracia (Folkemoedet), anualmente, em meados de junho, na ilha de Bornholm, no mar Báltico. Por quatro dias, mais de 100 mil dinamarqueses (populares, políticos, formadores de opinião, coluntários de ONGs e empresários) se reúnem para discutir e aprender mais sobre política e democracia.