A falta de CO₂ começa a causar problemas na Europa em meio aos jogos da Copa do Mundo. Uma escassez de dióxido de carbono está afetando o setor de alimentos e bebidas, especialmente as indústrias de carne e de cerveja.
BBC Brasil
Até a Coca-Cola decidiu interromper temporariamente a atividade em sua fábrica no Reino Unido. “É a situação mais grave no suprimento de dióxido de carbono europeu em décadas”, disse a revista especializada Gas World, que revelou o problema.
Para que se usa o CO₂?
O dióxido de carbono tem múltiplos usos na indústria de alimentos e bebidas, desde gaseificar cervejas e cidras, muito populares no Reino Unido, até deixar animais como porcos e frangos atordoados antes do abate, e como conservante, para aumentar a vida útil de produtos embalados, como carne fresca.
O gás também é usado para criar gelo seco, outro produto importante na indústria alimentícia, para manter produtos refrigerados durante sua distribuição. Fora desse setor, o CO₂ também é usado em certos procedimentos médicos, na fabricação de dispositivos semicondutores e por empresas petrolíferas para melhorar a extração do produto cru.
Por que há escassez?
Boa parte do CO₂ é um subproduto da amônia utilizada na indústria de fertilizantes ou em plantas de bioetanol. No entanto, muitas das fábricas de fertilizantes europeias fecharam para manutenção de rotina, afetando as cinco maiores empresas produtoras de CO₂ líquido da Europa, segundo o jornal Financial Times.
O inverno é o período de maior consumo de fertilizantes no hemisfério norte, então as empresas químicas geralmente reduzem a produção à medida em o verão se aproxima.
Além disso, os preços baixos da amônia atualmente dão aos produtores menos incentivo para retomar a produção. Até o momento, parece ser coincidência que diversas fábricas diminuíram a produção ao mesmo tempo, exatamente durante a Copa do Mundo, quando a demanda por bebidas aumentou.
Quem foi afetado?
A falta de CO₂ afetou diretamente os produtores de bebidas na Europa – desde as grandes até as pequenas. A maior rede de pubs da Grã-Bretanha, a Wetherspoon, disse que está com falta “temporária” de duas de suas mais populares bebidas, a cerveja do tipo bitter John Smith e a cidra Strongbow – ambas produzidas pela Heineken.
Segundo informações da mídia britânica, a Coca-Cola disse ter suspendido, por curtos períodos, a produção de algumas de suas bebidas – mas que o fornecimento não teria sido afetado.
A Amazon Fresh, braço da Amazon dedicado à venda de alimentos frescos, disse ter interrompido a oferta de sorvete e pizza congelada. Supermercados britânicos começam a impor racionamento. Uma rede determinou que clientes só podem comprar até dez caixas de cerveja.
A escassez também começa a prejudicar a indústria alimentícia. Empresas processadoras de carne dizem que podem precisar mudar a data de validade de seus produtos por causa de problemas com a entrega.
Muitos produtores de carne estão utilizando níveis menores de CO₂ em suas embalagens de carne. Por isso, precisam vender pacotes com validade menor.
O porta-voz da Associação Britânica de Processadores de Carne, Nick Allen, disse que, se a prática se tornar mais comum, ela pode causar uma dor de cabeça logística. “Se você diminui o prazo de validade, todo mundo precisa entregar os produtos mais rápido. A cadeia produtiva se complica muito”, afirmou.
Na última terça-feira, o maior abatedouro da Escócia, na cidade de Brechin, disse que vai fechar até segunda ordem porque ficou sem o gás necessário para atordoar os porcos antes do abate e processamento.
A fábrica processa 6 mil animais por semana, mas agora está mandando porcos para o abate na Inglaterra. Mas os abatedores ingleses também estão ficando sem o gás.
Todas as cervejas precisam de CO₂?
Há muitos usos para o dióxido de carbono no processo de levar a cerveja até seu copo, mas nem todas as cervejas precisam do gás. De modo geral, é mais provável que cervejas do tipo lager ou pilsener usem CO₂ do que as cervejas tipo ale, de baixa fermentação.
Quando você está em um bar e pede um chope que vem de uma torneira, ele está vindo de um barril pressurizado e é levado até seu copo pelo CO₂ ou por uma mistura de CO₂ e nitrogênio.
As cervejarias também usam o gás carbônico para movimentar a cerveja dentro das fábricas e para manter o oxigênio fora dos tanques e dos tubos sendo usados.
O CO₂ é produzido pela levedura no processo de fermentação e pode ser perdida ou reutilizada. Alguns cervejeiros compram o gás para colocá-lo na cerveja e deixá-la mais espumante.
Quando a escassez deve terminar?
A indústria de alimentos e bebidas do Reino Unido espera que os seus estoques voltem ao normal no início de julho, apesar de as associações comerciais se queixarem de falta de comunicação por parte dos fornecedores de dióxido de carbono.
“É isso o que é frustrante, eles não nos dizem nada. Estamos muito preocupados. A prioridade máxima é o bem-estar dos animais”, disse Andy McGowan, diretor executivo da Scottish Pig Producers, a cooperativa que administra o abatedouro de Brechin.
Os abatedouros de aves de curral realizaram um pedido de abastecimento para que o setor tenha prioridade, argumentando que a escassez atual poderia ter um “efeito potencialmente enorme” na produção de alimentos no Reino Unido.
Mas o pedido causou alarme entre as empresas de bebidas, que temem ficar no fim da lista de setores prioritários justamente na Copa.