Liz Elaine Lôbo
Produção: Elna Souza
Em entrevista exclusiva à revista Embassy, o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil China, Charles Tang, confirma que as cooperações sino-brasileiras têm alcançado resultados abrangentes, num ritmo acelerado. Segundo ele, as alianças estratégicas e comerciais dos dois gigantes têm crescido muito desde que a fundação da Câmara, em 1986.
Charles Tang acredita que, no futuro, esse relacionamento bilateral será crucial na retomada econômica brasileira pós-pandemia. Ele fala que, atualmente, a entidade está concentrada em ajudar os governos estaduais e municipais a conseguirem comprar produtos de combate à Covid-19. Leia agora a íntegra da entrevista com Charles Tang
Embassy – Quais os principais fatores que explicam o crescimento econômico da China, ser tão competitiva comercialmente nas últimas décadas?
Desde Deng Xiaoping, a prioridade absoluta da China tem sido a de perseguir a prosperidade através de uma política econômica pragmática que incorporou a economia de mercado. O país sacrificou o dogma socialista de todo mundo igual, e como falou o Deng, deixe alguns prosperarem primeiro que os outros seguirão. A China teve que aceitar impactos ambientais na sua industrialização sabendo que na revolução industrial da Inglaterra, a atmosfera Londrina deixava a desejar. Foi com a prosperidade que conseguiram melhorar o seu meio ambiente. A China é hoje líder no desenvolvimento de energia renovável. O planejamento e o cumprimento deste planejamento ajudaram muito a traçar o caminho do país para a sua prosperidade.
Embassy – Na opinião do senhor, quais setores da economia vão se destacar após pandemia?
Já há alguns anos que a China faz a difícil transição de uma economia dependente de investimentos estatais e exportações para uma economia baseada no consumo. O país possui a maior classe média do mundo, de milionários e de numerosos bilionários. A China continua transformando a sua economia para ser uma economia de maior valor agregado. Em anos recentes, a nação passou também a ser o centro de inovações do mundo. Com o aumento de seus custos de produção, as próprias empresas chinesas também estão investindo em países de menor custo para suas indústrias de mão de obra intensiva. A China está a caminho de ser um país de “Created in China” do que somente “Made in China”. Sem dúvida China vai ser cada vez mais um país de inovação e de “High Tech”.
Embassy – Que precauções devem ser tomadas na hora de fazer negócios?
As empresas chinesas devem ter maiores cuidados quando conduzem seus negócios e investem pelo mundo para entender melhor os costumes e legislações de países de seu interesse. No Brasil, devem se atentar principalmente a legislação tributária, tão complexa. Muito ajudaria entender melhor o país e a mentalidade diversa da chinesa.
Embassy – Qual a importância do trabalho Câmara de Comércio nesse momento especial de pandemia e com a expectativa de uma grave crise econômica no Brasil, como também em quase todo o mundo.
A Câmara de Comércio e Indústria Brasil China foi fundada em 1986, por sugestão pessoal do então Vice Primeiro Ministro chinês, e conta com mensagens de apoio de próprio punho de presidentes do país. É a única Câmara legitima no Brasil. Durante estas décadas sempre concentramos em trazer investimentos chineses para o Brasil. Neste momento de pandemia, diante de numerosos episódios de compras que não serão entregues e de preços abusivos, estamos concentrados em ajudar os governos estaduais e municipais a conseguirem comprar produtos de combate a covid-19 com a ajuda das empresas, nossas associadas, de ambos os países. Além deste importante trabalho continuamos a trazer investimentos e empréstimos chineses ao Brasil e investirem em empresas brasileiras.
Embassy – De que forma poderia haver uma relação bilateral, Brasil-China, ainda mais positiva? Quais são as perspectivas de futuro?
As Alianças Estratégicas e Comerciais dos dois gigantes têm crescido muito desde que a fundação da nossa Câmara. A viagem feita pelo Presidente Bolsonaro à China foi importante porque voltou impressionado com o país que ele viu. O relacionamento que desenvolveu com o Presidente Xi Jinping foi o que conseguiu a participação das petroleiras chinesas no último leilão de blocos de petróleo. Sem elas, teria sido um leilão somente para a Petrobras e sem ingresso de divisas. A perspectiva para o futuro, esse relacionamento bilateral será crucial na retomada econômica brasileira pós-pandemia.
Embassy – Em que setores da economia brasileira a China poderia ajudar nesse momento de dificuldade?
O Brasil se beneficiou muito com a guerra comercial entre os EUA e China. Durante esta guerra o Brasil exportou quase 90% de sua safra de soja e aumentou a venda de proteína animal também em função da gripe suína. O Agro que sustenta a nossa economia é dependente das compras pela China. As empresas de inovações Hi Tech chinesas já investiram no Brasil e poderão investir muito mais. O competente secretário Marcos Troyjo, do Ministério de Economia, será o novo Presidente do New Development Bank sediada em Shanghai. Certamente, um brasileiro na presidência do banco facilitaria a comunicação das necessidades brasileiras.
Embassy – A Câmara de Comércio está fazendo alguma ação social no Brasil para ajudar os menos favorecidos?
Como falamos acima, estamos empenhados em ajudar salvar vidas para garantir que maior número de respiradores comprados, de fato, seja entregue e as cenas de seres humanos morrendo sufocados nos corredores de hospitais sejam reduzidos. Na atual crise de saúde, a China tem ajudado com doações de produtos e de equipamentos.
Embasy – Os empresários chineses têm alguma dificuldade de entrar no Brasil, existe alguma resistência do empresariado brasileiro? Houve uma mudança na mentalidade deles em relação à China nos últimos anos?
Não temos notícias de dificuldades enfrentadas por empresários chineses no Brasil. Sabemos que alguns brasileiros, talvez por amar outros países acima do seu próprio, agem contra os interesses nacionais. O Lord Palmerston, duas vezes Primeiro Ministro da Inglaterra, em seu discurso para o parlamento britânico, em 1848, nos ensina que nações não tem amizades permanentes, mas sim interesses nacionais. Ele também disse que os cidadãos têm o dever de defender os interesses de seu país.
É indiscutível de que o interesse do Brasil é o estreitamento de relações com a China. É o maior parceiro comercial, que hoje pode comprar mais dos EUA e menos do Brasil, uma vez que as economias brasileira e chinesa são complementares, enquanto o Brasil tem a economia americana como concorrente. Devemos lembrar também que a China produz quase 90% dos armamentos que necessitamos para combater o inimigo da humanidade – a Covid-19.
No passado, na pior fase da crise econômica do Brasil, a China confiou e apostou no nosso país. Investiu mais de US$ 20 bilhões na época e criou o fundo de investimento em infraestrutura de igual valor. Também emprestou um adicional de US$ 15 bilhões à Petrobras quando a empresa se encontrava no fundo do poço e o rating do Brasil havia desabado. Esses empréstimos e investimentos, aliados aos generosos superávits no comércio bilateral, ajudou o Brasil a ter invejáveis reservas em divisas que superam US$ 350 bilhões. Quantos brasileiros foram ajudados a manter seus empregos e certamente o país saiu mais cedo da crise em função disto. No futuro, na reconstrução da economia brasileira pós pandemia, certamente China poderá colaborar na construção da infraestrutura, base de desenvolvimento, e das necessidades prementes do país como saneamento e outros.
Embassy – Como está o andamento do fundo comum criado em 2016 pelos governos de Brasil e China para investimento nas obras de infraestrutura inacabadas no país?
Com fundos de US$ 20 bilhões para a infraestrutura, certamente está ajudando muito o Brasil, país com tanta deficiência nesse setor.