Após 25 anos de proibição, a China acaba de reautorizar parcialmente o comércio de chifre de rinocerontes e de ossos de tigres do país. A decisão foi submetida a diversas condições, mas existe o risco de reviver o tráfico dessas duas espécies já ameaçadas, de acordo com as associações de defesa da causa animal.
Por Stéphane Lagarde, RFI
Será que as crianças do futuro conhecerão os macacos, as girafas e os elefantes apenas através da leitura do Livro da Selva, de Rudyard Kipling? De acordo com o relatório da WWF publicado nesta terça-feira (30), o planeta perdeu 60% dos animais selvagens desde os anos 1970 – dados a serem levados em conta com a nova autorização chinesa relativa aos rinocerontes e tigres.
De acordo com a circular do Conselho de Estado chinês, assinado pelo Primeiro ministro Li Kegiang, o comércio e o uso do chifre de rinoceronte e de ossos de tigre serão, a partir de agora, submetidos a um pedido de autorização ligado às pesquisas científicas, como os estudos genéticos. O texto prevê que os chifres devem vir de rinocerontes criados em cativeiros e os ossos de tigres que morreram por causas naturais.
A venda do material permanece, portanto, proibida a menos que tenha fins de pesquisa. É a vitória do lobby médico contra as associações de proteção ambiental. “É uma boa notícia para a medicina tradicional, porque os ossos do tigre são benéficos para os pacientes. Primeiro, substituímos os ossos de tigre pelos de leopardos, até que esses últimos foram proibidos. Em seguida, passamos a usar os dos gatos, mas eles não têm o mesmo efeito”, explica Shi Xinde, médico da clínica Ren Yi Dang, do centro de Pequim.
Silêncio da parte das associações
Além do uso médico, algumas exceções podem ser feitas: caso os produtos sejam classificados na categoria “antiguidade”, para fins pedagógicos ou em “trocas culturais” aprovadas pelas autoridades chinesas. Os supostos efeitos afrodisíacos encontrados nos materiais já provocaram a morte de milhares de rinocerontes brancos e negros da África e de rinocerontes indianos e tigres de bengala na Ásia.
A nova regulamentação acaba parcialmente com a proibição promulgada em 1993, durante a adesão da China à CITES, a Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção. Uma decisão imediatamente condenada pela ONG WWF. O Fundo Mundial para a Natureza estima que “o retorno de um mercado legal desses produtos terá consequências devastadoras no nível mundial”.
Todas as associações de proteção animal contactadas pela RFI recusaram comentar o assunto – um incômodo silêncio da parte da WildAid ou da WWF de Pequim. Uma prova de uma certa censura e da pressão que essas ONGs sofrem na China. No fim da tarde desta terça-feira, a administração das florestas convocou as organizações de proteção de espécies ameaçadas para “explicar” a nova lei.