Liz Elaine Lôbo
Produção: Elna Souza
O governo deu apoio à população, inclusive para os estrangeiros que estão no país. Agora, entre suas prioridades, está a atenção à economia e ao turismo, um setor essencial para a Tunísia que recebe cerca de nove milhões de turistas durante a temporada. Em entrevista exclusiva à revista Embassy, o embaixador Mohamed Hedi Soltani informa que foi estabelecida uma linha de crédito específica para o setor. O diplomata fala ainda das relações diplomáticas com o Brasil e do aumento na produção de tâmaras. Leia agora a entrevista na íntegra.
Embassy – Como o senhor definiria a situação da Tunísia?
Como todos os países do mundo, a Tunísia se encontra em uma situação econômica particularmente vulnerável à deterioração da economia mundial devido à pandemia de corona vírus e à volatilidade dos preços do petróleo.
Um agravamento da pandemia teria um efeito negativo no turismo, nas exportações e na demanda doméstica e, portanto, no crescimento das famílias, no emprego e na vulnerabilidade. Uma forte reversão na dinâmica dos preços do petróleo observada recentemente aumentaria as pressões na conta corrente e nas finanças públicas.
Sobre a situação de pandemia na Tunísia. Pelo terceiro dia consecutivo, o país não registrou novos casos de contaminação pelo coronavírus. Segundo o Ministério da Saúde, o número de casos confirmados de Covid-19 permanece inalterado em 1.032 de um total de 33.266 testes de triagem realizados desde o surgimento do primeiro caso na Tunísia, em março passado. O número de pacientes curados aumentou para 727, e o de mortes para 45.
Embassy – O governo tunisino lançou uma plataforma on-line para fornecer informações e apoio aos estrangeiros que estão presos no país devido à emergência do coronavírus, mencionando estudantes, migrantes e requerentes de asilo. Essa plataforma ainda está em funcionamento? Ela facilitou o trabalho desses estrangeiros?
As autoridades tunisianas tomaram medidas a favor dos estrangeiros na Tunísia, em particular dos africanos subsaarianos, desde em 08 de abril. Eles estenderam notavelmente os direitos de residência no país, que se encontra em regime de confinamento geral completo, instituído até 19 de abril para combater o novo coronavírus.
Concretamente, as autoridades decidiram estender as autorizações de residência válidas em 1º de março até o final da crise. Portanto, não haverá penalidades financeiras para quem excedeu o limite de permanência legal, nem para turistas que ficam mais de três meses no país.
Preso na Tunísia por várias semanas nestes tempos de crise, estrangeiros, incluindo os subsaarianos, estão em uma situação financeira difícil.
É neste contexto que o Ministério dos Direitos Humanos, das Relações com as Autoridades Constitucionais e da Sociedade Civil anunciou, em 27 de abril, o lançamento de um aplicativo no site www.aide-covid19.tn para ajudar estrangeiros presos na Tunísia nestes tempos de pandemia.
Esta plataforma eletrônica permitirá receber solicitações de assistência, formuladas pelas pessoas envolvidas ou pelas organizações que as representam, receber ofertas de doações e auxílios em espécie e em dinheiro que possam ser fornecidos por pessoas físicas ou jurídicas.
O ministério menciona estrangeiros em situações financeiras frágeis, citando, a título de exemplo, estudantes, emigrantes e requerentes de asilo. O aplicativo da Web também visa ajudar a combater a epidemia de coronavírus e manter vínculos com iniciativas voluntárias lançadas pela sociedade civil.
Nesse contexto, o ministério enfatizou a criação de uma comissão composta por representantes do Ministério de Assuntos Sociais, ensino superior, organizações nacionais e internacionais e sociedade civil para monitorar a situação de certos estrangeiros.
A vista de Sidi Bou Said em Tunis, capital da Tunísia
Embassy – A Tunísia recebeu mais de 9 milhões de turistas em 2019 e fechou o ano com um faturamento de cerca de US$ 2 bilhões. Já existe algum projeto/programa do governo tunisiano para minimizar as perdas dos profissionais do setor, ocorridas com a ausência de turistas no país?
O turismo em geral e a indústria hoteleira em particular são vítimas da pandemia de Covid-19 e do confinamento dos países. Na Tunísia, onde o turismo representa 14% do PIB, haverá um forte impacto econômico. Segundo dados oficiais, em 2019, a Tunísia atraiu cerca de 9,4 milhões de turistas, enquanto a receita total do setor atingiu quase dois bilhões de dólares, uma moeda forte, importante para o país.
É claro que o setor de turismo é o primeiro a ser atingido pela crise do coronavírus. É provável que ele também seja o último a iniciar o desconfinamento. Apesar da resiliência demonstrada em inúmeras ocasiões, o turismo tunisiano agora enfrenta uma situação sem precedentes.
O déficit em termos de receita do turismo é estimado em 6 bilhões de dinares em 2020. Esse número pode aumentar se não pararmos a propagação do vírus no mundo. A evolução da situação epidemiológica na Tunísia e em todo o mundo continua sendo a questão que mais preocupa os atores turísticos do país.
Para lidar com essa situação insustentável, as autoridades tunisianas estão acompanhando de perto e monitorando o desenvolvimento da epidemia em todo o mundo, especialmente nos principais mercados de origem, como os países europeus. Enquanto isso, os atores do setor querem apostar no turismo local e, nesse sentido, contar com o apoio do Estado para preservar as empresas e salvar os empregos.
Nesta perspectiva de recuperação gradual, o departamento de turismo elaborou um projeto de protocolo de saúde que funciona como um documento de referência, cujas instruções devem ser respeitadas e aplicadas nos diversos estabelecimentos turísticos, a fim de proteger os visitantes dos riscos de contaminação. Este protocolo, que teria sido validado e adotado durante um conselho ministerial restrito, também atua como garantia de confiança para os mercados que enviam turistas para a Tunísia, nos quais os principais países se basearão para autorizar ou proibir a viagens para a Tunísia. Na mesma linha, uma nova bateria de medidas de apoio a operadores turísticos, que foram desenvolvidas pelo departamento, será adotada e implementada em breve.
Citamos principalmente o estabelecimento de uma linha de crédito específica para o setor, com uma taxa de juros aprimorada e períodos de reembolso confortáveis, que permitirão às empresas envolvidas cobrir seus custos de administração e operação por um ano, contando desde março de 2020. O ministério também está preparando um plano de comunicação digital que visa promover a Tunísia como destino.
Embassy – Como o Egito, a Grécia e até as Maldivas, a Tunísia também anunciou seu plano de reabertura do turismo após a pandemia de Coronavírus. O país está pronto para recomeçar a receber turistas?
A vida está gradualmente voltando a normalidade na Tunísia, após quase dois meses de confinamento. O país está realmente no caminho certo para dominar a situação: por duas semanas, a curva de contaminação permaneceu estável. Pelo terceiro dia consecutivo, a Tunísia não registrou novos casos de contaminação pela pandemia. Nesse contexto, o governo já está refletindo sobre a crise pós-coronavírus. Entre suas prioridades estão a recuperação da economia e do turismo, um setor essencial para o país.
Os turistas argelinos representam cerca de um terço dos visitantes da Tunísia. Durante a temporada turística anterior, o país recebeu cerca de três milhões de turistas da Argélia, de um total de nove milhões de turistas de várias nacionalidades.
Terminada a crise, o governo da Tunísia promete facilitar a entrada de turistas argelinos. O governo trabalhará, após a crise do coronavírus, para facilitar ainda mais a entrada deles, mobilizando todos os meios necessários de prevenção e monitoramento da saúde.
A Tunísia também aumentará os esforços para melhorar as condições nos vários postos fronteiriços, também com o objetivo de facilitar os procedimentos para a entrada de argelinos em seu território.
Embassy – A Tunísia está em primeiro lugar no mundo árabe em ranking de liberdade de imprensa. Essa é realmente a realidade no país? A que isso se deve?
O Índice Mundial de Liberdade de Imprensa, compilado pela organização Repórteres sem Fronteiras (RSF), classificou a Tunísia no primeiro lugar dentre os países do mundo árabe em termos de liberdade de imprensa.
A Tunísia subiu 25 posições no ranking mundial de liberdade de imprensa pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), passando da 97ª em 2019 para a 72ª posição em 2020. O país é uma exceção neste ranking marcado este ano por uma regressão da liberdade de imprensa em vários países, incluindo nações democráticas.
A Tunísia continuou sua transição democrática e conseguiu estabelecer as bases para um setor de mídia livre, independente e pluralista. A jovem democracia tunisiana precisa de mais tempo para garantir total liberdade de informação.
Embassy – A Tunísia espera safra recorde de tâmaras esse ano. Esta expectativa se mantém?
A produção de tâmaras saltou nesta temporada em 18%, de 288 mil toneladas colhidas na temporada passada para 340 mil toneladas estimadas para a temporada 2019/2020.
A quantidade de tâmaras exportadas durante o período compreendido entre 1 de outubro e 21 de novembro ultrapassa 15.560 toneladas, um valor total superior a 117 milhões de dinares.
As exportações devem registrar, durante abril, maio e junho, uma queda de 20 mil toneladas, o que representa um déficit de 150 milhões de dinares em termos de receita, em um contexto marcado pela pandemia de Covid-19.
Embassy – Que tipo de produtos tunisianos chega ao consumidor brasileiro e como ficam as transações comerciais bilaterais?
A Tunísia vendeu o equivalente a US$ 15,5 milhões para o Brasil durante o período janeiro-abril de 2020 (- 34,9 %), principalmente adubos e fertilizantes químicos, sais e peroxossais, ácidos orgânicos e óleos vegetais.