O novo governo italiano presta juramento nesta quinta-feira com uma dúvida em aberto nos principais cafés de Roma: quanto tempo dura? A Itália mudou quase 70 vezes de governo desde o fim da Segunda Guerra, numa instabilidade política comparada por analistas internacionais à instabilidade econômica de nossa vizinha argentina.
A cerimônia começou as 8h GMT (5h em Brasília), no palácio del Quirinal, sede da presidência da República. Nos próximos dias, precisará passar pela votação de confiança de ambas as Câmaras do Parlamento.
Desta vez, o novo governo encerra duas semanas de crise aguda deflagrada pelo ex-ministro do Interior Matteo Salvini, da partido de extrema direita Liga. Salvini abandonou o governo alegando divergências sobre projetos de infra-estrutura, mas na prática havia vislumbrado a oportunidade de assumir, ele mesmo, a liderança do país ancorado por bons índices de aprovação popular.
O novo governo será formado por uma aliança entre o Partido Democrata (PD) e o Movimento 5 Estrelas (M5E), ex-aliado de Salvini no governo anterior.
Depois de se reunir com o presidente italiano, Sergio Matarella, o ex e futuro primeiro-ministro Giuseppe Conte anunciou, ontem, a composição de um Executivo formado por sete mulheres e 14 homens. Como previsto, os pesos pesados do PD (centro esquerda) e do M5E (antissistema) dividiram as principais pastas. Conte permanece no cargo.
O líder do M5E, Luigi di Maio, 33 anos, assume o ministério das Relações Exteriores e tem a missão de melhorar a carcomida imagem da Itália junto à União Europeia.
No governo anterior, o país se notabilizou por negar ajuda humanitária a imigrantes que chegavam da África em barcos pelo Mar Mediterrâneo. O novo ministro da Economia, Roberto Gualtieri, é um ex-membro do Parlamento Europeu visto como moderado e pró-ajustes por Bruxelas.
Analistas políticos veem como difícil a união de dois grupos políticos com projetos teoricamente antagônicos. o M5E é crítico à União Europeia e a partidos políticos tradicionais; o PD é um partido tradicional, pró-negócios e pró-integração regional.
Conte afirmou ontem que o novo governo nasce com um “programa orientado para o futuro”. Se não der certo, o futuro pode colocar mais uma vez Matteo Salvini no centro da cena política italiana. Seria apenas mais uma troca de poder para o país.