Douglas Gavras e Aline Bronzati, O Estado de S.Paulo
Repleto de carências, que vão dos problemas para a gestão de resíduos ao baixo nível de saneamento, o Brasil é considerado um terreno fértil para a propagação de startups com “pegada verde”, as chamadas cleantechs. Das mais de 13 mil novatas que operam no Brasil, atualmente há 174 que aliam negócios com sustentabilidade. Embora ainda tímido frente ao todo, o número é quase o dobro na comparação com agosto do ano passado, quando apenas 96 novatas compunham essa lista, conforme mapeamento da Associação Brasileira de Startups (Abstartups).
O movimento, que teve início nos Estados Unidos, começa a ganhar corpo no Brasil. O motor vem do maior interesse de investidores, que passam a ver oportunidades de retornos tão atrativos quanto aos de startups tradicionais, e ainda por parte das grandes empresas, que têm buscado parcerias nesse universo (ler mais abaixo). “As grandes empresas são porta aviões e, para que cumpram sua missão, se utilizam das startups que atuam como caças para atacar alvos específicos”, compara o diretor do comitê de cleantech da Abstartups, Renato Pasquet.
Entre as principais áreas de atuação das startups verdes estão energia limpa, armazenamento de energia, transporte, água e agricultura. Em São Paulo, a CUBi, por exemplo, faz uma gestão inteligente de energia elétrica para o mercado industrial. O sistema criado pela empresa monitora onde e de que forma a eletricidade de uma fábrica é consumida , otimizando o processo.
“A CUBi nasceu durante um mestrado que fizemos nos EUA. Voltamos ao Brasil e começamos a levantar dinheiro em editais de inovação. No ano passado, entramos mais firmes no mercado”, diz um dos quatro fundadores, Ricardo Dias, de 29 anos.
No caso da Time Energy, em Campinas, no interior de São Paulo, a economia de energia também inclui o varejo. A startup atende a mais de 50 empresas, seguindo o modelo de desagregação do uso, em que é possível medir o consumo de diferentes setores para traçar planos de economia. “Ainda há muito desperdício. Se conseguimos fazer o mesmo trabalho com menos energia, não é preciso arcar com os impactos da construção de novas usinas”, diz o gerente de pesquisa da startup, Leandro Pereira, de 32 anos.
Segundo Hudson Mendonça, coordenador do LabrInTOS, laboratório de Inovação da Coppe/UFRJ, as startups verdes podem ter um papel ainda mais importante no cenário atual, em que o governo brasileiro é cobrado por agentes locais e do exterior a melhorar práticas de sustentabilidade e reverter os recordes de desmatamento vistos no governo de Jair Bolsonaro. “É plenamente possível conciliar uma política fiscal mais austera com o desenvolvimento de startups verdes de grande potencial de crescimento no País”, diz o pesquisador.